quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Ocaso do Caudilho Chávez

Na tradição venezuelana das longas dominações por caudilhos, a presença de Hugo Chávez Frias no poder ainda não impressiona pela duração, se nos ativermos aos padrões das ditaduras nos séculos XIX e XX.
E, não obstante, os precedentes, a posição do coronel Hugo Chávez não mais impressiona pela robustez do regime. Talvez o erro principal e quiçá fatídico de Chávez não esteja no seu autoritarismo, e na divisão do país em duas partes inconciliáveis, as classes C,D, e E contra a A e B.
Fundado na benesse das altas cotações do barril de petróleo, Chávez embarafustou em um projeto personalista e megalomaníaco de formação de um bloco externo. A sustentação desse heterogêneo agrupamento se deu através dos recursos procedentes do principal produto de exportação da Venezuela. Por meio da cessão de petróleo em caráter subsidiado, participaram da aliança bolivariana, liderada pelo coronel, Cuba, a Nicarágua de Ortega, a Bolívia de Evo Morales e o Equador de Rafael Correa. Honduras, durante a presidência de Zelaya, esteve igualmente no grupo. No Cone Sul, participa o Paraguai, de Lugo. Por fim, a Argentina dos Kirchner, é simpatizante com direito a eventuais vantagens, sobretudo em época de eleição.
O problema desse projeto pessoal do Presidente Hugo Chávez é que foi desenvolvido com os recursos finitos da Venezuela, advindos de cotações elevadas do barril de petróleo, que hoje é coisa do passado. Além disso, não terá escapado ao arguto caudilho que esses petrodólares investidos no programa bolivariano eram dispendidos em detrimento das carências da Venezuela e de seu povo. Como toda jogada político-econômica, teve um preço determinado.
Agora, com a longa estiagem – que não estava nos planos do governo - a fonte hidrelétrica das usinas venezuelanas não se acha em condições de atender à demanda das indústrias nacionais e de seus habitantes. Por outro lado, a escassez de água também se reflete em seu fornecimento para os usuários do precioso líquido. Os consequentes racionamentos, a princípio explicados por absurdos pretextos (falta de investimentos dos antecessores de Chávez) e em atmosfera de disposições contrastantes e pouco transparentes, só tenderam a mais debilitar a imagem do presidente, pela sua óbvia responsabilidade com respeito ao problema.
Com efeito, como uma administração que está onze anos no poder se atreve a tentar empurrar a culpa da falta de investimentos e de obras no setor energético a seus agora longínquos predecessores ? Por outro lado, nessa política de cigarra – com milhões de dólares disseminados em vácuos projetos de prestígio e interesse pessoal – Chávez perdeu preciosa oportunidade de adequar a respectiva infraestrutura para os previsíveis desafios do futuro.
O desfazimento do apoio interno a Hugo Chávez se pode igualmente visualizar nos diversos companheiros do chavismo que ora abandonam sem cerimônias a nave do comandante. Esta crise do regime – que ainda não é a terminal – se anunciou com as renúncias do peso pesado Ramon Carrizález à Vice-presidência e ao Ministério da Defesa, e da Ministra Yuribi Ortega, ambos por motivos ‘estritamente pessoais’. Em seguida, saíu da mesma forma Eugenio Vásquez, presidente do recém-estatizado Banco da Venezuela.
Agora, se demite o Ministro da Saúde, Carlos Rotondaro, a que se atribui insatisfação com ingerência de cubanos no seu ministério.
Há outros problemas para Chávez. A inflação – a mais alta do subcontinente; a recente desvalorização do bolívar; as nacionalizações de diversas empresas, com a consequente atmosfera desfavorável às inversões estrangeiras; o crescimento da violência; cancelamento de licença a estações de tevê, com repercussão na opinião pública; protestos no meio estudantil etc.
Às vésperas das próximas eleições legislativas – e desta feita, ao contrário do erro anterior, a oposição batalhará pelas cadeiras na Assembleia, atual propriedade do movimento chavista – todo este caldo não pressagia bons ventos para o coronel.
O seu dileto amigo brasileiro – o companheiro Lula – malgrado o apoio verbal e a cooperação demonstrada , não há de ser de muita valia nesta hora difícil para o caudilho.
Se é cedo para escrever o epitáfio político de Hugo Chávez, poucos encaram como sério o propósito do coronel de bisar os onze anos na presidência. E, por certo, a pobre Venezuela não merece esse tipo de generosidade.
( Fonte: Folha de S. Paulo)

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