domingo, 30 de junho de 2019

O Abandono é a Regra


                                            

          Como os meus leitores terão presente,  a falta de manutenção e de conservação do ambiente - tanto natural, quanto artificial - é uma das características que marcam o meio ambiente do Rio de Janeiro.
               É a triste regra de uma sucessão de administrações que tenham a ver   com a tão louvada Cidade Maravilhosa.
                 Gaúcho, por circunstâncias familiares que se relacionam a um desastre aeronáutico a que já me referi por muitas vezes, e ainda criança vim para a então Capital federal, e aqui cheguei, como era costume na época, por compreensíveis contingências de transporte de bagagem, em  navio da Costeira, em fins da década de quarenta. Estávamos, então, na presidência do general Eurico Gaspar Dutra.

                    Era um outro Rio de Janeiro o que o aluno de Admissão encontrou quando chegou à Capital Federal. Levado pela mãe, ou por meus tios, visitei a muitos museus, como o Imperial da Quinta da Boa Vista. Recordo-me do quanto este impressionou ao menino, pelos tesouros que ele encerrava, muitos desses chegados por intermédio de nosso último Imperador. Pois foi pelo gritante desleixo das "chamadas autoridades competentes" que se permitiu que esse repositório, invejado por tantos países, fosse largado à criminosa negligência de gerações de políticos, que condenaria aquela jóia à fogueira não de vaidades, mas de falta de qualquer sentido de humana carência em preservar o que nos foi legado pelo Império e as primeiras Repúblicas. Nesse caso do museu, esqueceu-se de providenciar a correta manutenção do ar condicionado...

                       Já, outrossim, mencionei neste blog os meus passeios pela baía de Guanabara na lancha de meus tios Adolpho e Lucy. Era uma lancha com beliches e cabine para o marinheiro que a manobrava. Na proa, tinha um espaço amplo, para trans- formá-la em uma espécie de solarium, no caso de mar calmo que ensejasse aos passageiros tomarem banho de sol. Existia também cabine para os passageiros repousarem nos beliches, e um aviso que mostrava o humor preferido do meu tio Adolpho. Nele se avisava aos passageiros que o comandante da lancha estava autorizado a celebrar casamentos, com a ressalva, porém,  que tais matrimônios só eram válidos dentro da lancha...
                    Tio Adolpho gostava desse tipo de humor, e os seus olhos brilhavam quase com a malícia de uma criança quando mostrava o dito aviso, e em especial a algum casalzinho que convidara para o passeio na Baía.
                      Apreciava muito a oportunidade de tomar um banho de mar perto da fortaleza da Laje.  Naquela época, a água da baía era límpida, e em nada se parecia com o que é hoje.  Infelizmente, o passar dos anos e a incúria das administrações posteriores  transformaram a famosa baía da Guanabara em uma superfície que deve ser vista de longe, pois a qualidade da água para o banho de mar decaíu muito, chegando mesmo a ser dito que qualquer mergulho, qualquer contado direto com a água que o desleixo de muitas prefeituras ribeirinhas que não cuidam da sanitização dos próprios esgotos transformara  o que era uma piscina natural a que se sentia grande prazer em nadar, boiar e mergulhar naquelas águas pristinas, em uma experiência a ser evitada de toda maneira.       
             
                      Outro espaço carioca que se tem deteriorado bastante  é a Lagoa Rodrigo de Freitas.     Hoje, raras são as pessoas que - excluídas as competições aquáticas abertas a disputas para a classificação olímpica - nessa superfície se aventuram. Correm rumores sobre a existência de esgotos clandestinos que despejam na bela lagoa as águas negras de prédios e outras construções da vizinhança. Será por isso que as raias dessa Lagoa só são utilizadas por disputas de canoagem e de certamens de remo, com todas as suas variações em termos de número das respectivas equipes.
                     
                   Por isso, não é incomum o fenômeno do morticínio de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas, o que é atribuído a ocasionais deficiências na oxigenação da água, de que participa como eventual suspeito um canal aberto na praia do Leblon, e cujo eventual assoreamento tende a contribuir para o morticínio do pescado, o que incomoda bastante a vizinhança da Lagoa, pelo cheiro que provoca.  De paso, se diga que é um fenômeno raro, mas que pelo seu caráter agressivo, em termos de mau cheiro,  constitui uma espécie de ameaça que pode dissuadir eventuais moradores.

                         Por fim, recente matéria do jornal O Globo sinaliza que a água turva da Rodrigo de Freitas esconde um perigo invisível aos olhos. Com efeito, um estudo de UFRJ, que fez testes com sedimentos depositados no fundo, mostra que a quantidade de metais pesados  aumentou, afetando microcrustáceos e ouriços-do-mar, base da cadeia alimentar.  A pesquisa, publicada no mês passado, na revista acadêmica "Environmental Pollution", comparou amostras coletadas antes e depois das Olimpíadas e revela que os índices de cádmio, cobre e níquel cresceram depois dos jogos. A presença de zinco, chumbo e cromo também foi avaliada. Níquel e cromo são os únicos metais que não passara do "nível 1", estabelecido  pelo Conselho Nacional do Meio Ambiene (Conama), como limite para baixa probabilidade de efeitos adversos ao ecossistema.  Os demais, porém, estão acima.  Embora não hajam atingido o nível 2, que indica altos riscos ao ambiente marinho,os testes com microcrustáceos e ouriços do mar mostraram  alta toxicidade, segundo a autora da pesquisa, a engenheira ambiental Mariana Vezzone, que coletou as amostras em 2015 e 2017. No entanto, a especialista Mariana frisa: "Não podemos nos esquecer da presença natural dos metais. O zinco, por exemplo, é essencial, mas numa concentração muito baixa. Em níveis altos, é danoso.  Já o chumbo é tóxico, e não precisamos dele em nenhuma concentração."


( Fontes : O Globo; vivência  carioca )

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