Liberdade, liberdade abre as asas
sobre nós !
Resultado
direto das manifestações e concentrações do povo de Hong Kong, que se bateu em
grandes, multitudinários comícios pelo repúdio do previsto projeto sobre ex-tradições
de habitantes de Hong Kong para a RPC, a chefe do Executivo da antiga colônia
da Inglaterra, Carrie Lam, veio a público e declarou: "O governo decidiu
suspender o procedimento de emenda legislativa, reativar nossa comunicação com
todos os setores da sociedade, trabalhar mais (...) e ouvir as diferentes visões da sociedade."
Nessa
comunicação arranjada, assim se expressou o representante da RPC, Geng Shuang,
do M.R.E.: "Respeitamos e compreendemos a decisão."
Mais
uma vez, como se depreende dos comunicados dos funcionários chineses, vence o
indômito povo de Hong Kong. Malgrado, o tom plácido dos comunicados dos
representantes de Beijing, cada popular dessa antiga colônia de Sua Majestade
não desconhece o quão árduo e difícil é arrancar das autoridades chinesas tais
concessões.
Malgrado o tom plácido e oficioso das assertivas dos funcionários
representantes do poder colonial chinês, nada tem de anódino e de plácido essa
concessão. Atrás dela estão os milhões de habitantes da antiga Cidade-estado,
que não trepidaram em descer às invias e estreitas ruas de Hong Kong e de suas
praças, para manifestar a sua negativa da extradição como projeto de manietar esse
corajoso povo, que não hesita em formar
multitudinárias manifestações em defesa dos poucos direitos que lhe restam.
Permitir que os seus líderes e seus melhores - e disso não têm dúvidas - venham
a ser extradita-dos de Hong Kong para os tribunais e cárceres da RPC
representaria não uma metáfora mas a agilização da retirada da antiga
cidade-estado das poucas liberdades que ainda lhe restam.
Daí a repetição das magníficas concentrações dessa gente corajosa, que
bem sabe não ser apenas uma anódina concessão que os seus nacionais não venham
a ser arrancados desses becos e dessas angustas praças para serem lançados nas
cadeias de Beijing.
Essa estranha contradição - a colônia como um laboratório de liberdades,
que é o legado do antigo, angusto território de Hong Kong - esse povo indômito, que não ignora o alto
preço que há de pagar se ceder às na aparência suaves mensagens dessa
representante do poder de Beijing - que é Carrie Lam - se tem refletido com
rígida, tenaz afirmativa, bem sabendo o que se esconde por trás da linguagem
por vezes macia da representante do poder imperial.
Na última grande guerra, o povo
nórdico lutara até contra representante que traíra o próprio mandato,
transformando-lhe o próprio nome em símbolo de crueldade e ignomínia, que é a
figura do quisling.
Para
os que conhecem Hong-Kong, e seu indômito povo,
as dificuldades que encontram, e a sua vida árdua e trabalhosa, será
sempre imagem prazerosa, para que não se trepide no elogio da liberdade que,
por vezes, tais sejam arduas as suas jornadas e por vezes íngremes os
respectivos caminhos. quão paradoxais uma tal existência e as lutas incessantes
que os dragões - que muitos pensam animais legendários - que lhe guardam as
vielas e as montanhas nessa metáfora da existência trabalhosa - e perguntar-se, incréus que são, porque se
agarram com tanta pertinácia a tal existência em que a liberdade traz tantos espinhos
para quem não queira escorraçá-la e a trocar pela murcha vida da falta de
esperança e sobretudo que busca na sua enaltação, entendida como expressão
ainda que angusta, mas sempre tenazmente autônoma como testemunha de um porvir
que não é o da falta de imaginação do conformismo. Pensando Hong Kong, e
deparar o próprio povo na sua luta, é um pouco ter diante de si a Castro Alves,
o poeta libertário, que terá sempre presente a imagem da liberdade, que abre as
suas generosas asas sobre essa gente sofredora. Já dizia Carlos Drummond de
Andrade que a poesia é necessária, e não simples adereço. Por que ela dá
sentido à vida, que não se resume a uma existência sem história, como anônimo figurante
em louvaminheira procissão, enquanto o ausente olhar de Mao Zedong contempla a
praça e os massacres que lá seriam praticados.
( Fontes: O Estado de S. P(aulo, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade )
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