sexta-feira, 28 de junho de 2019

Carola desafia Salvini


                                       
    Há enfrentamentos em que o valor simbólico pode ter um poder maior diante de  situação já firmada e conhecida, se tal força ignota se apresenta como um desafio, que transcende a situações anteriores, a ponto de transformar a respectiva fraqueza em uma espécie de resistência, que se baseia não em força pré-estabelecida, mas retira o seu poder de resistência da própria aparente fraqueza, mostrando que a negativa de princípio retira a respectiva capacidade de resistência a outros insondáveis poderes que transcendem às realidades burocráticas, factuais e políticas, e que por isso, através da coragem de eventuais afirmações de princípio podem levar de roldão os clichés e os dados burocráticos que têm sido a solução mágica para o sucesso do todo-poderoso Matteo Salvini.

      Faz parte decerto do imaginário da consciência humana que Davi terá alguma chance contra Golias. Elementos para tal o desafiador (Carola) poderá eventualmente dispor, e é neste elemento de surpresa que residem as poucas possibilidades que têm de prevalecer em um embate determinado e sujeito a tais rígidas premissas.

       Não está, decerto, escrito que ela vá prevalecer. No entanto, o continuado êxito da política negacionista do todo-poderoso Salvini leva dentro dele o gérmen de um eventual tropeço, pelas próprias características do embate, e da ínsita afirmação de sua humanidade, sobretudo se se configurar um choque de princípios que confronte, ainda que por uma vez, o brutal egoismo de negar guarida aos infelizes que dela verdadeiramente careçam.   

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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