quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Brexit, um mau negócio

                              
        A mediocridade que caracterizou o recuo no desastroso plebiscito do Brexit terá feito revirar-se nos respectivos jazigos aqueles próceres ingleses que depois de uma longa luta tinham logrado adentrar-se na senda européia que muito de seus maiores tinham visto como um enlace feliz com o europeismo.  Fazer desaparecer o Canal da Mancha terá sido a proposta que animou a vocação europeia, e que muitos próceres da época anterior lamentaram não poder vencer o veto gaullista àquele projeto.
          O mediocre no projeto do Brexit,  fechando com estardalhaço a porta europeia, a par do salgado preço desse divórcio,  foi no entanto abraçado por um punhado de líderes que se sentiam sufocados pela Comunidade Européia,  e viram, a fortiori, em plano pessoal a oportunidade que abria para as respectivas medíocres perspectivas no plano magno europeu a permanência na União Europeia.
           Reflexos dessa escolha que, ao invés de alargar horizontes, os encolheu, como se o retrocesso fosse a saída, são encontrados naquelas personalidades políticas que viram no regresso à velha Albion mais uma oportunidade, ainda que acanhada,  do que um desafio.
            Além de subestimar as dificuldades e as estreitezas de um projeto regressista em época de grandes desafios colocados pela necessidade de uma resposta às incógnitas do futuro,  outro grande fator propulsor da escolha menor, em que se privilegiava  a visão passada,  como se mais adequada às visões pessoais dos respectivos expoentes dessa escolha de Sophia.
              De todas as personalidades no partido do Brexit, duas pedem atenção pela respectiva mediocridade e falta de qualquer sopro de um projeto amplo e corajoso.
               Thereza May é a mais autêntica entre os personagens menores que despontam para a mediocridade.  Uma longa permanência na Secretaria no Interior a terá levado a julgar o projeto do Brexit como o mais adequado para uma Grã-Bretanha que retorne feliz  para o âmago do passado, cuja grande vantagem era restabelecer a velha Inglaterra que voltasse aos velhos problemas de um país que retornasse às antigas tradições, longe das gambiarras de uma Europa na medida dos sonhos dos que viam o retorno ao Continente como uma sárcina e não uma solução.  Pela tacanhice e a respectiva desatenta indiferença,  o antecessor Cameron, por falta de qualquer sentido de desafio,  constituiria o cúmplice ideal para afundar na mediocridade insular a velha Albion.
                 Da leviandade e da frivolidade,  é o partido dos irmãos Johnson,  em especial Boris, que chegou ao acme do who cares? ao dedicar-se ao juvenil e estranhíssimo projeto de redigir dois manifestos,  um pró-Brexit e o outro contra, como se imaginar-se possa transformar a alternativa do Brexit e Europa em jogo intelectual de fim de semana,  em que dominaria os fatores pro e contra  essa regressão ao passado não a avaliação séria mas quase brincadeira intelectual de dúbia pertinência, em face do desafio da escolha para o porvir  da antiga Grã-Bretanha.
                   Mais passa o tempo, e mais se entranha a certeza do colossal erro do penúltimo verão, assim como a fragilidade das atuais lideranças da antiga pérfida Albion.  Choca verificar a mediocridade dos personagens que cercam a escolha do anti-caminho do retorno às angustas dimensões da antiga potência do século XIX.


( Fontes: The New York Review, The New York Times,  Times. )

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