A
Holanda e a Austrália responsabilizaram a Rússia pelo desastre com o vôo MH17 da Malaysian Airlines, que caíu a 17 de julho de 2014, em planície no leste
da Ucrânia, então zona de conflito entre o Exército ucraniano e os separatistas
pró-Russia, estipendiados pelo governo russo de Vladimir Putin.
A
equipe de Investigação Conjunta (JIT)
indiciou ontem três russos e um ucraniano por envolvimento na queda do vôo
MH17. Nesse sentido, o promotor-chefe
holandês, Fred Westerbeke, e o chefe da polícia, Wilbert Paulissen, anunciaram
que serão emitidas ordens de detenção internacional para os russos Sergei
Dubinski, Oleg Pulatov e Igor Girkin, assim como para o ucraniano Leonid
Kharchenko.
Nesse sentido, será feito pedido oficial à Russia para que sejam
interrogados os suspeitos, a título de assistência legal ao processo
judicial. Infelizmente, no entanto, as
constituições tanto da Federação Russa,
quanto da Ucrânia proíbem a entrega dos respectivos nacionais a países
estran-geiros, para serem julgados.
Tanto a Holanda, quanto a Austrália responsabilizaram a Rússia pela queda do avião da Malaysian Airlines, pois uma brigada russa forneceu o sistema que
lançou o míssil BUK, que causou a tragédia, uma das maiores na história da
aviação comercial, eis que morreram 298 pessoas, sendo 193
de nacionalidade holandesa.
Os acusados dessa catástrofe aérea
muito provavelmente só poderão ser julga-dos à revelia, pois não é nada
provável que o governo da Rússia
autorize a entrega dos suspeitos, segundo a já citada equipe de
Investigação Conjunta.
Mas a investigação do grupo Bellingcat, que analisou 150 mil diálogos
telefônicos entregues pelos serviços de segurança da Ucrânia, e publicou a
dezenove de junho corrente um novo e atualizado relatório, no qual são
identificados, com nome, sobrenome e fotografia, oito pessoas, que são agentes
russos e insurgentes ucranianos, que estão envolvidos nesta tragédia da aviação
civil internacional, certamente um dos maiores desastres da aeronáutica, provocado,
com dolo evidente, pelos ditos agentes da Rússia.
Naquele fatídico dezessete de julho de 2014 o aludido vôo - que fazia a
rota entre Amsterdam e Kuala Lumpur - foi estúpida e brutalmente abatido por um
míssil terra-ar BUK, de fabricação russa. Passados quase cinco
anos dessa hecatombe na aviação civil internacional, por mais de um punhado de anos muitos dos
cadáveres de passageiros inocentes terão jazido naqueles desolados espaços, na
vã espera que as autoridades fizessem as necessárias diligências para que lhes
fosse dado, como a todos os mortais, sepultura digna nos seus respectivos
países. Pois não seria nas estepes da
Ucrânia, um país pacífico que ainda hoje luta pelo respeito e preservação da
própria independência, objeto que é de ataques, dirigidos ou estipendiados pelo
Kremlin, que seria o local apropriado, na sua quase desolação, para abrigar
tantas vítimas inocentes de um hediondo crime de guerra. Não faz muito,
decerto, que a Federação Russa cometeu outra agressão contra a Ucrânia, a quem gospodin Vladimir Putin, senhor de todas as Rússias, mandou que lhe
fosse arrebatada a península da Crimeia, por uma força que apesar de não ter
sinais nacionais nos respectivos uniformes, não disfarçava qual era o poder que
a encarregara dessa execrável tarefa.
Infelizmente, as
realidades da política e do direito internacional não permitem que tais
horrendas infrações ao direito das gentes sejam julgadas tanto com presteza,
quanto no lugar adequado. Por isso, aqueles
que são indiretamente responsá-veis por
esse mega-desastre aéreo - e aqui cabe a
frase célebre de Virgilio, na Eneida -
horresco referens [1]-
descuidaram, por desatenção ou negligência, ao tornar realidade esse brutal acidente aéreo - que espero ainda não
haja resultado de um dolo específico, mas sim de eventual culpa, provocada por
ocasional desatenção, - uma consequência direta de confiar-se tais
máquinas bélicas que podem causar tantas mortes a agentes a que não deveriam
ser confiadas, tanto no seu menosprezo pelo direito de todos, quanto na
respectiva incapacidade de aquilatar a enormidade dos mega-crimes que eventual imprudência de que lhe sejam entregues
armas tão sofisticadas e, em consequência de demasiado alta periculosidade,
para que venham a ser cometidas a autoridades de menor hierarquia.
Como encontrar soluções para que tais
tragédias - fruto legítimo da húbris
criminosa e de negligência que vai muito além das humanas precauções - possam
ser evitadas, poupando a todos e, em especial, à gente de boa vontade, que se
criem condições materiais com a necessária eficácia para que se possa varrer da
História tais hecatombes, ao estabelecer-se a necessária, imprescindível
transparência para que não mais venham a concretizar-se tais matanças, que
devem envergonhar a todos aqueles que, direta ou indiretamente, hajam
eventualmente contribuído, por imperícia ou negligência, a que se formem as
condições materiais necessárias para que elas surjam e eventualmente atuem para que tais
tragédias se materializem, em áreas ou mesmo países de que as possíveis e
ignaras vítimas nada saibam. Tais
imprecisões, tais longínquos conflitos que, de repente, por artes do demônio,
venham a transformar-se em fontes de
lágrimas, fundo desespero, e de tantas
suspicácias a respeito daqueles infelizes, pacíficos seres humanos, que mal
descortinavam a sorte madrasta que muito abaixo das nuvens e das extensas
planícies, lhes estava sendo preparada, a eles, humanos seres do planeta Terra que apenas
pretendiam viajar, ou por causa de entes queridos, ou de belezas naturais que
desejavam conhecer, e que viessem a serem colhidos por um mensageiro da fatalidade,
que provinha de ignotas estepes, pois seja dito uma vez mais, que eles nada
sabiam sobre o que haveria naquela terra, que, de repente, se tornaria brutalmente
relevante e, por isso, implicada na tragédia aérea, sem que nenhum dos 298 passageiros
sequer pensasse na absurda hipótese daquele vôo, de que thanatos
se apossara da cabine de comando, de
repente a magra assumisse os controles e sobretudo os
descontroles, com o geral desespero, por ventura fulmíneo, diante do súbito,
irresistível mergulho que poria fim àquele congraçamento de vontades, ilusões,
antecipações e até tímidas esperanças, eis que, em questão de minuto, quiçá
segundos, a aeronave despencaria na queda sempre vertiginosa, até lenta e
soturnamente transformar-se em notícia, nas terras longínquas e tão caras a
todos aqueles que a tinham embarcado, com a alegria esperançosa que acompanha a
qualquer viajante. Pois todos esses infelizes - duzentos e noventa e oito deles -
seriam colhidos por outra travessia, que no seu fatal e enlouquecido
despencar de forma quase instantânea se
tornasse a causa de que todos aqueles seres humanos viajassem com a rapidez da
fatalidade inexorável não mais para a destinação marcada em seus bilhetes, e
sim para o chão de nação a que nunca realmente conheceriam, para a terra
agreste e dura daquele país, a que tinham sobrevoado mas que de cujo destino
nada conheciam para um país de que nada sabiam, inda que para eles todos, velhos, homens, mulheres e crianças, iria
transformar-se no incerto e brutal choque com aquela terra ignota que no baque
surdo se torna a precária nuvem de poeira que, por escassos minutos, vai vestir a provisória sepultura de terminal e
adversa fatalidade, como se a natureza daquelas paragens solitárias aos poucos se
recompusesse s daquela brutal intromissão.
(
Fontes: O Estado de S. Paulo; Virgílio, Carlos Drummond de Andrade, Neville
Chamberlain.)
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