sexta-feira, 7 de junho de 2019

A especial loucura de Trump por tarifas


                 
       O exercício tarifário está entre os poderes discricionários para Donald Trump, o presidente americano que parece amar as tarifas, que ele dá a impressão de encarar como um dos seus instrumentos prioritários em termos de política comercial exterior, o que semelha comprovado pelo seu desmesurado  uso em termos de relações comerciais com o estrangeiro. Está aí a República Popular da China, de Xi Jinping, a segunda potência econômica mundial se não estou enganado, que terá no capítulo algo a dizer em termos de tal emprego pelo 45º  presidente americano.
           Desde muito Donald Trump reserva ao México uma atenção especial. Não se esquecerá que muito antes das primárias que o conduziram à convenção do Partido    Republicano e a consequente designação para a sua discutida vitória sobre a candidata Hillary Clinton - que teria sido eleita se o critério estadunidense fosse similar à quase totalidade dos países democráticos - vale dizer se sufraga como presidente quem tem a maioria numérica nos respectivos votos totais somados  -  o recém-candidato à nomination pelo G.O.P. já batia na tecla dos "mexicanos estupradores" que invadiam os Estados Unidos pela falta de defesas  nas fronteiras com aquele país para impedir-lhe a entradas em território americano.  Desde então falava sobre a necessidade do "muro" não só para defender do ingresso ilegal de tais invasores o solo americano, mas também para afastar a ameaça de suas práticas sexuais contra as mulheres americanas.
            Como nas tristemente famosas palavras sobre a eficácia da calúnia e da mentira nas relações humanas - delas restaria sempre algum vestígio que lhes justificaria a posteriori o nefasto emprego - não há negar que tais lamentáveis declarações não diminuíram decerto o impacto de sua presença nessa grande e ritual festa da democracia estadunidense, trazendo para o grande público o impacto de tais assertivas, por mais obnóxias que elas sejam. Não pretendo cansar o grande público com a coorte do discutível adjutório que serviu à minoritária postulação de Donald Trump, que veio não só do interior, mas também de intentos de intervenção externa no período eleitoral - sem falar de ambíguos anúncios tendentes a confundir o eleitor,  em sentido contrário às recomendações do Departamento competente - mas se para alguma coisa serviriam terá sido para recordar que os Estados Unidos não devem tardar em implementar, como na esmagadora maioria das democracias, que o ganhador do pleito seja sempre aquele que obtiver o maior número de votos do Povo estadunidense, sem cavilosas distinções. Basta de intermediários que se eram admissíveis no século XVIII, com os grandes obstáculos em um país continental, deixaram desde muito de sê-lo. Dar um voto a cada cidadão e contá-lo dessa forma, pouparia à grande pátria da Democracia ter de lidar com estranhos pleitos, como algum decidido pela Suprema Corte, e outros, em que o vencedor colheu junto aos cidadãos americanos menos votos do que aquele (ou aquela) ironicamente designado como perdedor.
             Trump, é forçoso admiti-lo, tem empregado em demasia a "arma" tarifária.  Nesse episódio, uma delegação mexicana, chefiada pelo chanceler Marcelo Erbard, que representa o novo governo do Presidente Manuel Lopez Obrador, já está nos Estados Unidos, tentando obter acordo para impedir a imposição de tarifas na próxima segunda-feira.  Erbard negocia com o secretário de Estado, Mike Pompeo, e com o vice-presidente Pence. No entanto, essa "negociação" é uma cortina para a ameaça de imposição tarifária de parte presidencial, no estilo Trump.  Enganam-se e muito, porém, aqueles que, pensando na posição mexicana dependente das exportações para os Estados Unidos, tremem diante de tarifas americanas que as inviabilizem. Há muito estados americanos - como o Texas - que perderiam milhares de empregos, como o declara o Senador republicano Ted Cruz, com a guerra tarifária. Como Trump já terá sentido, com a sua famosa predileção pelas tarifas, elas também podem atuar negativamente, como o episódio República Popular da China já o demonstrou de forma cabal.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )     

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