O Estado de S. Paulo
levanta a questão de um suposto brasileiro que expulso dos EUA e deportado para
o Brasil, não vê a hora de retornar ao estado de Nebraska, nos EUA, onde morou
cerca de trinta anos com os pais adotivos.
Paul Fernando Schreiner não vê a
hora de retornar ao Nebraska. Sem certidão de nascimento, Paul foi registrado
no município de Nova Iguaçu, quando Rosanna e Roger Schreiner decidiram
adotá-lo pelo preço de US$ 10 mil, em 1989. "Falaram que era um orfanato,
mas não entregaram nenhum documento aos meus pais, e ainda cobraram esse valor
para me levarem. Existe a suspeita de ter sido uma gangue de tráfico
sexual", afirma ele. Na época chamado pelas demais crianças da favela de
Fernando, nome de registro da certidão, Paul tinha irmã biológica que foi
raptada por "caras maus".
"A gente se escondia atrás de
latas de lixo para se desviar dos tiros. Nos refugiamos em uma casa e nunca mais
a vi." No suposto orfanato, onde ele afirma que os funcionários o levavam
para suas casas nos finais de semana,Paul foi vítima de constantes abusos
sexuais.
A história revelada ontem pela
Associated Press relata o drama que também pode acometer de 35 mil a 75 mil americanos adotados, segundo
estimativas de grupos de adoção estadunidenses.
Apesar de ter uma certidão de
nascimento americana, com o nome dos pais adotivos, Paul nunca foi
naturalizado. A Lei de Cidadania Infantil, assinada em 2000, facilitava a
concessão de cidadania a crianças estrangeiras adotadas, tornando-a automática.
Paul, no entanto, nunca
logrou o benefício, restrito a menores de dezoito anos na data da promulgação
da lei. O fato de haver obtido um
greencard, documento de cidadania legal para estrangeiros, também não o tornava
elegível, devido à sua ficha criminal
(preso durante oito anos por ter tido relações sexuais com uma jovem de
catorze anos, tendo sido acusado de estupro).
A "nova política
anti-imigração dos Estados Unidos" - leia-se governo Trump - exigiu do
Consulado-Geral do Brasil em Los Angeles - que tem jurisdição sobre o Arizona,
para onde Paul se mudara após sair da prisão - pressionou o órgão por um "atestado de nacionalidade",
onde ele está registrado somente como Fernando,
sem sobrenome ou nomes de seus pais, da mesma forma de sua certidão de
nascimento brasileira. Foi assim que
Paul, o brasileiro que não fala português e não tem família no Brasil, entrou
no país - sem passaporte. Os dados do atestado brasileiro não são os mesmos de sua certidão de nascimento americana - o
que por enquanto não permitiu que o governo brasileiro emitisse documentos
nacionais para ele. Diante disso, Paul
não consegue trabalhar, nem abrir conta em seu nome em um banco. Seu pai
deposita dinheiro para o filho ao casal que o abriga.
"O governo me considera
brasileiro, mas não sou tratado como um (sic). Só quero um passaporte para me
mudar para o Canadá, onde a cultura é parecida e meus pais poderão me visitar".
Em nota, o Ministério
das Relações Exteriores disse que o Consulado em Los Angeles foi
"instruído para confirmar formalmente, ante as autoridades americanas, a
nacionalidade brasileira do senhor Schreiner, que tinha uma ordem final de
deportação contra ele".
Paul ficou oito meses
detido em um centro para imigrantes ilegais nos Estados Unidos tentando
reverter sua ordem de deportação antes de ser trazido para o Brasil. "Eu preferi ficar oito meses
naquele lugar sendo tratado como imigrante ilegal do que vir para cá. Eu tinha
medo do Brasil e tenho ódio daqui (sic)."
Paul pede desculpas ao
referir ao país dessa maneira. "Eu
só tenho lembranças ruins daqui. Não
tem como eu gostar de um lugar onde via crianças usando armas e fui abusado.
Meus pais me salvaram", afirma ele.
O americano, que já
pediu para uma de suas quatro filhas não se referir como descendente de
brasileiros - a mesma foi proibida de visitá-lo no Rio -, não se considera religioso, mas sim com uma fé "em algo
superior". "Adorava ir à igreja nos Estados Unidos. Fui a algumas
missas aqui e pensava que iria aprender português. Mas meu cérebro simplesmente
bloqueia." Ele ainda não se acostumou
com o estilo dos cariocas. "Sempre vestem bermuda!"
(
Fonte: O Estado de S.Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário