segunda-feira, 1 de março de 2010

Duas Notícias

Despenca a candidatura Serra ?

A pesquisa Datafolha deste fim de semana confirma uma queda já anunciada anteriormente. O governador José Serra, que contínua líder na corrida presidencial, teve as intenções de voto reduzidas (em cinco pontos) para 32%, enquanto a candidata do Presidente Lula, Dilma Rousseff, cresceu em cinco pontos, de 23% para 28%. Ela, que antes distava catorze pontos do provável candidato do PSDB, agora se acha a quatro, dentro, portanto, da margem de erro do cômputo.
A crise na candidatura de José Serra decorre de uma série de fatores. De início, o contraste entre a pré-candidata Dilma, com a sua martelante exposição na mídia – inclusive no recente congresso do PT, em que a escolha pessoal do Presidente Lula foi engolida pela instância partidária – e a chocha divulgação da prevista candidatura tucana.
Depois da longa contestação de Aecio Neves – que postulava prévias para determinar o candidato do PSDB – a que por fim renunciou na virada do ano, o governador Serra, ora sozinho, persistiu na sua opção de esperar até o fim do corrente mês de março, para anunciar a sua decisão.
Esta postura passiva, em estado e capital castigados por enchentes sucessivas, sinaliza para o eleitorado posição de desconfortável indefinição, que difere da água para o vinho da estridente postulação da neófita Dilma pelo seu grande padrinho.
Os três pontos percentuais perdidos na região sudeste por José Serra – aí vivem 42% da população adulta nacional – e o crescimento da adversária direta em cinco pontos, se ainda deixam para o governador de São Paulo catorze pontos de vantagem na região, constituem um mau sinal para o PSDB e seu candidato, em se tratando do principal reduto da oposição.
Por outro lado,o crescimento de Dilma e o encolhimento de Serra não é fenômeno localizado, mas refletido em todas as regiões nacionais. Por outro lado, cresceu mais a rejeição a Serra (de 19 para 25%), do que aquela de Dilma (de 21 para 23%).
Quanto ao aumento das preferências de Dilma Rousseff, até hoje criatura do Presidente Lula da Silva, há ainda duas variantes a serem consideradas. Por enquanto, a pré-candidata do PT, com os seus 28% de preferências, está dentro dos limites de 30% da chamada quota do Partido dos Trabalhadores nos pleitos nacionais. A sua importância – e eventual autonomia – decerto crescerão se e quando ultrapassar esse importante limiar.
Por outro lado, não carece dispor de bola de cristal para antever a reintensificação das pressões intra-PSDB para que Aécio Neves aceda em formar com José Serra a chapa dos sonhos dos tucanos. Não é necessária muito ciência política para aquilatar o que implicaria em fortalecimento eleitoral para Serra – e não apenas nas Gerais – essa adesão à sua candidatura.
E por falar em pressão: caminha para o insustentável o continuado apego de José Serra ao governo de São Paulo, política essa que carreia muitas águas para a candidatura tucana.

Choque de desordem na Lagoa

Em meu blog , O Canal do Jardim de Alah, de treze de janeiro de 2010, denunciei ao Senhor Prefeito Eduardo Paes, situação que deveria ser do seu conhecimento. Refiro-me ao continuado fechamento do Canal do Jardim de Alah, a mais próxima ligação da Lagoa com o Atlântico.
Como se sabe, a abertura deste canal não é detalhe estético, para eventual deleite dos moradores da Lagoa, de Ipanema e do Leblon. A falta de obras de dragagem – que por óbvia negligêngia não foram feitas – transformaram o ‘canal’ em longa vala de águas estagnadas, e o que é ainda mais grave, despojada de sua precípua função, que é a da renovação orgânica e da oxigenação do grande espaço interno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Tal estado de coisas permaneceu inalterado durante o restante de janeiro e em todo o mês de fevereiro.
Diante da mortandade dos pescados – 77,7 toneladas coletadas desde sexta-feira – se movimenta grande dispositivo de limpeza. A par dos efeitos colaterais – mau cheiro e invasão de urubus, atraídos pela prelibada podridão – certamente os habitantes da área trocariam o afluxo de maquinária, caminhões de lixo, especialistas, políticos et al. por um dever da casa quiçá mais modesto, posto que mais eficaz em seus benéficos resultados preventivos.
Os desastres ecológicos na Lagoa são recorrentes. O último, de relevância, acontecera em fevereiro de 2002 (94 toneladas de peixes), e o problema continua a manifestar-se, ora em pequena monta (outubro de 2007), e em anos anteriores (2000, 2001 e 2004), sendo que o maior mortícinio foi o de 1975, com quinhentas toneladas de peixe.
Quanto às causas, a ouvir os especialistas e o próprio governo municipal, são múltiplas. Além do canal do jardim de Alah, os principais suspeitos são: recente abertura das comportas do Canal da avenida Visconde de Albuquerque (que provocou o lançamento de fezes no mar do Leblon na última semana); refluxo decorrente de esgoto e invasão de detritos pelo canal da rua General Garzon; grandes quantidades de sujeira, esgoto e gordura, lançadas irregularmente na rede pluvial, e levadas para a Lagoa durante as últimas chuvas; proliferação de alga nanoplanctônica, espécie com rápida reprodução induzida pelo extenso período de sol forte e mudança brusca de temperatura.
Na verdade, a multiplicação das causas pode reforçar as desculpas das autoridades responsáveis, mas não nos deve fazer esquecer que, em realidade, a causa primeira – de que as demais se originam – está na falta de atenção dessas mesmas autoridades responsáveis. Tomando as providências a seu tempo devido, os eventuais fenômenos, ou não se verificarão, ou irão ocorrer em proporções muito menores.
Em tempos de crise, há um afluxo intenso de aves de arribação. Nesse contexto, as causas imediatas são inúmeras – e, mesmo para os não-especialistas, muitas delas afiguram-se derivadas e se reforçam em sua interação.
O que semelha imprescindível é que a prefeitura do senhor Paes – com a assistência da estadual CEDAE nas obras do entorno da Lagoa – não permita a benévola negligência da inação em trabalhos úteis e indispensáveis, posto que não necessariamente midiáticos. Ao contrário, essas providências devem ser atendidas regularmente, sob o compasso do interesse da população e da própria ecologia, e não dos chamados choques de ordem – que talvez deem manchetes – mas que são quase tão irrelevantes quanto o prosaico enxugar de gelo.

(Fontes: Folha de S. Paulo e O Globo )

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