De uns tempos para cá o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado estranhas declarações. E não me reporto àquelas de política interna, como as de extrema condescendência com abusos e transgressões do Congresso, e diante de vídeos relativos ao escândalo do governo Arruda.
Já em sua recente passagem por Cuba, diante das fotos de congraçamento explícito com os irmãos Fidel e Raul Castro, mais do que a concomitante morte, por greve de fome, de Orlando Zapata, causou estranheza a sua insensível afirmação de na casa dos carrascos culpabilizar a vítima.
Para fundamentar a sua esdrúxula condenação da greve de fome, crê oportuno assinalar ter no passado se valido desse tipo de greve. Hoje, talvez esquecido dos motivos que na ditadura militar o levaram a recorrer a essa forma limite de protesto, se acredita justificado em desmerecer de tais intentos.
Não satisfeito com o que antes expressara, o Presidente Lula julgou oportuno dizer o quanto segue:
“Eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade.”
E como se tal pérola não fosse bastante, completou:
“Temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano, de deter as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem ao Brasil.”
A pobreza conceitual de tais lamentáveis assertivas nos constrange e nos indigna. A crueza e impropriedade dessas observações poderiam estar na boca de tiranos como os de Miamar, Irã, Bielorússia, mas não de um chefe de governo democrata e livremente eleito pelo povo.
O anacronismo de tais despautérios não se detém aí. Que legislações internas são essas que se arrogam perseguir, penalizar e sufocar os direitos humanos, internacionalmente reconhecidos ?
A ditadura cubana pode não torturar como outros regimes, mas como então definir regime que se alicerça nos alcaguetes de quarteirão, na supressão das liberdades política e de pensamento, e no triste galardão dos cárceres de prisioneiros de consciência ?
Bandidos, senhor presidente, não costumam recorrer a esta derradeira e desesperada demonstração de convicção na validade do objetivo a que colimam, a ponto de empenhar-se com o único argumento que julgam restar-lhes e que tão acima vai das considerações pessoais.
Pode-se imaginar maior altruísmo do que este, que irmana, através dos séculos, não a malfeitores, mas a líderes políticos, intelectuais e religiosos?
Presidente, o senhor é homem inteligente, e deve abandonar a suposta azia à leitura, assim como continuar a prestar ouvido a arautos do passado, que como os Bourbon nada esqueceram e nada aprenderam.
( Fonte: O Globo )
quarta-feira, 10 de março de 2010
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Um comentário:
Uno-me ao autor na indignação mas não posso dizer que estou surpreendido. A popularidade, como o vinho, traz a verdade à tona. E nos dois casos a ressaca vem em seguida (individual ou coletiva). Lula diz o que diz por que se acredita o pai do moderno príncipe. Se não leu, captou por osmose o que lhe serve de Gramsci.
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