Que o governo Bolsonaro
não tenha maioria no Congresso, já é estória do comum e geral conhecimento. O
que é estranho é que os seus líderes, com o presidente Jair Bolsonaro à frente,
além de contemplarem a paisagem, não se empenhem em mudar a situação, em formar
um núcleo reativo, que pelo menos busque dar maior aguerrimento à própria
bancada, e criar em consequência uma posição de Governo que venha a
corresponder à prática parlamentar.
Não cabe à imprensa, em suas
diversas formas, recomendar ao Governo a melhor maneira de representar os respectivos
direitos e ideias, mas de todo modo, pelo que se vê em torno, esta não tem sido
a postura da Administração, que, sem embargo, não deve desistir de defender as suas
proposições, e para tanto empregar o ânimo e a vontade que são peculiares à
formação governamental.
Ver os representantes do atual
governo abúlicos e quase ausentes, faltando-lhes aqueles empenho e disposição
que são características das usuais formas de governança, afigura-se, por conseguinte,
algo sobremaneira estranho e deveras inusitado.
Porque das duas uma: se o governante
se elegeu em pleito majoritário, parece óbvio que também procure criar a base
legislativa que corresponda ao sentir da maioria que o escolheu, contra outros
pretendentes, em pleito liso e aberto. E se, porventura, a sorte lhe foi
madrasta nesta fase, busque, através de alianças e honestas composições, obter
os meios necessários para exercer a governança. Em outras palavras, compor,
junto com a sua delegação legislativa, alianças temáticas, tópicas que
habilitem essa nova administração a possuir a formação legislativa, que,
através do número, ou das indispensáveis composições, venha a constituir o
núcleo legislativo que esteja em condições de levar avante os designios do
governante e de seu partido, enquanto sufragados pelo Povo.
A atual resposta a esse desafio do
núcleo político que apóia Bolsonaro e seu programa de governo parece-me a
antítese do problema enunciado supra. Como proposta semelha entregar a
governança que lhe foi confiada pelo povo soberano ao deus dará.
Por isso, o fenômeno político que
nos é dado deparar pode ser na prática a emulação da mula sem cabeça. Em outras palavras, quem sabe por um acidente da
natureza, ele desdenha o bê a bá da
política, que é a formação da maioria legislativa que o habilite a exercer a
governança que o Povo soberano lhe confiou. Tal decerto não deve ser coisa
doutro mundo, tal o espanto provocado pelo ator político que, na prática, se
recuse a fazer política.
( Fonte: Carlos
Drummond de Andrade )
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