Alvo recente
de protestos de rua - como na avenida Paulista - e símbolo de o que vem sendo
chamado de "velha política", o Centrão completa em 2019 três décadas
como fiel da balança - para bem e para o mal - na relação da Câmara dos
Deputados com todos os presidentes eleitos de forma democrática desde 1989.
A
partir dessa data, a atuação desse conjunto de partidos foi determinante para
manter (Temer) ou tirar (Dilma) presidentes do cargo, aprovar ou recusar
reformas, e ainda definir o ritmo da pauta, especialmente quando o governo tem
dificuldade em articular uma base parlamentar (caso atual do governo Bolsonaro).
Hoje e não por acaso reúne 42% dos partidos com representação na Casa. O
Centrão atual tem cerca de 225 deputados, perdendo 16% de seus votos no cotejo
com os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer.
Ao
longo de três décadas,o Centrão foi decisivo para diversos governos, contra e a
favor. Assim, na aprovação do mandato de cinco anos para José Sarney, do
impeachment de Dilma, e na rejeição das denúncias contra Temer.
Do caráter intrínseco da formação do Centrão,
quando o presidente se mostra mais proativo, o Centrão se enfraquece, como
assinala o cientista político Luiz Domingo Costa da PUC-PR. Já no atual
cenário, dois fatores fortalecem o grupo: o partido do presidente - que passou
de um para 54 deputados na última legislatura e tem pouca experiência na
articulação política - e a pouca disposição
do presidente Bolsonaro para acordos com o Congresso, o que tensiona a
relação. Dessa situação política, ficam inteligíveis a retirada do Conselho do
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça, comandado
pelo ex-Juiz Sérgio Moro, e a sua
transferência para o da Fazenda; e a aprovação pelo citado grupo do Orçamento
Impositivo, o que limita o controle do presidente sobre a execução orçamentária.
Enquanto permanecer a inépcia do atual governo em termos de efetiva
capacidade de implementação de suas políticas, haverá compreensíveis condições
mais favoráveis para a atuação do
aludido Centrão, o que decerto não implica que tal se traduza em eventual
atendimento do interesse nacional, como já se verificou nos dois exemplos
relacionados no parágrafo anterior.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário