segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O poder de Xi

                                  

        Quando Xi Jinping surgiu como novo presidente chinês, a sua força política, superior aos dois líderes anteriores, já era notada.
         Agora se menciona a sua possibilidade de que venha exercer um poder similar ao de Mao Zedong. Demasiada força não surge no PCC como uma característica favorável. Já o seu apreço por Mao indicava nova orientação,  mais rigorosa, distanciando-se um pouco de Deng.
         Dentro da tradição chinesa de fortes líderes partidários, Deng Xiaoping foi o líder incontestável de 1981 até 1997. A princípio Zhao Ziyang ocupara lugares importantes sob a primazia de Deng.
        Assim, em fevereiro de 1980 Zhao se torna membro do Comitê Permanente do Politburo (PSC);  março de 1980, se ocupa dos assuntos econômicos da China; em abril de 1980, torna-se vice-premier do Conselho de Estado; em setembro 1982, tem a participação confirmada no Politburo, no primeiro plenário do 12º Comitê Central; em outubro de 1986, Zhao Ziyang, sempre sob a liderança de Deng, é nomeado chefe de novo grupo com mandato de propor pacote de reforma política; em janeiro de 1987,torna-se  Secretário-Geral interino do Partido Comunista Chinês (CCP), sempre sob a liderança de Deng; em outubro de 1987, no 13º Congresso do Partido, Zhao declara que a China está no "estágio inicial do socialismo". No mesmo Congresso, propõe a única reforma política na história do CCP, na tentativa de mudar como "o Partido Comunista Chinês governa", e introduz reformas  como a separação de poder entre o Partido e o Estado. É também designado Secretário-Geral e Primeiro Vice-Presidente da Comissão Militar Central,  e permanece como membro do Comitê Permanente do Politburo (PSC). Em termos de poder político, só está abaixo de Deng, em termos de poder.
           Com a morte em 15 de abril de 1989, de Hu Yaobang - que fora Secretário do Partido Comunista - e tinha sido muito popular entre os estudantes e a ala jovem do PCC,  começam as manifestações estudantis.
           Em 22 de abril de 1989, Zhao Ziyang propõe solução de compro-misso para a crise estudantil:  encoraja a volta às classes,  o emprego do diálogo e valer-se da lei apenas para punir estudantes que tenham  come-tido crimes.
              Intervém, no entanto, viagem oficial, previamente marcada, para a Coréia do Norte.  O grupo conservador, sob a liderança de Li Peng,  se aproveita   da ausência de Zhao, e arranca de Deng Xiaoping a publicação no "Diário do Povo", jornal oficial do PCC,  de artigo, por ele assinado, em que condena em termos fortes as demonstrações estudantis.
              Quando Zhao retorna a Beijing, a situação já esta mudada, com a esperta manobra do grupo conservador. Infelizmente,  uma vez impressa no jornal oficial a posição dura de Deng,  a solução de compromisso de Zhao não é mais possivel, e tudo se encaminha para o massacre.
             Zhao ainda participa da reunião de 17 de maio de 1989 em que Deng decide impor a lei marcial.  Zhao, que é Primeiro Ministro e Membro da Comissão Militar Central, declara que seria difícil para ele executar tal decisão.
              A sua última tentativa de evitar o massacre está na visita, a 19 de maio de 1989, que faz à Praça Tiananmen aos estudantes demonstrantes, e em discurso de improviso lhes faz um apelo para que deixem a praça, sabendo que é iminente o ataque do exército.
             Em junho de 1989, se reune o pleno do Politburo para decidir sobre a crítica a Zhao e para despojá-lo de todas as suas posições oficiais. Começam os dezesseis anos de isolamento e de prisão domiciliar de Zhao.
             Em 19 de fevereiro de 1997,  Deng Xiaoping morre.
             Em 12 de setembro de 1997, manda uma carta - ainda está sob prisão domiciliar - para o 15º Congresso do PCC,  com apelo aos líderes para que reavaliem a repressão aos demonstrantes  da Praça de Tiananmen em  1989.
             Em 17 de janeiro de 2005, Zhao Ziyang morre ainda em prisão domiciliar em Beijing.
              Popular até a morte, os chefes do Partido determinam que o enterro seja feito em segredo, para evitar-se demonstrações de apreço e luto. Ainda depois de morto, Zhao inspira medo pela sua continuada popularidade e pelo apreço que o povo chinês continua a devotar-lhe.     
             Que o leitor me releve essa interpolação de texto. Faço-a, no entanto, porque julgo oportuno acentuar a importância que pode ter na história o aspecto acidental e inesperado. Quis a má sorte que o grande Zhao Ziyang estivesse ausente da China - enquanto em visita oficial, já previamente marcada, a Piongyang - durante as manifestações  dos estudantes chineses em Tiananmen...
              Infelizmente,  a história não é feita de ses.  Xi Jinping  prepara este segundo turno de seu período não como o termino, mas possivelmente como a parte intermediária do próprio mandato... E dada a sua tendência maoista, não é mais abertura o que o corrente lider chinês vê no futuro.
             Os fotógrafos das agências presentes mostram os longos bocejos  que velhos líderes não lograram controlar. Como comentário não poderia ser mais veraz. Pesado, longo, chato mesmo. Será esta a expressão do poder do novo líder chinês?
              Pois, pelo visto, aí vem mais e do mesmo.


( Fontes:  "Prisoner of  the State - the secret journal of Premier Zhao Ziyang";  O Estado de S. Paulo )

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