sábado, 29 de junho de 2019

Exemplos para nossos dias


                              
        Em artigo para o Washington Post, Philip Kennicott  se reporta não só à desgraça de Oscar Alberto Martínez e sua filha Valeria, como  àquela do menino Alan Kurdi, que aparecera em praia pedregosa de ilha perdida no mar Jônico, em  imagem que comovera  o mundo, pois se diria dormir, com o rosto oculto pelos bracinhos inocentes, no que é talvez a epítome da provocada barbárie, com que Bashar al-Assad salvou a sangrenta presidência, com a cavilosa ajuda de Vladimir Putin.  

         O garoto Alan parece repousar placidamente. Nunca foto de criança morta terá exposto naquele grácil corpo em que semelha dormitar a cruel antítese entre a bestialidade da guerra  e o seu rastro maldito de vítimas. Ali,  se diria tira uma sesta criancinha inocente, em descanso que desejamos provisório, pois Alan cochila apenas sob aquele céu complacente do mar Jônico, enquanto sua mãe não volta.
            E a imagem, na sua placidez,  fustiga com mais força tudo que ela parece ocultar, como se a mãe já estivesse a caminho para abraçar a criança e levá-la para o abrigo seguro. 
            O drama, na verdade a tragédia, das diferenças na sorte me parece também presente na morte de pai e filha que pensaram possível enfrentar e vencer o desafio da fronteira entre México e Estados Unidos. De um lado, a cara fechada que parece querer encarnar a força da superpotência. Donald  Trump é um embuste ambulante, o cenho carregado, a encenação levada ao cúmulo, como se possível fosse enfiar-se a terrível carantonha para intimidar a López Obrador.
                 Tanto um, quanto outro, Amlo e Donald, apesar dos esforços que fazem, não impressionam. Aquele por não entender o que sua gente mais do que quer, precisa; este, por pensar que cara feia, significa firmeza.

                    Nesta semana, consumida por doença, Angela Merkel não enjeita compromissos oficiais. O seu povo a conhece e decerto lamenta a próxima partida. Logo ela que enquanto os mais fechavam os portões das duanas, as abriu para um milhão de sírios desesperados.
                       Na coragem, ela deu uma lição a líderes europeus que mais acreditavam na solução do arame farpado. Enquanto outros se escondiam, ela mostrou destemor. Os timoratos, com suas caras feias e sisudas,  pensaram que ela cairia breve.
                          Estavam equivocados. Hoje, depois de anos, ela tem de arrostar um desafio ainda maior. Terá, por força superior, de sair da  Chancelaria federal.  Mas o fará com a determinação e a firmeza que lhe marcaram na coragem política e na conhecida humanidade  a sua permanência à testa da Bundeskanzlei que, no passado, fora de Konrad Adenauer  (CDU) e Willy Brandt (SPD).
                             

( Fontes: Phillip Kennicott, O  Estado do S. Paulo, Washington Post, The New York Times , Der Spiegel, Nouveau Larousse Encyclopédique )       

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