sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Por que Orlando Zapata escolheu a Morte

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava no lugar errado na hora errada. A homenagem a Fidel Castro faz parte de um ritual de sua geração, por aquilo que o comandante terá significado em hora difícil para a América Latina.
Neste preito havia uma contradição, que o perigo maior da ditadura militar obrigava a relevar. Nem por isso a antinomia deixava de existir. Pois na verdade, se os admiradores do líder da revolução cubana vivessem naquela ilha e buscassem aí realizar os fins a que se propunham nos respectivos países, acabariam em masmorras não diferentes das dos regimes castrenses então imperantes na maior parte do subcontinente.
A seleção natural darwineana não se confina ao reino animal. O tempo, esta ilusão da realidade humana, é o carrasco daqueles que ousam ignorá-lo. Para os que não atentam para a sua impiedosa realidade, está reservado destino cruel, o da morte em vida. Em outras palavras, a crescente e inexorável irrelevância.
Para os que têm a felicidade de viver longe do jugo de um declinante personagem, posto que ainda demasiado atuante, pode parecer apenas espetáculo similar ao das efígies de cera de Madame Tussaud.
Aos distintos visitantes que para lá se abalam para os litúrgicos cumprimentos, a autocracia dispensa especiais atenções. A imagem de Lula, os olhos apertados em reminiscente emoção, diante do símbolo ainda preservado, se afigura mais veraz e eloquente do que muitos discursos.
Diante de tais encenações, surge a figura incômoda de Orlando Zapata.Sua morte antecipada, não foi ele quem a decretou. Vítima da liberdade e da luta contra os tiranos, ele é mais do que um símbolo na própria indômita tenacidade. Para os eternos otimistas da progressão humana, Zapata é um mônito para a triste permanência dos déspotas e ditadores, erva daninha que os séculos ainda não lograram exterminar.
As Parcas quiçá lhes ensombreçam o olhar, não obstante os esforços da medicina. Acaso a eventual presença à sua volta de cultores de passadas ilusões, há de servir-lhes de algum lenitivo ? Pelo sofrimento que os esgares mal dissimulam, semelha pouco provável.

Um comentário:

Mauro disse...

Texto muito bom, embora um pouco compreensivo. O arbítrio não tem justificativa hoje ou ontem. Na verdade Lula estava no lugar certo e na hora certa para escolher não ser um estadista.