Depois da prisão do governador José Roberto Arruda, por sentença do Superior Tribunal de Justiça, o Vice-Governador Paulo Octavio, que exercia a governança interina, resolveu renunciar ao mandato e abandonar a nave do DEM. Politicamente isolado, suspeito – mas sem as notórias provas de vídeo – de participação no escândalo do terceiro mensalão – depois dos do PT e do PSDB - Paulo Octavio renunciou por falta de mínimas condições políticas para permanecer no cargo. Toda a dócil maioria de quem Chico Caruso apropriadamente alcunhou de Tolo Arruda, em súbito assomo de respeito ao decoro, não mais o reconhecia como herdeiro do ‘chefe’, ora em prisão preventiva na Polícia Federal.
Em doze dias, assume um terceiro governador. Este novo interino era o novel presidente da Câmara Legislativa do D.F., Wilson Lima (PR) que entrara no lugar do deputado das meias, Leonardo Prudente (DEM), igualmente flagrado pelas câmeras de Durval Barbosa (delator premiado).
Em entrevista ao Correio Braziliense, quando já calçava os coturnos da governança, fiado nos primeiros acenos de renúncia de Paulo Octavio, Wilson Lima fornece indicação ao eventual de o que se pode esperar deste fiel partidário do governador afastado – e do nume tutelar Joaquim Roriz. O seu currículo é retrato de comovente ascensão, da pobreza do picoleiro ao atual proprietário de império empresarial que reúne construtoras, hotéis e shopping centers na capital federal. Acedera em suceder a Prudente a instâncias de Arruda. Deputado em terceiro mandato, aspira a ser designado ministro do Tribunal de Contas local.
O Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, bem resumiu o significado da renúncia de Paulo Octavio:
“A rigor, não muda nada. O pedido de intervenção federal se fundamenta na falência generalizada das instituições no D.F., que será julgado em março pelo Supremo Tribunal Federal.”
A propósito o colunista Merval Pereira, nos reporta que “todas as indicações são de que o Supremo Tribunal Federal não está com ânimo de decretar a intervenção no Distrito Federal”.
Não é necessário ser nenhum Marco Túlio Cicero para clamar “Até quando abusarás de nossa paciência ?” . O famoso Quousque tandem do Cônsul Cícero se referia ao conspirador Catilina, mas o que nos impede de transpô-lo, cerca de vinte e dois séculos depois, à deplorável situação que vige no Distrito Federal, diante da ‘falência generalizada de suas instituições’, assim definida pela autoridade competente ?
É de esperar-se que o S.T.F. não se renda ao espírito timorato dos que se arreceiam das graves, mas necessárias intervenções. A visão deprimente da atual situação no D.F. – que quadro mais apropriado do que a polícia montada investindo contra os estudantes que se manifestavam pelo respeito da lei – já fornece a justificativa de intervenção para valer nessas cavalariças de Áugeas.
Sob a sombra do poder federal devem ser construídas instituições dignas deste nome. E não esse arremedo de governo, que nada fica a dever, na ética e no nível intelectual, a esquecidos grotões dos ainda sobreviventes do coronelato interiorano.
(Fonte: O Globo )
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
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