Em
depoimento de quase nove horas à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), do
Senado, o ministro da Justiça, Sérgio
Moro, negou haver cometido qualquer irregularidade em conversas com o
procurador Deltan Dallagnol. Sem embargo, disse que deixará o cargo, se for
comprovada alguma falha de conduta dele na Operação Lava-Jato.
Num ambiente marcado pela presença
maciça de aliados, o Ministro Moro pôde repetir o discurso que tem adotado
sobre o caso, de que as mensagens divulgadas foram obtidas de forma ilegal
por um grupo de criminosos, interessados em destruir a Lava-Jato e atrapalhar o
combate à corrupção. De 40 senadores que tomaram a palavra, 28 adotaram postura
favorável ao Ministro Moro. Alguns deles
sequer faziam perguntas, mas apenas elogios.
Em um dos momentos mais tensos do
debate, ao responder ao Senador Jaques Wagner (PT), Moro cobrou que o site"The Intercept Brasil" "divulgue
de uma vez todo o conteúdo das supostas conversas para que a sociedade julgue
se houve alguma incorreção de sua parte."Estou absolutamente tranquilo
quanto a isso, mas, se esse é o problema, então o site apresente tudo. Vamos
submeter isso então ao escrutínio público. E, se houver ali irregularidade de
minha parte, eu saio, mas não houve", declarou o Ministro.
Diante
dos senadores, Moro disse não reconhecer
a autenticidade de trechos de supostos diálogos entre ele e Dallagnol,
divulgados pelo site nas duas últimas
semanas. O ministro argumentou que não pode comprovar a veracidade dos textos
porque não se lembra deles e por não mais ter o aplicativo Telegram. Moro levantou a possibilidade de
adulteração dos diálogos . Mesmo assim, aduziu que não há qualquer crime nas
conversas divulgadas.
Consoante disse o Ministro Moro: "Sobre
as mensagens que foram divulgadas, não posso afirmar a autenticidade, mas ali
não há nada, não é só a minha opinião, mas de várias pessoas já citadas aqui,
que denote qualquer quebra de imparcialidade ou de anormalidade."
Em outro momento, Moro foi mais incisivo, em irônica resposta ao Senador
Fabiano
Contarato (Rede-ES): "Pelo que eu entendi da sua fala, o senhor
defende a anulação de tudo então, todas as condenações, todas as denúncias,
devolver o dinheiro para Renato Duque, Paulo Roberto Costa?"
O ministro da Justiça, no entanto, deixou perguntas sem resposta, entre
elas se autorizaria o Telegram a
fornecer a íntegra das suas conversas com Dallagnol. Moro, nesse contexto, se limitou a dizer que
ele apagara o aplicativo e que, portanto, o acesso é impossível. No entanto, a política de privacidade do
aplicativo informa que, mesmo quando
as mensagens são apagadas, continuam disponíveis para o interlocutor, nesse
caso, Deltan. No fim do dia, a força-tarefa da Lava-Jato divulgou nota
informando que os procuradores deletaram seu histórico de mensagens após
serem alvo de hackers.
Sem embargo, nem tudo foram flores nos depoimentos e nas perguntas dos
senadores. Nesse sentido, a Oposição
intentou aumentar a temperatura da sessão no Senado. Nesse contexto, o senador Humberto
Costa (PT-PE) perguntou a Moro se ele estaria ali na condição de
investigado ou de testemunha.
A presidente
da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS) reagiu e informou que Moro estava ali como um
ministro, não como testemunha e muito menos como investigado. O ministro aduziu que não responderia a
Costa, por considerar "agressivos" os comentários do senador.
Em outro momento, Moro disse, em tom de
advertência, que o senador Rogério Carvalho (PT-SE) estava
fazendo acusações graves. falsas e que deveria se informar melhor. Depois de
sugerir relacionamento de Moro com
desembargadores do TRF-4, que endossaram a condenação do ex-presidente Lula,
Carvalho quis saber quem teria pago
supostas despesas de Moro com uma empresa de comunicações, com vistas ao
ministro enfrentar um dia inteiro no Senado. A tal propósito, Moro reagiu: "O senhor está, de novo, fantasiando.
Talvez o senhor tenha lido esses blogues fantasiosos, como esse que está
fazendo essas ilações em cima dessas supostas mensagens, e está tirando
conclusões precipitadas."
(
Fonte: O Globo )
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