sábado, 14 de outubro de 2017

Trump retira aval a Pacto Nuclear com Irã

                                         
        Em discurso no qual apresentou sua estratégia para conter a influência de Teerã no Oriente Medio, o presidente Donald Trump retirou a certificação do pacto,  mas não tem poder para uma ruptura definitiva, que  depende do Congresso (são necessários sessenta votos no Senado, os republicanos têm 52, e esse número já se afigura bastante relativo, como a dissensão de John McCain e outros do GOP tende a sinalizá-lo).
        Para apoiá-lo de forma irrestrita, Trump somente dispõe do patético 'reforço' de Israel, com o Primeiro Ministro Bibi Netanyahu. Parte, assim,  ao ataque contra o seu predecessor, Barack Obama, que julgara, com fundadas razões, o acordo com o Irã como uma das principais conquistas de seu governo.  Por isso, Obama sequer se manifestou, deixando por conta do vice Joe Biden a resposta: "colocar o acordo em risco de maneira unilateral não isola o Irã. Isola a nós".
        O isolamento de Trump é sublinhado de forma patética pela declaração firmada pelos líderes da RFA, França e Reino Unido, que além de defender o pacto com o Irã, disseram estar preocupados com as "possíveis implicações" do anúncio do presidente estadunidense: "O acordo nuclear foi o ápice de treze anos de diplomacia e foi um grande passo na direção de assegurar que o programa nuclear do Irã não seja desviado para fins militares", declaram Theresa May, Angela Merkel e Emmanuel Macron. Com bastante oportunidade, os europeus afirmam que o mundo não pode abandonar um pacto de não-proliferação no momento em que já enfrenta a ameaça nuclear da Coréia do Norte.
         Por outro lado, o presidente do Irã, Hassan Rohani, declarou que o pacto é "inegociável" e não pode ser cancelado por apenas um participante. O documento foi aprovado em 2015 pelos Estados Unidos, Irã, República Federal da Alemanha, França, Reino Unido, República Popular da China, Federação Russa e a União Européia.
         Esses países concordaram em suspender sanções internacionais contra o Irã em troca do congelamento ou reversão de elementos de seu programa nuclear.
         O presidente Donald Trump anunciou, outrossim, que não enviará ao Congresso documento que certifica o cumprimento das obrigações do Irã previstas no pacto, apesar de a AIEA ter concluído no mês passado que não há violações de parte de Teerã.
         Com tal decisão presidencial, o Congresso americano terá sessenta dias  para decidir se restabelece sanções relativas ao programa nuclear suspensas em 2015. Nesse sentido, Trump quer que esse prazo seja utilizado para aprovação de legislação que proíba o desenvolvimento de mísseis intercontinentais pelo Irã e torne permanentes as proibições do acordo, algumas das quais deixarão de vigorar entre dez a quinze anos. Se essas disposições fossem violadas,haveria o restabelecimento automático das sanções americanas.
          A oposição sanhuda de Trump conta criar condições a longo e médio prazo, dada a abrangência do sistema financeiro americano, por onde passam transações  de empresas europeias, chinesas e russas.  Trump compara esse acordo com a ameaça da Coréia do Norte, o que é absurdo. "Como nós vimos na Coreia do Norte, quanto mais tempo nós ignoramos uma ameaça, pior essa ameaça se torna. É por isso que nós estamos determinados a que o maior patrocinador do terrorismo do mundo nunca obtenha armas nucleares", afirmou Trump.
          Segundo análise de Roberto Godoy, do Estadão, o programa nuclear do Irã está a três anos de distância da construção  de uma ogiva atômica confiável, miniaturizada e eficiente.Os mísseis estão prontos, o botão de disparo depende só de uma ordem. Segundo consta, o teste mais recente, há três semanas, foi impecável. O projeto já estava nesse ponto em janeiro de 2016, quando foi parcialmente desmantelado para permitir que fossem revogadas as sanções econômicas impostas pelo Ocidente.
          O status  atualizado é uma surpresa e provavelmente um dos motivos para a decisão do presidente Donald Trump de não ratificar o acordo firmado pelo democrata Barack Obama. Pela avaliação da Agência de Inteligência da defesa americana, os principais laboratórios e as facilidades industriais controlados pela Guarda Revolucionária estariam parcialmente desativados. Certo? Não, infelizmente errado. Um cochilo da inteligência americana, que causa óbvio desconforto. Logo se pensa no hacking in do computer de Podesta, o chefe do Partido Democrata, por onde se ramificou o ataque dos serviços de informação do KGB gospodin[1] V. Putin. Quase fechando esse parêntese, vejamos o que nos apresentará a investigação dos serviços americanos quanto à penetração russa na votação americana. Além de um escândalo, uma vergonha para a Superpotência. O que irá lançar sobre ela uma luz algo comprometedora, porque Barack Obama continuou a dormir tranquilo, enquanto os russos faziam uma festa com o seu partido e a sua candidata Hillary Clinton.
          Como se verifica quanto à capacidade iraniana,  os seus especialistas reagem assaz rapidamente.  Em 28 de setembro de 2010 verificou-se o ataque cibernético  contra a fábrica de componentes estratégicos de Bushehr, o complexo tecnológico de Natanz, onde era feito o enriquecimento do urânio para alimentar o programa nuclear, e a talvez outros mais trinta mil computadores em toda a extensão do Irã, todos eles atingidos por um ataque cibernético. 
            Dado o caráter confidencial da empresa, presume-se que a operação foi realizada por agências de informação dos Estados Unidos e do aliado Israel, e terá virtualmente destruído a iniciativa iraniana. Teria sido, de acordo com a interpretação de engenheiro da empresa IBM "como se cada um deles (computadores) houvesse recebido a ordem de cometer suicídio."
           Consoante as estimativas dos atacantes, a expectativa era de que os esforços de capacitação sofressem atraso de ao menos cinco anos.
          Não foi o que ocorreu com a reação iraniana.  Em 24 meses, a segunda central de enriquecimento de urânio, em Fordu, a 42 km da cidade santa de Qom, já estava funcionando. O modelo de ultracentrífuga usado no processo não mais empregava o sistema que provavelmente havia servido de entrada para o virus. A vida continua, mas não necessariamente para todos.
            Os principais cientistas iranianos ligados ao programa foram mortos entre 2010 e 2012, assassinados, segundo o governo de Teerã, por  terroristas da facção clandestina Mujahedin do Povo do Irã - treinados e equipados pelo Mossad, a principal organização da inteligência de Israel, de acordo com a Oghab-2, o braço da segurança interna iraniana dedicado às questões do plano de capacitação nuclear.
                   Por fim, Trump também anunciou ontem a imposição de sanções contra a Guarda Revolucionária Islâmica, uma das principais organizações de segurança do Irã, e que pode igualmente atuar em cenários do Oriente Médio, como se verificou na guerra civil da Siria e reforçar a organizações menos estruturadas, mas também perigosas no combate, como o Hezbollah, que é a milícia que também atuou na guerra civil da Síria.


( Fontes: O Estado de S. Paulo; The NewYork Times; What Happened, de H. Clinton )



[1] Senhor, em russo.

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