quinta-feira, 6 de junho de 2019

Dividida a Direita Europeia


                       
                            
          A ultranacionalista  Liga, de  Matteo Salvini, que foi uma das maiores vencedoras nas eleições europeias da última semana, tentara convencer, por intermédio de seu líder, os partidos nacionalistas europeus a deixarem de parte as eventuais diferenças para formarem  um bloco coeso no novo Parlamento Europeu.
           O escopo do italiano Salvini objetivava a negociação de um bloco eurocético nesse Parlamento, com vistas a minar o projeto de maior integração, projeto esse colimado pelos partidos tradicionais,  veio, no entanto, a sofrer inesperado percalço.
                Com efeito, os sonhos de Salvini de aglutinar uma representação forte em tal sentido ideológico se chocaram com a realidade, quando os nacionalistas da Polônia e o chamado partido do Brexit, do Reino Unido, fizeram saber que não pretendem juntar-se a tal grupo.
                 A ideia estava em formar na chamada Aliança Europeia dos Povos e Nações o maior número possível de legendas.  Dez partidos do grupo elegeram eurodeputados. Dentre esses os com maior representação são a Liga (Itália), Reunião Nacional (RN) a nova denominação do grêmio de Marine Le Pen, e a Alternativa para a Alemanha (AfD).
                  Os eurocéticos de direita, ultradireitistas ou conservadores elegeram 173 deputados, ou  23% do total.   No atual parlamento, essas forças estão divididas em três grupos, dois fascistóides e um conservador, que criticam a U.E.
                    A posição pró-Russia de Salvini, da RN francesa da Le Pen  e da própria AfD, levou Jaroslav Kaczynski, líder do partido Lei e Justiça, que governa a Polônia, a dissociar-se dessa coalizão. Além disso, o partido do Brexit, de Nigel Farage (29 das cadeiras, dentre o total de 72 que cabem ao Reino Unido), fez saber que não se juntará ao grupo. Esses deputados tomarão posse em julho, e se houver brexit sairão  em 31 de outubro.
                       As altas esperanças de Matteo Salvini se esboroaram contra o muro polonês de Kaczynski: "quando se trata de Salvini, temos um problema: ele quer criar um novo grupo com formações que não podemos aceitar. Tem propostas totalmente divergentes que tampouco aceitaremos." O PiS não pode associar-se a esses partidos que têm boas relações com a Rússia de Putin.  As discordâncias da Polônia com a Federação Russa são viscerais, e abrangem os projetos do Kremlin para a Polônia, a sua natural desconfiança quanto a tais desígnios. Além disso, o partido polonês nacionalista é contra o expansionismo russo no que tange à Ucrânia. Essa sigla de Kaczynski é majoritária na Polônia  (26 dos 51 assentos atribuídos à Polônia no parlamento europeu).
                              A aposta de Matteo Salvini em que a ambição comum dos partidos eurocéticos  de moldar o futuro do bloco, com a devolução de poder aos estados-membros, e que impusesse  novas restrições à imigração, seria que ela viesse a superar  qualquer eventual preocupação  com a influência da Rússia. Tal poderia explicar-se pela circunstância de que a Itália sendo historicamente um país mediterrâneo, ela está por consequência menos dependente do urso russo. Mas se este foi o raciocínio de Salvini, ele não terá levado em consideração os diversos condicionamentos de países europeus ao peso e às implicações da influência russa.
                                   Outro líder da direita, o húngaro Viktor Orbán, também distanciou seu partido o Fidesz, do grupo eurocético de Salvini, enquanto intentava restaurar  as pontes com os principais partidos de centro-direita na Europa. Assinale-se, outrossim, que Orbán tem feito gestos para compor-se com o establishment europeu - Orbán está suspenso do EPP (Partido do Povo Europeu),  como a interromper  as reformas judiciais que reduziam a importância do Judiciário na Hungria.
                                      Por fim, o grupo da Europa das Nações e da Liberdade (ENL) nesse parlamento tem hoje, depois de várias cisões, 34 deputados. Após essas eleições, ele poderá crescer para 58 deputados, o que está longe das esperanças de Salvini, de um grupo com mais de cem deputados, oriundos de dez países.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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