Amanhã, onze de fevereiro é feriado importante para o Irã. Celebra-se o 31º aniversário da queda do Xá Reza Pahlevi e da vitória do regime instaurado pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini.
Por isso, o atual governo presidido pelo Líder Supremo, Ayatollah Ali Khamenei, tem medo. Teme sobretudo que se repitam e se reenforcem as manifestações e passeatas de protesto de dezenas de milhares de demonstrantes, como se verificou no afluxo espontâneo às ruas e praças das principais cidades do país no dia de Ashura, jornada de luto para o culto xiita (V. blog Notícias do Front Iraniano, de 29.12.2009).
Em Ashura, as forças policiais abriram fogo contra a multidão, com a morte de pelo menos dez pessoas entre os manifestantes. No entanto, em desenvolvimento preocupante para a aliança repressora, muitos populares reagiram, perseguindo a detestada milícia basij e as viaturas da polícia.
Na presente oportunidade, os procedimentos adotados pelo governo vão muito além das ameaças de antes. A teocracia dos ayatollahs está em marcha estugada no intento de consolidar autêntico estado policial.
Dessarte, no contexto da política intimidatória, a rede das prisões se alarga na paranóica extensão das tiranias – como nos tempos do terror estalinista dos anos trinta, todos são em princípio suspeitos – e não mais se trepida em enforcar a criminosos políticos, detidos por crímes de opinião. Assim, os tribunais canguru dos ayatollahs já ‘justiçaram’a dois alegados monarquistas, e mais nove outros, integrantes do movimento de oposição às eleições fraudulentas de doze de junho, aguardam a vez no baraço do carrasco.
Contudo, não param aí as ‘medidas preventivas’ do estado policial iraniano. Na tentativa de inviabilizar ou enfraquecer as manifestações do dia onze, as forças da repressão lançam ondas sucessivas de detenções, em geral realizadas à noite, com as pessoas sendo levadas sem qualquer justificativa e indicação de destino. O considerável arrocho se estende a intelectuais, com preferência por jornalistas, inclusive de política e de cultura, redatores, assim como mulheres ativistas em direitos humanos.
Seguindo claramente ordens superiores, os únicos até agora excluídos das prisões em massa são os principais líderes, como Mir Hussein Moussavi e Mehdi Kerroubi – que já conclamaram os respectivos militantes a acorrerem ao chamado das ruas. Obviamente, Khamenei e seu subordinado Ahmadinejad julgam que a eventual detenção de líderes oposicionistas dessa envergadura seria contraproducente, com repercussões desastrosas para o regime.
Se existe algum molde programático na atual campanha de jogar nas masmorras da ditadura dos ayatollahs os simpatizantes do movimento reformista – estima-se que cerca de mil pessoas tenham sido presas -, o escopo seria o de neutralizar os supostos ativistas e arregimentadores da oposição, de forma a dificultar a organização dos protestos.
A rede alcança artistas, fotógrafos, estudantes, defensores dos direitos da criança, além dos já mencionados jornalistas e mulheres ativistas de direitos humanos.
Nessa política de intimidação – que se desdobra na série de medidas elencadas – pela qual o regime se propõe mostrar o próprio poder e a capacidade de violência indiscriminada, sem o desejar, por certo, ele também revela a inerente fraqueza.
Somente um regime que se acredita ameaçado e mesmo acuado pode investir com tal paroxismo contra o povo iraniano, chegando a reprimir e prender até as mães que se reúnem para cultuar a memória dos filhos mortos pela ditadura dos ayatollahs.
Registre-se, por fim, que dentre os poucos aliados internacionais de Khamenei e Ahmadinejad, se conta o governo de Lula. Nesse quadro, diante do crescente isolamento do regime iraniano, pergunta-se como hão de ser recebidas tanto a visita programada de Lula da Silva a Teerã, quanto a última manifestação de apoio de seu Ministro de Relações Exteriores, que defende o ‘diálogo com o Irã’ e se opõe à adoção de novas sanções, motivadas pela política nuclear iraniana.
(Fonte: International Herald Tribune )
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
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