O exercício tarifário
está entre os poderes discricionários para Donald Trump, o presidente americano
que parece amar as tarifas, que ele dá a impressão de encarar como um dos seus
instrumentos prioritários em termos de política comercial exterior, o que
semelha comprovado pelo seu desmesurado uso em termos de relações comerciais com o estrangeiro.
Está aí a República Popular da China, de Xi Jinping, a segunda potência
econômica mundial se não estou enganado, que terá no capítulo algo a dizer em
termos de tal emprego pelo 45º presidente americano.
Desde muito Donald Trump reserva ao
México uma atenção especial. Não se esquecerá que muito antes das primárias que
o conduziram à convenção do Partido Republicano e a consequente designação para a
sua discutida vitória sobre a candidata Hillary Clinton - que teria sido eleita
se o critério estadunidense fosse similar à quase totalidade dos países
democráticos - vale dizer se sufraga como presidente quem tem a maioria
numérica nos respectivos votos totais somados
- o recém-candidato à nomination
pelo G.O.P. já batia na tecla dos "mexicanos estupradores" que
invadiam os Estados Unidos pela falta de defesas nas fronteiras com aquele país para impedir-lhe
a entradas em território americano.
Desde então falava sobre a necessidade do "muro" não só para
defender do ingresso ilegal de tais invasores o solo americano, mas também para
afastar a ameaça de suas práticas sexuais contra as mulheres americanas.
Como nas tristemente famosas palavras sobre a eficácia da calúnia e da
mentira nas relações humanas - delas restaria sempre algum vestígio que lhes
justificaria a posteriori o nefasto
emprego - não há negar que tais lamentáveis declarações não diminuíram decerto
o impacto de sua presença nessa grande e ritual festa da democracia
estadunidense, trazendo para o grande público o impacto de tais assertivas, por
mais obnóxias que elas sejam. Não pretendo cansar o grande público com a coorte
do discutível adjutório que serviu à minoritária postulação de Donald Trump,
que veio não só do interior, mas também de intentos de intervenção externa no
período eleitoral - sem falar de ambíguos anúncios tendentes a confundir o
eleitor, em sentido contrário às recomendações
do Departamento competente - mas se para alguma coisa serviriam terá sido para
recordar que os Estados Unidos não devem tardar em implementar, como na
esmagadora maioria das democracias, que o ganhador do pleito seja sempre aquele
que obtiver o maior número de votos do Povo estadunidense, sem cavilosas
distinções. Basta de intermediários que se eram admissíveis no século XVIII,
com os grandes obstáculos em um país continental, deixaram desde muito de
sê-lo. Dar um voto a cada cidadão e contá-lo dessa forma, pouparia à grande
pátria da Democracia ter de lidar com estranhos pleitos, como algum decidido
pela Suprema Corte, e outros, em que o vencedor colheu junto aos cidadãos
americanos menos votos do que aquele (ou aquela) ironicamente designado como
perdedor.
Trump, é forçoso admiti-lo, tem
empregado em demasia a "arma" tarifária. Nesse episódio, uma delegação mexicana,
chefiada pelo chanceler Marcelo Erbard, que representa o
novo governo do Presidente Manuel Lopez Obrador, já está nos Estados Unidos,
tentando obter acordo para impedir a imposição de tarifas na próxima
segunda-feira. Erbard negocia com o
secretário de Estado, Mike Pompeo, e com o vice-presidente
Pence. No entanto, essa "negociação" é uma cortina para a ameaça de
imposição tarifária de parte presidencial, no estilo Trump. Enganam-se e muito, porém, aqueles que,
pensando na posição mexicana dependente das exportações para os Estados Unidos,
tremem diante de tarifas americanas que as inviabilizem. Há muito estados
americanos - como o Texas - que perderiam milhares de empregos, como o declara
o Senador republicano Ted Cruz, com a guerra tarifária. Como Trump já terá
sentido, com a sua famosa predileção pelas tarifas, elas também podem atuar
negativamente, como o episódio República Popular da China já o demonstrou de
forma cabal.
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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