quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Nefasto é o adjetivo para Trump?

                                                                  
      Ler os jornais e o seu crescente derivativo cibernético,  que são as informações das agências telegráficas transmitidas através do noticiário dos inúmeros sites disponíveis será o caminho mais seguro para manter o próprio conhecimento atualizado.
      Nos tempos correntes, é o que chamaríamos o desafio da pós-modernidade. E este repto me recorda conceito básico na filosofia histórica do grande historiador inglês Arnold J. Toynbee, que é o autor de "Um Estudo da História",  obra em doze volumes, a que se agregam tomos com mapas. Há também disponíveis livros que resumem as teses principais desse grande historiador.
       Mas por que razão me aventuro a citar esse grande filósofo da história no contexto dado pelo título do blog?
       Depois de ler o livro de Hillary Clinton sobre a sua campanha e a malograda eleição da primeira mulher que se aproximou do teto de vidro que até hoje estorva o caminho do gênero feminino à presidência dos Estados Unidos, o noticiário relativo à presidência de Donald J. Trump constitui cruel e permanente lembrete de o que significou a eleição deste senhor por estreitíssima margem no arcaico e já pernicioso procedimento do colégio eleitoral,logo ele um dos candidatos mais mal preparado em todos os tempos para lidar com o magno desafio de instalar-se pelo mínimo constitucional de quatro anos na Casa Branca.
         Tenha presente, caro leitor, por que cito o grande historiador britânico. A sua tese histórica se baseia na teoria do desafio e da resposta (challenge and response).  Na análise das diversas culturas e civilizações, Toynbee focaliza os desafios e as respostas dadas pelas múltiplas civilizações que estuda na sua grande obra. O sucesso ou o malogro de cada cultura e civilização estará na medida em que adota a resposta necessária para os múltiplos desafios que lhe surgem à frente. É esta capacidade que distingue as grandes civilizações  daquelas que não tiveram condições de arrostar com êxito os desafios com que se defrontaram.
          Talvez um dos mais despreparados presidentes eleitos pelo colégio eleitoral americano, Donald Trump tende a tornar a própria incapacidade ainda mais nefasta pela maneira em que o seu dinamismo atitudinal, eivado de baixas e discutíveis premissas, trabalha de forma corrosiva e demagógica para desfazer, por um lado, o que predecessores seus tenham criado dentro de o que interessa e aproveita à Superpotência e aos respectivos eleitores, e por outro, para introduzir dentro da realidade  que recebeu de seus antecessores no cargo normas e modificações que, por circunstâncias várias, não atendem aos interesses dos diversos segmentos demográficos que formam o que é atualmente essa Superpotência.
           Donald Trump, segundo os critérios vigentes na maioria das democracias, não teria sido eleito presidente. O sistema democrático vigente na quase totalidade das repúblicas repousa no método de eleição, em que os candidatos com condições de concorrerem (idade apropriada, formação mínima educacional, nacionalidade, e prontuário que o qualifique do prisma ético e disciplinar) se apresentam, através de campanha, ao julgamento da população.  O método mais utilizado é aquele da votação secreta, vencendo aquele candidato que tiver o maior número de votos.  No caso dos Estados Unidos, a candidata Hillary Clinton que obteve no total numérico pouco menos de três milhões a mais que o adversário, seria em qualquer outro país do mundo eleita. Não é o caso dos Estados Unidos,  ainda que o método do século XVIII pode ter sido de grande utilidade para uma vasta democracia como os EUA, diante do então desafio das distâncias e da observância de corretas contagens de votos. Mas os últimos resultados - e este não é o único caso neste século - que um candidato minoritário seja sagrado vitorioso contra o adversário que foi votado por um número superior de nacionais.
           No entanto, os problemas que o candidato vencedor por esse vetusto sistema do colégio eleitoral está ora colocando para a comunidade americana - e também para os seus vizinhos - decorrem de vícios de comportamento e, notadamente, de claro e inegável despreparo para enfrentar o desafio da presidência estadunidense.
           É particularmente penosa a diferença entre a candidata supostamente derrotada e Mr Donald J. Trump.  Para a "vitória" deste último contaram diversas irregularidades, algumas delas bastante graves.
           Talvez a principal esteja na carta ao Congresso Americano de James (Jim) B. Comey, de 28 de outubro de 2016. Este senhor resolveu comunicar ao Povo Americano - que por estranhíssima coincidência se achava empenhado na votação antecipada para os candidatos presidenciais (Hillary Clinton e Donald Trump)  -  que estava sendo verificado o computador de Anthony Weiner, marido afastado da secretária de Hillary, Huma Abedin, acenando inclusive com a possibilidade de serem encontrados mais elementos  a respeito da candidata Hillary. No seu livro "O que aconteceu", Hillary assinala que o estatístico  Nate Silver  - que previra quem venceu em 2008 em 49 estados, e em 2012, em todos os 50 estados - afirmou que a sra. Clinton estava no caminho da vitória até que a carta de 28 de outubro de Jim Comey descarrilasse Hillary de vitória certa. Mais tarde, este senhor comunicaria em outra carta que nada fora encontrado no computador de Weiner,mas como foi no fim de semana anterior à eleição (que é na terça-feira) não havia mais tempo para que esta "correção" corrigisse o mal praticado por  Mr James  Comey.
           Como se sabe, houve muitas outras irregularidades nesta eleição, todas elas contrárias a Hillary. Ocorreu a intervenção determinada pelo presidente Vladimir Putin, através dos hackings feitos por russos e divulgados pelo WikiLeaks de Julian Assange,  e sabe-se lá o que mais virá a ser determinado pela investigação do Procurador Mueller. A desinformação russa através do Facebook também atuou com a participação dita involuntária do Google, que só agora é reconhecida pela mega-organização.
             A vingança de Putin contra Hillary ainda será esmiuçada em maiores detalhes. Se o tempo corre em desfavor da candidata - dado o fato de que a revelação do caráter ilegal das intervenções russas não terá qualquer efeito sobre a vitória de seu candidato, Donald Trump, pelo menos soará o clarim do alarma e da manifesta ilegalidade de tais meios utilizados em favor do candidato do GOP.
              Há outros personagens - e não dos menores - que por timidez ou por falta de maior empenho não tiveram a coragem de atender aos apelos da direção democrática em favor de intervenções enérgicas que, infelizmente, não foram feitas por quem de direito.
               Mas tanta ilegalidade, tanto truque sujo tiveram como resultado a vitória do candidato republicano Donald John Trump.  É difícil imaginar alguém com menos condições para exercer a presidência dos Estados Unidos.  Embora a sua Administração ainda esteja no seu primeiro ano, já existem inúmeros fatos inquietantes e negativos que sinalizam o caráter nefasto da presidência de Donald Trump.
                Dando início à cadeia de antirrealizações, Trump denunciou[1] a participação estadunidense no Acordo do Clima de Paris. Mais recentemente, em outra iniciativa criminosa, criou condições para desfazer as medidas de Obama tendentes a combater a poluição, permitindo que se voltasse à plena utilização do carvão, o que irá muito contribuir para o incremento da poluição na atmosfera e no consequente aumento do chamado efeito estufa.
                  Por outro lado, na série lamentável de anti-realizações, Trump visa a desfazer o Nafta  que é o acordo entre a superpotência, o México e o Canadá, sobre zona de livre-comércio entre esses países (EUA, México e Canadá), com até hoje grandes e positivos reflexos sobre o nível de atividade econômica dos países cobertos por essa associação.     
                  O mais interessante é que, nas "realizações" desse demagogo irresponsável, não há até o momento qualquer notícia acerca de providências efetivas para a reparação e reativação da rede estradal e de transporte ferroviário dos Estados Unidos da América, o que era antes martelado pela propaganda do candidato republicano.
                   Malgrado as suas demagógicas promessas quanto à reativação do chamado cinturão da ferrugem (nordeste estadunidense, regiões dos grandes lagos e do meio-oeste), nada foi feito até agora. Há causas estruturais para a desativação das grandes indústrias que lá existiam, e obviamente a demagogia de Trump não poderá recriar, de um cemitério de indústrias pesadas, um novo sistema industrial...   
                  Trump se empenha igualmente - até o momento felizmente sem sucesso - em desmantelar a ajuda médico-sanitária (chamada pelos republicanos de Obamacare). Por outro lado, Trump, além das imprudências através do Twitter contra o ditador norte-coreano, vem colhendo no seu gabinete ministerial grandes inimizades, como aquela com o Secretário de Estado Tillerson - que chamou a Trump de moron(imbecil), assim como no Senado, o Sen. Bob Corker, o que lhe irá dificultar a sua projetada reforma tributária (na linha republicana, de corte nos impostos dos ricos, e,por conseguinte, grandes deficits  no orçamento).


(Fontes: New York Times,  A. Toynbee (A Study of History), Hillary Clinton (What Happened)).



[1] retirou

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