Que embaixador dos Estados Unidos em Israel, David Friedman, tenha
dito ao New York Times que aquele país tem "o direito" de anexar
partes da Cisjordânia - sem entrar na posição clássica dos chefes de missão, que
é a da não imiscuir-se em questões internas do país junto ao qual exerce suas
funções - tal outrossim desrespeita o longo percurso das relações entre Washington e Tel Aviv, em
que os Estados Unidos sempre envidaram grandes esforços no sentido de
apresentar-se como um honest broker
(corretor honesto), nas relações entre esses dois Povos.
Há de notar-se que faz tempo tal precioso ponteiro, que deveria
orientar-se pela equidistância dos ponteiros de Washington entre as comunidades
árabes e judaica, tem apresentado uma tendência lamentável a esquecer que a
pátria americana sempre no passado procurara equilibrar tais relações.
Se não teve várias vezes, desde que o demagogo Donald Trump assumiu o poder em Washington tais relações que, se
não eram um espelho do adequado neutralismo da Superpotência, prometiam ao
menos alguma esperança à parte árabe-palestina que se, por uma série de
circuns-tâncias, algumas das quais auto-infligidas, a Superpotência tenderia a
agir com equanimidade e um mínimo de Justiça, que é devida e em especial ao
lado atualmente mais fraco nesse secular conflito.
O pouco responsável Trump terá rompido muito com o que se possa presumir de
neutralismo de Washington com a decisão, inaudita para os seus antecessores, de
trazer Jerusalém para o centro do diferendo árabe-israelense, quando este senhor resolvera reconhecer Jerusalém
como a capital de Israel.
Quando o erro passa a ser havido como acerto, compreendem-se as molestas
conse-quências para as partes em litígio, e mais notadamente àquelas a que lhes
parece atravessar momento favorável, com vistas a tirar proveito de uma
suposta posição enfraquecida da outra parte.
Desde a última guerra entre
Israel e a comunidade árabe-palestina, com a invasão da margem ocidental e o
consequente desequilíbrio das relações no secular conflito árabe-israelense,
temos assistido a uma série de lamentáveis malogros. Toda a margem ocidental
do rio Jordão,ao arrepio de várias
resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, foram na prática
anexadas por Israel, e hoje se assiste ao olvido de tais determinações,
avolumando-se a zoeira de supostas assertivas que assumiriam como fundadas no Direito das Gentes o que, na verdade,
não passa de uma sanhuda e ilegal apropriação de o que não pertence à gente
israelense, mas sim - e com base em inúmeros tratados e determinações internacionais
- ao povo árabe-palestino.
Assim, de uma
época em que se desenhava no horizonte uma perspectiva de relações
pacíficas ou pelo menos marcadas por um
mínimo entendimento do Ius gentium, em que se substituía a posse ilegal de
territórios alheios uma atmosfera de entendimento - por difícil que tal prática
seja, sobretudo se lançarmos os olhos a um mapa de divisões históricas entre os
povos que hoje são sucessores de uma situação que hoje é
marcada pelo flagrante desrespeito do direito das gentes e das determinações do
Conselho de Segurança, e que intenta substituir
a ignorância militante da parte israelense ao direito internacional, que
a par de assegurar o respeito aos territórios ancestrais, sói ser garante de
uma Paz que não é de partido, mas sim que assegura pela intrínseca justiça um
futuro de convivência pacífica e de recíproco respeito às comunidades envolvidas.
(
Fontes:William Bundy, A Tangled Web; O
Estado de S.Paulo )
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