domingo, 7 de março de 2010

CIDADE NUA ( II )

Doris (14)

Sendo marinheira de primeira viagem por aquelas bandas, o caminho do retorno não se desvenda com facilidade. Custa a reconhecer o trajeto que fizera. Então embalada pelas aragens matinais e a expectativa de um domingo na praia, ela não prestara no algariamento de novata a atenção que as circunstâncias recomendavam.
O cansaço que a prostrava, não ignorava, a despeito de seu embotamento, que correspondia a um conjunto de várias causas. Com sede – tentara beber a água aquecida do sol, mas os engulhos logo a dissuadiram; com fome – ora temia engolir os sanduíches de mortadela, por terem ficado demasiado tempo expostos aos efeitos de um calor extremo; incomodada pelas manchas vermelhas das queimaduras espalhadas pelo corpo, cuja sensibilidade crescia – toda essa carga só fizera crescer com o avanço da manhã.
Como que atordoada, quem a visse poderia pensar que saíra de alguma birosca. Andava e parava, colada às paredes, na sua ânsia de evitar os raios de sol. Insegura, trôpega, temia que tonteiras a jogassem no chão. Nas calçadas estreitas, evitava os olhares dos demais pedestres.
Escabreada pela experiência na barraca de que fora escorraçada, se acreditava cercada por gente da mesma laia. Por isso, com passo titubeante, tratava de afastar-se da orla marítima, à maneira de quem se apega a um precário sentido de orientação, no qual, à falta de outro mais confiável, entrega a própria esperança de topar com o edifício de que saíra tão animada.
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