quinta-feira, 20 de junho de 2019

Depoimento de nove horas de Moro à CCJ


                              

       Em depoimento de quase nove horas à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), do Senado, o  ministro da Justiça, Sérgio Moro, negou haver cometido qualquer irregularidade em conversas com o procurador Deltan Dallagnol. Sem embargo, disse que deixará o cargo, se for comprovada alguma falha de conduta dele na Operação Lava-Jato.

          Num ambiente marcado pela presença maciça de aliados, o Ministro Moro pôde repetir o discurso que tem adotado sobre o caso, de que as mensagens divulgadas foram obtidas de forma ilegal por um grupo de criminosos, interessados em destruir a Lava-Jato e atrapalhar o combate à corrupção. De 40 senadores que tomaram a palavra, 28 adotaram postura favorável ao Ministro Moro.  Alguns deles sequer faziam perguntas, mas apenas elogios.

              Em um dos momentos mais tensos do debate, ao responder ao Senador Jaques Wagner (PT), Moro cobrou que o site"The Intercept Brasil" "divulgue de uma vez todo o conteúdo das supostas conversas para que a sociedade julgue se houve alguma incorreção de sua parte."Estou absolutamente tranquilo quanto a isso, mas, se esse é o problema, então o site apresente tudo. Vamos submeter isso então ao escrutínio público. E, se houver ali irregularidade de minha parte, eu saio, mas não houve", declarou o Ministro.

                Diante dos senadores, Moro disse  não reconhecer a autenticidade de trechos de supostos diálogos entre ele e Dallagnol, divulgados pelo site nas duas últimas semanas. O ministro argumentou que não pode comprovar a veracidade dos textos porque não se lembra deles e por não mais ter o aplicativo Telegram.  Moro levantou a possibilidade de adulteração dos diálogos . Mesmo assim, aduziu que não há qualquer crime nas conversas divulgadas.
                   Consoante disse o Ministro Moro:  "Sobre as mensagens que foram divulgadas, não posso afirmar a autenticidade, mas ali não há nada, não é só a minha opinião, mas de várias pessoas já citadas aqui, que denote qualquer quebra de imparcialidade ou de anormalidade."

                   Em outro momento, Moro foi mais incisivo, em irônica resposta ao Senador Fabiano Contarato (Rede-ES):  "Pelo que eu entendi da sua fala, o senhor defende a anulação de tudo então, todas as condenações, todas as denúncias, devolver o dinheiro para Renato Duque, Paulo Roberto Costa?"
                      O ministro da Justiça, no entanto, deixou perguntas sem resposta, entre elas se autorizaria o Telegram a fornecer a íntegra das suas conversas com Dallagnol.  Moro, nesse contexto, se limitou a dizer que ele apagara o aplicativo e que, portanto, o acesso é impossível.   No entanto, a política de privacidade do aplicativo informa que, mesmo  quando as mensagens são apagadas, continuam disponíveis para o interlocutor, nesse caso, Deltan. No fim do dia, a força-tarefa da Lava-Jato divulgou nota informando que os procuradores deletaram seu histórico de mensagens após serem  alvo de hackers.

                      Sem embargo, nem tudo foram flores nos depoimentos e nas perguntas dos senadores.  Nesse sentido, a Oposição intentou aumentar a temperatura da sessão no Senado.  Nesse contexto, o senador Humberto Costa (PT-PE) perguntou a Moro se ele estaria ali na condição de investigado  ou de testemunha. 

                      A presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS) reagiu e informou que Moro estava ali como um ministro, não como testemunha e muito menos como investigado.  O ministro aduziu que não responderia a Costa, por considerar "agressivos" os comentários do senador.

                       Em outro momento, Moro disse, em tom de advertência, que o senador Rogério Carvalho (PT-SE) estava fazendo acusações graves. falsas e que deveria se informar melhor. Depois de sugerir  relacionamento de Moro com desembargadores do TRF-4, que endossaram a condenação do ex-presidente Lula, Carvalho quis saber  quem teria pago supostas despesas de Moro com uma empresa de comunicações, com vistas ao ministro enfrentar um dia inteiro no Senado. A tal propósito, Moro reagiu:  "O senhor está, de novo, fantasiando. Talvez o senhor tenha lido esses blogues fantasiosos, como esse que está fazendo essas ilações em cima dessas supostas mensagens, e está tirando conclusões precipitadas."

( Fonte:  O Globo )

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