terça-feira, 4 de junho de 2019

Premier Conte ameaça renunciar


                 
          Há muito tido como um 'figurehead', um inexpressivo presidente do conselho sem poder próprio, Giuseppe Conte surpreende o mundo político italiano, ao lançar um ultimatum a Luigi di Maio (Movimento 5 estrelas - M5S) e  Matteo Salvini (Liga - nacionalista).
               Conte ameaça apresentar sua renúncia se as duas forças que governam o país não mudarem o próprio comportamento. Ao conclamá-las a assumirem suas responsabilidades, diz o primeiro-ministro da Itália, se os dois partidos não o fizerem, "colocarei  meu cargo nas mãos do presidente da república", como o afirmou em entrevista coletiva na sede do governo italiano, em Roma. 
               "Se o ministro da economia, Giovanni Tria, e o primeiro ministro  estão  dialogando com as instituições europeias para evitar punições, os ministros italianos não podem intervir com provocações", declarou o Primeiro-Ministro, referindo-se a Salvini, que é crítico contumaz da União Europeia.
                  Assim, nos últimos dias, Salvini disse que Bruxelas não podia enviar "cartinhas" à Itália, advertindo sobre a respectiva dívida pública, que se eleva a 132% do PIB. Além disso,  para o Ministro Salvini, se fosse necessário, o país poderia superar o teto de 3%  do deficit em relação ao PIB. Tais declarações fizeram disparar o risco- país italiano.
                     Nesse contexto, para Conte, os ministros devem concentrar-se em suas matérias, sem intrometer-se em áreas que não de sua competência. Em tal sentido, o Primeiro Ministro  encoraja  a Liga e o M5S a "trabalharem com seriedade".
                      Em resposta, Salvini manifestou-se de forma enigmática. Assim, escreveu no Twitter que "a Liga está pronta para seguir adiante". Di Maio, por sua vez, respondeu que está pronto para debater temas que interessam à Liga, como corte de impostos e a criação de um salário mínimo - bandeiras do M5S.
                        Os dois partidos tiveram votação similar  nas eleições italianas de 2018, obtendo a Liga 37% e o M5S, 33%.  Sem muito em comum. aquele é de direita e este, de esquerda, concordando apenas na anti-imigração,  formaram uma coalizão sob o presidente do conselho Conte, político pouco conhecido.
                       As relações entre os dois partidos, já instáveis, entraram em crise  na semana passada, sob o aguilhão das eleições europeias, em que Salvini amealhou  o dobro da votação de  Di Maio (34% contra 17%).
                         Desde então, sob a perspectiva de mais poder,  correm boatos de que Salvini - que dirigira no passado a Lega, com base no Norte e sob viés neo-fascista - poderia favorecer a antecipação das eleições, sob a atração da mosca azul, para aproveitar politicamente esse capital político e valer-se desse fluxo de popularidade para aumentar o poder do respectivo partido.
                         Nesse entrevero, resta difícil determinar se o Premier Conte terá algum espaço político.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )     

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