sábado, 8 de junho de 2019

O chamado Centrão


                         

       Alvo recente de protestos de rua - como na avenida Paulista - e símbolo de o que vem sendo chamado de "velha política", o Centrão completa em 2019 três décadas como fiel da balança - para bem e para o mal - na relação da Câmara dos Deputados com todos os presidentes eleitos de forma democrática desde 1989.
         A partir dessa data, a atuação desse conjunto de partidos foi determinante para manter (Temer) ou tirar (Dilma) presidentes do cargo, aprovar ou recusar reformas, e ainda definir o ritmo da pauta, especialmente quando o governo tem dificuldade em articular uma base parlamentar (caso atual do governo Bolsonaro). Hoje e não por acaso reúne 42% dos partidos com representação na Casa. O Centrão atual tem cerca de 225 deputados, perdendo 16% de seus votos no cotejo com os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer.
           Ao longo de três décadas,o Centrão foi decisivo para diversos governos, contra e a favor. Assim, na aprovação do mandato de cinco anos para José Sarney, do impeachment de Dilma, e na rejeição das denúncias contra Temer.
            Do caráter intrínseco da formação do Centrão, quando o presidente se mostra mais proativo, o Centrão se enfraquece, como assinala o cientista político Luiz Domingo Costa da PUC-PR. Já no atual cenário, dois fatores fortalecem o grupo: o partido do presidente - que passou de um para 54 deputados na última legislatura e tem pouca experiência na articulação política - e a pouca disposição  do presidente Bolsonaro para acordos com o Congresso, o que tensiona a relação. Dessa situação política, ficam inteligíveis a retirada do Conselho do Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça, comandado pelo ex-Juiz  Sérgio Moro, e a sua transferência para o da Fazenda; e a aprovação pelo citado grupo do Orçamento Impositivo, o que limita o controle do presidente sobre a execução orçamentária.
             Enquanto permanecer a inépcia do atual governo em termos de efetiva capacidade de implementação de suas políticas, haverá compreensíveis condições mais favoráveis  para a atuação do aludido Centrão, o que decerto não implica que tal se traduza em eventual atendimento do interesse nacional, como já se verificou nos dois exemplos relacionados no parágrafo anterior.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Nenhum comentário: