domingo, 21 de fevereiro de 2010

Colcha de Retalhos XXXVIII

A luta de Yulia V. Timoshenko

Candidata à Presidente da Ucrânia nas eleições de sete de fevereiro corrente, Yulia V. Timoshenko, terá sido derrotada por Viktor F. Yanukovich, líder do partido das Regiões, por uma diferença de apenas 3,5 pontos percentuais.
Como se sabe, em função da chamada revolução laranja, Yanukovich fora forçado em 2004 a renunciar à presidência, sob suspeita de fraude eleitoral generalizada.
Desta feita, apesar de instada a fazê-lo, a candidata nacionalista Yulia Timoshenko se recusou a conceder a vitória ao rival Yanukovich (considerado pró-russo). Os observadores internacionais presentes aos comícios julgaram-nos livres, e genuino seu resultado. Nesse sentido, diversos líderes – entre os quais Obama – já cumprimentaram Yanukovich.
Timoshenko entrou com ação junto à Corte Administrativa Superior, em que apela contra o resultado, alegando fraude eleitoral em larga escala. A Corte fez saber que decidirá sobre a apelação a 25 de fevereiro, justamente na data prevista para a posse de Yanukovich (que será, portanto, adiada).
Solicitada por Yanukovich a renunciar ao cargo de Primeiro Ministro, Yulia Timoshenko igualmente se negou. Entrementes, se inicia luta política entre as duas coalizões. Assim, o partido de Yanukovich procura novas alianças, para reunir os votos necessários (226 sufrágios em um parlamento de 450 membros) a um voto de desconfiança no gabinete da Sra. Timoshenko.
Por sua vez, a nacionalista – que passou a mostrar penteado com trança camponesa como sinal de sua opção patriótica, após a revolução laranja – Yulia se empenha em combate tanto judicial, quanto parlamentar, em que, ao contestar o triunfo do adversário, busca enfraquecer a aliança contrária e se preparar para um eventual novo turno eleitoral.


O gosto japonês por espécies ameaçadas

Segundo se veicula, o Japão não pretende participar de nenhum acordo internacional que vise a banir o comércio do atum azul (bluefin tuna) do Atlântico. É notório que a pesca industrial de explotação desta espécie causará a sua breve extinção.
Nesse contexto, se inserem os esforços das Nações Unidas para tentar preservar o que resta dos anteriores profusos cardumes do prelibado peixe.
O negociador japonês, Masanori Miyahara, se recusa a participar do entendimento: “É uma pena, mas é uma questão de princípio.”
Segundo o senhor Miyahara, essa espécie de atum seria da competência da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico, e não da Convenção das Nações Unidas do Comércio em Espécies ameaçadas da Fauna e da Flora Selvagens (Cites).
Obviamente, com isso a importação para as mesas dos consumidores japoneses prosseguirá, até presumivelmente a extinção de mais esta espécie marinha.
Essa postura que ignora os deletérios efeitos dessa pesca industrial nada tem de original, no que concerne aos japoneses. A atitude do senhor Miyahara é apenas mais outra decorrência das preferências dos consumidores do Império do Sol Nascente.
Conquanto a situação das baleias tenha sido melhorada, pelo embargo internacional à caça predatória deste mamífero marinho, os japoneses ainda se escudam em uma quota científica para suposta pesquisa de trezentas baleias por ano.
O empenho nipônico na matéria – que acoberta o especial gosto da população pelo consumo dessa carne – pode ser sentido nos embates entre os mastodônticos navios de caça do Japão e as corajosas, mas pequenas, embarcações do Greenpeace, na sua altruista batalha em prol das longínquas parentes da tão malfalada Moby Dick.

O Calvário da Grécia

O ingresso da República Helênica no privilegiado clube do euro foi conseguido menos pela robustez econômica da economia grega, do que pela sua proverbial habilidade mercantil e financeira. Ao abandonar a histórica moeda dracma, a Grécia perseguia uma ilusão consumista, que, após alguns anos de uma existência que antes chamaríamos de viver à tripa forra, vem agora bater à porta dos responsáveis de turno pela administração grega, no caso os socialistas.
Com a explosão do déficit helênico muito além dos três por cento supostamente aplicados pela União Europeia, e a notória situação extrema de Atenas no grupo dos chamados Piigs – acrônimo dos paises mais endividados da U.E. (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) – um diretório europeu, liderado por Alemanha e França, deram prazo para que o governo grego lograsse aquilo que jamais antes fora conseguido.
Em outras palavras, sanear a economia, reduzindo a dívida a totais aceitáveis em termos comunitários.
Não tendo outra opção, o gabinete Papandreou se propõe apertar o cinto, o que significa reduzir o deficit de 12,7% para 3% em 2012, consoante a exigência da U.E. Assinale-se que atualmente as reservas gregas são de sete bilhões de euros, e a divida de... 300 bilhões.
No regime de desperdício que caracteriza a U.E. – basta ver o número de comissários sob a presidência do português José Manuel Barroso – e os gordos subsídios antes fornecidos por Bruxelas, cuja obtenção era bastante facilitada pela falta de controle de parte da autoridade comunitária, basta um exemplo entre muitos, a esse respeito.
Agora, Bruxelas exige devolução de 375 mil euros de associação de produtores de azeite da Ilha de Creta. Conforme noticiado, a associação mentiu tanto sobre o número de oliveiras plantadas, que se faria necessária uma linha de 144 km de Creta à ilha de Santorini para fornecer o espaço indispensável ao suposto plantio.
É evidente a responsabilidade dos cidadãos e da autoridade helênica. Mas muitos de tais abusos e farsescos contos do vigário só são críveis defronte da espantosa incompetência, negligência e eventual cumplicidade daqueles que deveriam zelar pelos fundos comunitários e sua apropriada aplicação.

(Fontes: International Herald Tribune e O Globo)

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