terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Desafio Iraniano

A Secretária de Estado, Hillary Clinton, em encontro tipo town hall[1] com estudantes da Universidade Carnegie Mellon, em Doha, ocupou-se do crescente poder exercido no Irã pelos Guardas Islâmicos Revolucionários.
Com efeito, o Exército iraniano vem extendendo consideravelmente a respectiva influência, valendo-se de sua aliança com o estamento clerical e as forças de segurança. Os Guardas Revolucionários, além de dominarem o programa nuclear, se apossaram de largas faixas na área econômico-industrial e política.
Conforme a visão prospectiva da Secretária Hillary, os órgãos do governo iraniano – o Lider Supremo, o Presidente, o Parlamento – estão sendo suplantados pelos Guardas Revolucionários. Ao marginalizar as lideranças clerical e política, o Irã se estaria movendo para uma ditadura militar.
Em linguagem franca, que recorda a pregação da candidata das primárias democratas, ora falando pela Administração Obama, Hillary assegura aos aliados no Golfo a proteção americana contra a ameaça iraniana.
Ressalta a franqueza da linguagem da Secretária de Estado, atendidos os estreitos laços do emirado de Qatar com Teerã. Instada pelo público estudantil do ‘town hall’, declarou que os Estados Unidos não planejam ação militar contra o Irã. Sem embargo, ressurge o discurso de linha dura da antiga candidata presidencial, com a previsão de medidas mais severas contra os Guardas Islâmicos. Dessarte, se pretende introduzir medidas que atuem como uma cunha entre o Iraniano médio e a privilegiada e corrupta classe dominante.
Nesse sentido, o Departamento do Tesouro estadunidense congelou os haveres de quatro companhias controladas pelos Guardas Revolucionários, bem como as sob a jurisdição do General Rostam Qasemi, i.e., um conglomerado de empresas de construção e engenharia.
Com vistas a tornar mais eficazes as sanções, se encara a possibilidade de individuar atividades econômicas específicas sob a gerência dos militares. Igualmente com o propósito de viabilizar a aprovação das sanções do Conselho de Segurança, há a intenção de solicitar ao rei Abdullah da Arábia Saudita que reponha a Beijing o fornecimento de petróleo de procedência iraniana, porventura ameaçado pela eventual adesão da RPC as sanções contra Teerã propostas por Washington.
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Já no campo interno iraniano, reina certo desânimo na oposição reformista. Tal se deve ao relativo malogro das manifestações do dia onze de fevereiro, que não mantiveram a progressão registrada em dias anteriores, como o de Ashura e o dos Estudantes Mártires.
O êxito do governo se deveu à onda de prisões, à política de intimidação, e a disposições de efetivo controle da multidão. Dentro do movimento oposicionista, se ressente a falta de uma liderança mais afirmativa, dado o caráter moderado tanto de Mir Hussein Moussavi e do clérigo Mehdi Karroubi. Nesse particular, os dois candidatos às eleições fraudulentas de doze de junho não motivam larga faixa estudantil, que tem manifestado a sua preferência ao eliminar a palavra Allah da bandeira iraniana, e ao propugnar a independência da tutela clerical instituída pelo Imã Ruhollah Khomeini.
O tropeço de onze de fevereiro do movimento revolucionário – depois da série de sucessos marcados por grande adesão popular – pode ser apenas uma pausa no avanço da contestação ao regime dos ayatollahs. Há obvia necessidade de uma reestruturação da resistência, dadas as falhas na organização das manifestações de protesto.
Por outro lado, na dinâmica revolucionária, a liderança verde de Moussavi e a de Karroubi não parece satisfazer às necessidades da aglutinação das forças contrárias ao regime. A pergunta que se impõe é se, no contexto da lógica de tais movimentos, surgirá nova liderança carismática, ou um dos atuais chefes evoluirá na radicalização, atendendo às exigências do momento.

( Fonte: International Herald Tribune )
[1] Encontro em que o orador interage com o público, que tem a faculdade de colocar perguntas. O formato lembra o de uma assembleia, daí a designação town hall.

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