sexta-feira, 7 de junho de 2019

O Brasileiro que não fala português


                              

       O Estado de S. Paulo levanta a questão de um suposto brasileiro que expulso dos EUA e deportado para o Brasil, não vê a hora de retornar ao estado de Nebraska, nos EUA, onde morou cerca de trinta anos com os pais adotivos.
           Paul Fernando Schreiner não vê a hora de retornar ao Nebraska. Sem certidão de nascimento, Paul foi registrado no município de Nova Iguaçu, quando Rosanna e Roger Schreiner decidiram adotá-lo pelo preço de US$ 10 mil, em 1989. "Falaram que era um orfanato, mas não entregaram nenhum documento aos meus pais, e ainda cobraram esse valor para me levarem. Existe a suspeita de ter sido uma gangue de tráfico sexual", afirma ele. Na época chamado pelas demais crianças da favela de Fernando, nome de registro da certidão, Paul tinha irmã biológica que foi raptada por "caras maus".
             "A gente se escondia atrás de latas de lixo para se desviar dos tiros. Nos refugiamos em uma casa e nunca mais a vi." No suposto orfanato, onde ele afirma que os funcionários o levavam para suas casas nos finais de semana,Paul foi vítima de constantes abusos sexuais.
               A história revelada ontem pela Associated Press relata o drama que também pode acometer de  35 mil a 75 mil americanos adotados, segundo estimativas de grupos de adoção estadunidenses.
                 Apesar de ter uma certidão de nascimento americana, com o nome dos pais adotivos, Paul nunca foi naturalizado. A Lei de Cidadania Infantil, assinada em 2000, facilitava a concessão de cidadania a crianças estrangeiras adotadas, tornando-a automática.
                   Paul, no entanto, nunca logrou o benefício, restrito a menores de dezoito anos na data da promulgação da lei.  O fato de haver obtido um greencard, documento de cidadania legal para estrangeiros, também não o tornava elegível, devido à sua ficha criminal  (preso durante oito anos por ter tido relações sexuais com uma jovem de catorze anos, tendo sido acusado de estupro).
                     A "nova política anti-imigração dos Estados Unidos"  - leia-se governo Trump - exigiu do Consulado-Geral do Brasil em Los Angeles - que tem jurisdição sobre o Arizona, para onde Paul se mudara após sair da prisão - pressionou o órgão  por um "atestado de nacionalidade", onde ele está registrado  somente como Fernando, sem sobrenome ou nomes de seus pais, da mesma forma de sua certidão de nascimento brasileira.  Foi assim que Paul, o brasileiro que não fala português e não tem família no Brasil, entrou no país - sem passaporte. Os dados do atestado brasileiro  não são os mesmos  de sua certidão de nascimento americana - o que por enquanto não permitiu que o governo brasileiro emitisse documentos nacionais para ele.  Diante disso, Paul não consegue trabalhar, nem abrir conta em seu nome em um banco. Seu pai deposita dinheiro para o filho ao casal que o abriga.
                     "O governo me considera brasileiro, mas não sou tratado como um (sic). Só quero um passaporte para me mudar para o Canadá, onde a cultura é parecida e meus pais poderão me visitar".
                        Em nota, o Ministério das Relações Exteriores disse que o Consulado em Los Angeles foi "instruído para confirmar formalmente, ante as autoridades americanas, a nacionalidade brasileira do senhor Schreiner, que tinha uma ordem final de deportação contra ele".
                        Paul ficou oito meses detido em um centro para imigrantes ilegais nos Estados Unidos tentando reverter sua ordem de deportação antes de ser trazido para  o Brasil. "Eu preferi ficar oito meses naquele lugar sendo tratado como imigrante ilegal do que vir para cá. Eu tinha medo do Brasil e tenho ódio daqui (sic)."
                         Paul pede desculpas ao referir ao país dessa maneira.  "Eu só tenho lembranças ruins daqui.  Não tem como eu gostar de um lugar onde via crianças usando armas e fui abusado. Meus pais me salvaram", afirma ele.
                         O americano, que já pediu para uma de suas quatro filhas não se referir como descendente de brasileiros - a mesma foi proibida de visitá-lo no Rio -, não se considera  religioso, mas sim com uma fé "em algo superior". "Adorava ir à igreja nos Estados Unidos. Fui a algumas missas aqui e pensava que iria aprender português. Mas meu cérebro simplesmente bloqueia." Ele ainda não se  acostumou com o estilo dos cariocas. "Sempre vestem bermuda!"


( Fonte: O Estado de S.Paulo )     

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