segunda-feira, 17 de junho de 2019

Manifestações em Hong Kong


                 
                                                                                    (16 de junho de 2019)
       A democracia em Hong Kong se expressa sobretudo pelas grandes manifestações, como ora se verifica naquela antiga cidade-estado, e hoje província da RPC (a partir de 1997). Agora, vestindo preto, os manifestantes - que, sem dúvida protagonizaram o maior meeting desde que a ilha foi formalmente devolvida a Beijing em 1997 - aumentaram agora as reivindicações, passando a exigir a renúncia da diretora-executiva da cidade, Carrie Lam.
            E, no entanto, a "líder" de Hong Kong, no complexo jogo político da antiga colônia inglesa,  já suspendera por prazo indefinido o projeto de lei que permitira a autoridades extraditar pessoas para países com os quais o território não tem acordo - e entre eles a RPC.
             Os negros trajes da multidão de manifestantes implicavam igualmente na renúncia de Carrie Lam, como Diretora-Executiva da cidade. Dentro da complexa relação entre Hong Kong e a representante da China, comparecia igualmente a cor preta, que é aquela que em diversas culturas expressa o sentimento de perda.
              É nesse jogo oriental da incerteza que a manifestação foi mantida, apesar de na véspera, a Lam ter suspendido indefinidamente - mas não cancelado - o controverso projeto de lei , em uma escalada que pôs em questão sua capacidade enquanto governante de Hong Kong. 
             Nessa ocasião, ela pediria desculpas pela maneira como o governo do território lidara com o projeto de lei (ele estava previsto para ser aprovado até julho).  Embora ela não tenha dado maiores detalhes sobre o destino da legislação, presume-se que tenha sido engavetado.
                   Perguntada repetidamente se tencionava demitir-se, ela evitou responder di-retamente e apelou à multidão por "outra chance". Não obstante a forte reação de grupos empresariais, inclusive a Câmara Americana de Comércio, e outros governos ocidentais, Lam argumentou a lei de extradição era necessária para impedir que criminosos  se homiziassem em Hong Kong. Nesse sentido, ela alegou  que os direitos humanos seriam protegidos pelos tribunais da cidade, que decidiriam caso a caso  sobre as eventuais extradições.
                      Tal não foi bastante para acalmar os organizadores da marcha. Nesse sentido,eles pressionaram com o protesto para exigir a total retirada do projeto, bem como extravasar a própria raiva com a forma pela qual a polícia lidara com uma manifestação contra a Lei na quarta-feira, quando mais de 70 pessoas ficaram feridas por balas de borracha e intoxicadas pelo gás lacrimogêneo. A esse respeito, alguns dos manifestantes seguravam cartazes em que se dizia: "Não atirem, nós somos Hong Kong."
                          Em termos de estimativas sobre o número de manifestantes, é notório que policiais e organizadores costumavam discrepar largamente  enquanto ao tamanho dos protestos.  No caso, enquanto os organizadores falavam em um milhão para o protesto na semana passada, a polícia o estimou em 240 mil.

                        Crise Política.   A reação do comitê organizador se dividia entre o pro-testo pela retirada total do projeto, assim como para demonstrar indignação pela atitude violenta da polícia, com o gás lacrimogêneo e as balas de borracha. Nesse sentido, críticos apontaram que a lei de extradição pode ameaçar o Estado de Direito de Hong Kong e, por conseguinte, afetar-lhe  a reputação internacional como centro financeiro asiático.
                           Outra repercussão negativa da crise política está na ameaça da Lei de Extradição ao Estado de Direito de Hong Kong e, assim, afetar-lhe a reputação internacional como centro financeiro asiático. Ainda nesse sentido, alguns milionários de Hong Kong já começaram a transferir  a riqueza pesssoal para o exterior, temendo retaliações chinesas.
                             Por outro lado, em mensagem publicada ontem, o secretário financeiro de Hong Kong,  Paul Chang, tentou minimizar o impacto dos protestos.
                              Além disso, em indicação de possível mudança de atitude em Beijing,  líder das manifestações pro-democracia  "Occupy", que abalaram Hong Kong em 2014, talvez esteja prestes a ser solto da prisão.
                               A par do miserável trabalho  para apagar ou bloquear notícias relativas às mais recentes  notícias  sobre os protestos, verificou-se uma forte vaga repressiva - que com óbvio exagero se comparou àquela de junho de 1989, que desembocara na nefanda repressão na Praça da Paz Celestial
                               Sem embargo, além da devolução de Hong-Kong à China, a ilha passou a ser governada sob a égide da fórmula "um país, dois sistemas".  Essa cidade garante liberdades inexistentes na China continental, mas a executiva-chefe não é escolhida por voto direto.  Nesse contexto, muitos acusam Beijing de extensa interferência na ilha, inclusive na obstrução de reformas democráticas.

( Fonte: O  Globo  )

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