segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A gestão do Congresso por Temer (II)

                                                

         Contudo, nem sempre é possível uma gestão em condições a custos relativamente baixos. Com efeito, conforme demonstra o artigo de Carlos Pereira na Ilustríssima deste último domingo, 29 de outubro, há grande variação tanto na taxa de sucesso das iniciativas legislativas de autoria do Executivo, quanto nos custos que o presidente enfrenta para aprovar tais medidas (ou bloquear ações indesejáveis da oposição).Na página em tela há um gráfico de cinco colunas que apresenta essa comparação para os últimos sete governos brasileiros.
         A linha rosa representa a curva de tendência do custo de gerência da coalizão dos presidentes brasileiros, enquanto os pontos rosa expri-mem o custo real mensal. A linha azul clara remete à quantidade de propostas legislativas de autoria do Executivo enviadas para o Congresso, e a linha azul escura indica quantas dessas iniciativas foram aprovadas.
          Ou seja,o gráfico mostra a eficiência do presidente na gestão de sua coalizão: um governo eficiente aprova mais proposições a um custo relativamente baixo.
           A medida do custo de gerência da coalizão, que foi desenvolvida por Carlos Pereira, em parceria com Frederico Bertholini, é composta de três variáveis: 1)quantidade de ministérios (e secretarias com status de ministério) que um presidente decide ter em seu governo; 2) total de recursos que aloca entre os ministérios (e secretarias com status de ministério) ocupados pelos membros da coalizão; 3) montante em emendas individuais que os parlamentares fazem ao Orçamento anual e que o Presidente executa.(Nos ítens 2 e 3, os valores em reais são calculados como proporção do PIB).
             Desses três fatores resulta um índice sintético de custos de governo (ICG), que permite comparar o nível de recursos disponibilizado pelo Presidente aos membros de sua coalizão e ao seu próprio partido. Esse índice não deve ser interpretado de forma absoluta, e sim de forma relativa a outros governos.
            É claro que outras moedas de troca podem fazer parte do arsenal presidencial: empréstimos subsidiados de bancos públicos, perdão seletivo de dívidas com a União, distribuição de cargos de escalões inferiores, etc. Infelizmente, porém, elas não atendem aos critérios de disponibilidade e periodicidade nem dispõem de série longa o suficiente para permitir comparações entre governos.
              De qualquer forma, não existe motivo para pensar que as variá-veis do ICG e as demais moedas de troca não observáveis sejam substituí-das umas pelas outras. Na verdade, elas desempenham papel simétrico. Essas medidas tendem a subir ou a descer juntas.  Sabe-se que ao menos duas delas - empréstimos subsidiados e programas de refinanciamento de dívidas - foram utilizados de forma recorde no período de maior cresci- mento do ICG (final do segundo governo Lula e início do primeiro governo Dilma),
               De FHC a DILMA. Dado  que não houve mudanças efetivas nos poderes do Executivo ao longo desses 22 anos, o que explica tamanha variação tanto na taxa de sucesso legislativo do Presidente quanto no custo de governabilidade?
               O primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por exemplo, foi caracterizado por um custo total relativamente baixo (média de 36 pontos). Interessante notar que os custos de FHC com o seu próprio partido foram inferiores ao somatório de custos com as demais siglas da coalizão (média de 40% e 60%, respectivamente).
                No segundo mandato do tucano, houve aumento expressivo dos custos totais de governo (média de 59,5 pontos) que passaram a se concentrar mais no próprio PSDB (55%) do que nos demais parceiros da coalizão (45%).
                 No governo Lula (PT),os custos totais de governo aumentaram ainda mais (média de 90,6 pontos) e o partido do presidente passou a ser destinatário de 69% dos recursos.
                Padrão semelhante se reproduziu no segundo mandato de Lula. Os custos totais ainda aumentaram um pouco (média de 95,2 pontos), sobretudo a partir da metade do período, devido a uma ampliação dos custos contra as outras siglas da coalizão, embora o PT tenha continuado a receber a maior fatia (60%).
                 A primeira gestão de Dilma Rousseff (PT) apresentou pequena queda nos custos totais de governo (média de 88,1 pontos), com sensível aproximação entre as proporções dos recursos destinados ao PT (51%) e aos aliados (49%).
                 No curto segundo mandato de Dilma, os custos totais de governabilidade declinaram consideravelmente (média de 58 pontos), alcançando o mesmo patamar do segundo termo de FHC.Contudo, o PT voltou a ser recompensado de forma desproporcional em relação aos outros parceiros da coalizão (56% e 44%,respectivamente).
                  Apesar do aumento dos custos de gerência da coalizão durante as administrações petistas, a capacidade de aprovação de iniciativas de seus presidentes declinou sensivelmente, especialmente a partir do começo do segundo governo Lula e no final do primeiro mandato de  Dilma.(a continuar)



(Fonte: Artigo de Carlos Pereira, em Ilustrìssima, 29.X.2017)

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