domingo, 9 de junho de 2019

Anexar partes da Cisjordânia ?


                                 
             Que embaixador dos Estados Unidos em Israel, David Friedman, tenha dito ao New York Times que aquele país tem "o direito" de anexar partes da Cisjordânia - sem entrar na posição clássica dos chefes de missão, que é a da não imiscuir-se em questões internas do país junto ao qual exerce suas funções - tal outrossim desrespeita o longo percurso  das relações entre Washington e Tel Aviv, em que os Estados Unidos sempre envidaram grandes esforços no sentido de apresentar-se como um honest broker (corretor honesto), nas relações entre esses dois Povos.

               Há de notar-se que faz tempo tal precioso ponteiro, que deveria orientar-se pela equidistância dos ponteiros de Washington entre as comunidades árabes e judaica, tem apresentado uma tendência lamentável a esquecer que a pátria americana sempre no passado procurara equilibrar tais relações.

                 Se não teve várias vezes, desde que o demagogo Donald Trump assumiu o poder em Washington tais relações que, se não eram um espelho do adequado neutralismo da Superpotência, prometiam ao menos alguma esperança à parte árabe-palestina que se, por uma série de circuns-tâncias, algumas das quais auto-infligidas, a Superpotência tenderia a agir com equanimidade e um mínimo de Justiça, que é devida e em especial ao lado atualmente mais fraco nesse secular conflito.
                    O pouco responsável Trump terá rompido muito com o que se possa presumir de neutralismo de Washington com a decisão, inaudita para os seus antecessores, de trazer Jerusalém para o centro do diferendo árabe-israelense,  quando este senhor resolvera reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.
                     Quando o erro passa a ser havido como acerto, compreendem-se as molestas conse-quências para as partes em litígio, e mais notadamente àquelas a que lhes parece atravessar momento favorável, com vistas a tirar proveito de uma suposta posição enfraquecida da outra parte.
                        Desde a última guerra entre Israel e a comunidade árabe-palestina, com a invasão da margem ocidental e o consequente desequilíbrio das relações no secular conflito árabe-israelense, temos assistido a uma série de lamentáveis malogros. Toda a margem ocidental do rio  Jordão,ao arrepio de várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, foram na prática anexadas por Israel, e hoje se assiste ao olvido de tais determinações, avolumando-se a zoeira de supostas assertivas que assumiriam como fundadas no Direito das Gentes o que, na verdade, não passa de uma sanhuda e ilegal apropriação de o que não pertence à gente israelense, mas sim - e com base em inúmeros tratados e determinações internacionais - ao povo árabe-palestino.

                             Assim, de uma época em que se desenhava no horizonte uma perspectiva de relações pacíficas  ou pelo menos marcadas por um mínimo entendimento do Ius gentium, em que se substituía a posse ilegal de territórios alheios uma atmosfera de entendimento - por difícil que tal prática seja, sobretudo se lançarmos os olhos a um mapa de divisões históricas entre os povos que hoje   são sucessores de uma situação que hoje é marcada pelo flagrante desrespeito do direito das gentes e das determinações do Conselho de Segurança, e que intenta substituir  a ignorância militante da parte israelense ao direito internacional, que a par de assegurar o respeito aos territórios ancestrais, sói ser garante de uma Paz que não é de partido, mas sim que assegura pela intrínseca justiça um futuro de convivência pacífica e de recíproco respeito às comunidades envolvidas.


( Fontes:William Bundy, A Tangled Web;  O Estado de S.Paulo    )

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