sábado, 27 de fevereiro de 2010

Secos e Molhados

Ameaça Inflacionária ?

Medida pelo IGP-M para este fevereiro, a inflação surpreende por retornar a níveis a que desde muito o brasileiro se desacostumara.
Com efeito, o IGP-M deste mês ascende a 1,18%. Dessarte, é a primeira vez desde o aceso da crise financeira internacional, em outubro de 2008, que a inflação supera o rendimento dos principais tipos de investimento.
Para os conservadores DI – que investem em títulos públicos pós-fixados e acompanham a taxa básica de juros Selic – atualmente em 8,75% ao ano – a perda, com o desconto da inflação, está orçada em 0,67% do poder de aquisição do dinheiro empregado.
Já para a caderneta de poupança, a perda de poder aquisitivo será ainda maior: corresponde a 0,69% a diminuição relativa ao poder de compra.
Não é necessário ser especialista em economia e finanças para prever o que acontecerá na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM). Dada a pressão inflacionária, afigura-se muito provável que a taxa Selic venha a ser aumentada, já na sua próxima reunião, prevista para 16 e 17 de março.
Conquanto não seja possível estimar o percentual do aumento, pode-se sem dúvida garantir que o viés a ser indicado pelos conselheiros estará apontando para o incremento, dadas as características eleitorais do ano de 2010.
As próprias declarações do Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deixam claro que as taxas podem subir no curto prazo. Segundo ele, a conduta do BC não sofrerá mudanças em função das eleições, e, por conseguinte, o Banco poderá tomar “decisões antipáticas ou impopulares”, vale dizer, alçar a taxa de juros.

O Desafio da Crise Grega

Jacques Attali, antigo auxiliar direto do Presidente François Mitterrand e primeiro Presidente do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimentol, mostra em artigo publicado pelo Herald Tribune que a crise financeira da Grécia pode acelerar uma reforma mais do que necessária na organização da União Europeia.
Os problemas ora enfrentados pela zona do euro – cuja criação data dos anos noventa – não constituem surpresa para as autoridades financeiras europeias. Desde o início, consoante frisa Attali, tornou-se claro que a nova moeda não se sustentaria sem um ministério europeu de finanças, que procedesse à coordenação de políticas tributárias e fiscais para toda a zona do Euro.
Se a queda do Muro deu prioridade à agenda comunitária de ampliação, ao invés da de aprofundamento da união europeia, a situação criada – e a crise grega e dos demais ‘piigs’- enfatiza o despautério de união com banco central e moeda única, mas despojada de ministério de finanças para coordenar as políticas tributárias e fiscais em uma série de estados soberanos.
O desafio criado pela situação falimentar da economia grega – e a possibilidade de reação em cadeia que mimetize, no caso de uma falência nacional declarada, o que aconteceu na economia internacional com a crise financeira decorrente das hipotecas subprime e a falência do Banco Lehman Brothers.
Se a moeda única era a única opção para a Europa dispor de um único mercado, ora torna- se igualmente indispensável a coordenação das políticas tributárias e fiscais, caso se deseje que o Euro possa sobreviver como moeda forte.
Desse modo, como todos os estados partícipes têm muito a perder, já se inicia uma coordenação de facto dessas políticas. E é bastante provável que dessa coordenação se evolua para a institucionalização – um Ministério Europeu das Finanças para complementar o Banco Central Europeu.
Nas palavras de Attali: “ Da Grécia nasceu a Europa. E a crise grega será, enfim, a parteira da plena realização do projeto Europeu.”
É um juízo otimista, posto que realista, das perspectivas existentes. Não foge a nenhum observador, contudo, a possibilidade de involução marcada pelo pessimismo. Se as crises soem manifestar-se a partir dos pontos mais débeis, está no interesse dos participantes a criação de condições tendentes ao fortalecimento da zona do Euro, para que o descalabro não vá atingir a todos indiscriminadamente.
( Fontes: O Globo e International Herald Tribune )

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