quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Tirania no Irã

O endurecimento do regime tirânico no Irã atinge um grau que sequer fora atingido pelo Xá Reza Pahlevi, na sua luta contra o movimento revolucionário liderado pelo Ayatollah Khomeini. Com efeito, ora os juízos públicos não são apenas para fins de espetáculo.
Decerto a gravidade da contestação inquieta o Líder Supremo Ayatollah Khamenei e seu presidente Mahmoud Ahmadinejad. Não só dois condenados por crimes políticos já foram enforcados, mas vários outros foram abatidos pela polícia e a milícia baseji, a par dos mortos nos porões da repressão.
Agora se anuncia oficialmente mais nove condenações a morte. A data do enforcamento não foi precisada, e atinge a pessoas que participaram das manifestações posteriores às eleições fraudulentas de junho de 2009.
A brutal reação do governo teocrático tem claro intuito intimidatório, tendo em vista mormente a próxima data de onze de fevereiro, que é o feriado comemorativo da Revolução Islâmica de 1979. Nesse sentido, o estamento dominante se propõe atemorizar os potenciais manifestantes contra o atual regime, a exemplo do ocorrido em datas anteriores, que foram utilizadas pela oposição como vetores de protesto.
A esse respeito, o candidato esbulhado nas eleições de junho, Mir Hussein Moussavi, postou entrevista no seu site da internet, em que declara ser ditatorial e aterrorizante o comportamento dos atuais governantes iranianos.
Em seus comentários, acrescentou Moussavi: “A maioria do povo acreditava no começo da revolução que as raízes da ditadura e do despotismo tinham sido abolidas. Eu fui um deles. Mas agora não tenho as mesmas convicções. Pode-se ainda encontrar elementos e raízes que conduzam à ditadura.”
A impressão de observadores é de que o grosso do movimento opositor tem exigências mais radicais do que as dos seus líderes, como Moussavi e Karroubi. Em muitas bandeiras de manifestantes desapareceu o adendo da palavra Allah, que fora acrescentada por Khomeini ao pavilhão nacional.
A moderação de Moussavi teria implicado na perda de partidários ao seu movimento. Com a relativa radicalização de sua retórica, o antigo primeiro ministro de Khomeini se reaproxima do movimento popular, posto que persista em reiterar que a Constituição elaborada após a vitória da revolução de 1979 deve continuar no centro das postulações do movimento oposicionista. Em outras palavras, Moussavi não questiona a tutela pelo poder clerical.
A dinâmica das revoluções se caracteriza pela sua progressiva radicalização. Os moderados iniciais costumam ser superados ou substituídos pelos jacobinos e a tendência só acena em estabilizar-se quando os objetivos revolucionários ou são atingidos ou o poder estabelecido logra reprimi-los e destrui-los.
É o que presentemente assistimos no Irã. De parte a parte, a tônica se vai alçando, no intento de alcançar o respectivo objetivo.
De todo modo, a situação em Teerã, a despeito das bazófias oficiais, entra em período de crescente fluidez. Nesse contexto, a pergunta que se impõe, no que concerne ao governo brasileiro, é a seguinte: mesmo sem entrar nos aspectos éticos da questão, acaso se afigura oportuno estreitar relações com esse regime enfraquecido, e em luta mortal cujo resultado parece longe de estar definido em seu favor ?

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