Poderá ter sido uma vitória de Pirro no Irã para as forças do Ayatollah Ali Khamenei. Em táticas de regime acuado, mas que ainda dispõe de recursos consideráveis, no Dia da Revolução Islâmica, o regime clerical conseguiu evitar que surgissem nas ruas as multidões de jornadas anteriores, como no de Ashura e no dos Mártires Estudantes.
Como referi no blog precedente – O Estado Policial dos Ayatollahs, de dez do corrente - além da intimidação generalizada, a situação procedera a uma série de prisões, em aparência indiscriminadas, posto que dirigidas para desmantelar a capacidade de organização do movimento oposicionista.
Assim, nos parcos relatos de testemunhas disponíveis– os poucos repórteres estrangeiros autorizados foram confinados na praça Azadi (da Liberdade), onde trascorria a manifestação governamental - o número de policiais e da milícia basij era enorme. Com essa articulação repressiva – que chegou ao quase linchamento da esposa de Mir Houssein Moussavi, Zahra Rahnavard, de 65 anos. Atacada pelos beleguins basij, sofreu bastonadas na cabeça e nas costas, e teve de ser retirada às pressas por simpatizantes do movimento verde.
Também os líderes Moussavi e Mehdi Karroubi foram impedidos de chegar ao centro da cidade. O carro de Karroubi foi atacado e teve as vidraças quebradas. A passagem deste para outro carro não logrou evitar a continuada repressão. Karroubi sofreu queimaduras no rosto pelo gás lacrimogêneo. Por outro lado, a viatura do ex-presidente reformista Mohamed Khatami foi igualmente investida.
Com vistas a dificultar os contatos do movimento, houve interferência na internet, com a consequente lentidão. Dessarte, à preparação da véspera, com os costumeiros gritos oposicionistas dos terraços e telhados dos edifícios, clamando ‘morte ao ditador’ não se seguiu a confrontação nas ruas e praças, impedida pela maciça concentração dos destacamentos governistas.
Em mais uma indicação da considerável radicalização de parte da aliança de Khamenei com o Exército e a Polícia, os dois enforcamentos realizados às vésperas do Dia da Revolução, foram motivados pela acusação de ‘mohareb’ (inimigo de Deus), considerada a mais condenável ofensa na religião xiita e, por isso, passível de pena capital. Como disse um defensor dos infelizes justiciados, o regime se deve sentir muito acuado para recorrer a uma acusação tão grave do credo xiita. Não é preciso muito estudo de Freud para determinar a indireta confissão de temor e fraqueza que implica o recurso à penalidade tão extrema.
Conforme se depreende, a luta contra a ditadura clerical no Irã muito há de exigir da oposição reformista para o eventual sucesso do movimento. Apesar da ampla intimidação da resistência e do acirramento das táticas repressivas, as perspectivas indicam um longo combate com a vitória final da maioria do povo iraniano. Por mais violenta que seja a repressão, a história nos ensina que as tiranias não se eternizam, acabando por desmoronar como o castelo de cartas que são, pois, por mais que se empenhem na sua triste faina, jamais conseguirão dominar a revolta generalizada da população.
Os fuzis admitem muitos empregos, menos sentar-se sobre eles. Além disso, não se deve esquecer que são homens aqueles que os manejam. Eis as duas principais fraquezas que respondem pelo destino final de todas as ditaduras.
( Fontes : O Globo e CNN )
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
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