A Moça da Janela (4)
A pausa que interveio não resultou, porém, de nenhuma determinação sua em especial. Por uma série de fatores ele sequer teve tempo de lembrar-se do casarão e da moça da janela.
Dias depois a vontade voltou. Contrafeito, sacudiu a cabeça, como se aquele gesto bastasse para livrá-lo de um hábito sem sentido.
Debalde. Por mais que se dispusesse a ignorar o desejo, algo empurrava para que tornasse ao posto de observação.
Depois se aperceberia que acontecia sempre à tardinha, quando o sol se punha lá para os lados da Pedra da Gávea.
Por duas vezes seguidas, topou com a janela fechada. Aquilo o aborrecia, mas não era bastante para convencê-lo a que deixasse de lado o costume.
Costume ? Pela insistência, pela necessidade que de novo sentia, aquilo tinha outro nome...
Obsessão ? Seria mesmo ? Às vezes pecava por tendência a dramatizar coisas na verdade banais... Aquilo não passava de um jogo sem maior importância...
Será difícil determinar se ele acreditava nas razões que alegava.
O fato é que não desistia. Sozinho em casa àquela hora, voltaria à carga.
Quando enfim aconteceu, sentiu-se gratificado. Era como se o visitasse a alegria do ansiado reencontro.
Assim, procurou acercar-se do ponto mais próximo em uma linha imaginária até a visão, através da entreaberta veneziana, da moça na janela.
Ansioso em estabelecer contato, tratou de abrir as vidraças do balcão e estender o braço na sua direção, em gesto que seria absurdo ou incompreensível, para outra pessoa que não ela.
Não houve reação para os seus movimentos.
Exasperado, não desanimou. Por mais uns instantes, tentou conseguir alguma resposta.
Até que, de repente, não mais distinguiu vivalma por trás da janela aberta.
Perplexo, ficou olhando para o batente da veneziana. Tinha a impressão de que ia e vinha, quem sabe levado para alguma corrente de ar.
‘Amanhã, vou dar um jeito nisso.’
Como, José não sabia. A decisão, contudo, estava tomada.
( a continuar )
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
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