Há muito tido como um 'figurehead', um inexpressivo presidente
do conselho sem poder próprio, Giuseppe
Conte surpreende o mundo político italiano, ao lançar um ultimatum a Luigi di Maio (Movimento 5 estrelas - M5S) e Matteo
Salvini (Liga - nacionalista).
Conte ameaça apresentar sua
renúncia se as duas forças que governam o país não mudarem o próprio
comportamento. Ao conclamá-las a assumirem suas responsabilidades, diz o primeiro-ministro
da Itália, se os dois partidos não o fizerem, "colocarei meu cargo nas mãos do presidente da
república", como o afirmou em entrevista coletiva na sede do governo
italiano, em Roma.
"Se o ministro da economia,
Giovanni Tria, e o primeiro ministro
estão dialogando com as
instituições europeias para evitar punições, os ministros italianos não podem intervir
com provocações", declarou o Primeiro-Ministro, referindo-se a Salvini,
que é crítico contumaz da União Europeia.
Assim, nos últimos dias, Salvini
disse que Bruxelas não podia enviar "cartinhas" à Itália, advertindo
sobre a respectiva dívida pública, que se eleva a 132% do PIB. Além disso, para o Ministro Salvini, se fosse necessário,
o país poderia superar o teto de 3% do
deficit em relação ao PIB. Tais declarações fizeram disparar o risco- país
italiano.
Nesse contexto, para
Conte, os ministros devem concentrar-se em suas matérias, sem intrometer-se em
áreas que não de sua competência. Em tal sentido, o Primeiro Ministro encoraja
a Liga e o M5S a "trabalharem com seriedade".
Em resposta, Salvini
manifestou-se de forma enigmática. Assim, escreveu no Twitter que "a Liga está
pronta para seguir adiante". Di
Maio, por sua vez, respondeu que está pronto para debater temas que
interessam à Liga, como corte de impostos e a criação de um salário mínimo -
bandeiras do M5S.
Os dois partidos
tiveram votação similar nas eleições
italianas de 2018, obtendo a Liga 37% e o M5S, 33%. Sem muito em comum. aquele é de direita e
este, de esquerda, concordando apenas na anti-imigração, formaram uma coalizão sob o presidente do
conselho Conte, político pouco conhecido.
As relações entre os
dois partidos, já instáveis, entraram em crise
na semana passada, sob o aguilhão das eleições europeias, em que Salvini amealhou o dobro da votação de Di
Maio (34% contra 17%).
Desde então, sob a
perspectiva de mais poder, correm boatos
de que Salvini - que dirigira no passado a Lega, com base no Norte e sob
viés neo-fascista - poderia favorecer a antecipação das eleições, sob a atração
da mosca azul, para aproveitar politicamente esse capital político e valer-se
desse fluxo de popularidade para aumentar o poder do respectivo partido.
Nesse entrevero, resta
difícil determinar se o Premier Conte
terá algum espaço político.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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