segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A difícil independência dos curdos

                    

          Depois de vários dias em que os dois lados do confronto  entre iraquianos e curdos se limitaram ao 'posturing', vale dizer reações atitudinais, sem implicações concretas, nesta segunda-feira, 16 de outubro, o governo iraquiano deu início à própria reação contra a ação da minoria curda.                                        
          Nos encontros que se seguiram, os dois aliados dos Estados se confrontaram e após embates superficiais, os iraquianos se apossaram da região em tela, com poucas e isoladas escaramuças. Na verdade, a facção curda que controlava a área de Kirkuk a cedeu aos iraquianos, sem consulta aos demais curdos.
           Assinale-se que os curdos aí se achavam há cerca de três anos.
           Tenha-se em mente, também, que há três semanas os curdos votaram maciçamente por independizar-se do Iraque.  Como seria de esperar, tal votação fora condenada pelos Estados Unidos, Baghdad e as demais nações da região.
            A principal motivação da reação contra a iniciativa do Curdistão - consoante referida no parágrafo acima - se prende a duas razões básicas: a fragmentação do Iraque (que perderia a sua província ao norte) e os empecilhos que criaria para o término bem-sucedido da luta contra o Estado Islâmico - que está nos próprios estertores, como a rendição maciça de porção substancial de suas forças - conforme noticiado por este blog - o evidencia claramente. 
             A circunstância de que Baghdah tenha conseguido reaver boa parte de o que seria o Curdistão, se deve a uma característica do povo curdo, que é a sua desunião.
             Aí está a razão desse tropeço de o que seria o Curdistão unido. Na última segunda-feira irromperam cisões entre os curdos. Assim, a divisão entre os curdos surgiu com um movimento dito de oposição - a União Patriótica ou Kurdistan - e declarou que os seus militantes haviam concordado em abrir alas para as forças iraquianas, não obstante o fato de que outros militantes leais ao governante Partido democrático do Kurdistão  continuassem a resistir.
                Não há negar o valor militar dos curdos, temido pelos povos da região. No entanto, a própria desunião está na raiz da sua situação atual. Não logrando pôr-se de acordo entre si, eles tendem a facilitar que se tornem um povo dominado por outros, pela sua falta de capacidade de chegar a um acordo entre si.
                 Enquanto os curdos não chegarem à união da nação curda, eles continuarão a ser uma força incapaz de traduzir a capacidade do soldado pesh merga, que como é notório é instrumentalizada com sucesso por vários países para tarefas determinadas e relevantes.  Como dito na frase célebre do filme de David Lean, proferida por  Lawrence of Arabia (Peter O'Tool), para o Emir Faisal (Alec Guiness) a respeito das tribus que refutassem a união da nação árabe, elas serão sempre  um povo pequeno e fraco, eterna presa dos próprios inimigos. O mesmo vale para os curdos, que pela sua desunião explicam a situação de apátridas em que se encontram.


( Fontes: The New York Times; Lawrence of Arabia )

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