terça-feira, 2 de março de 2010

CIDADE NUA ( II )

Doris (9)

“ Sonia, vou dar uma caminhada na praia. ‘Cê vem comigo ?”
A mulher, em resposta, fez careta de enfado.
“ Prefiro não...”
Parou por instantes, o olhar perdido. Depois, como quem se lembra de algo, de novo o encara.
“ Por favor, não me volta muito tarde. Não quero ficar esperando horas na churrascaria.”
“ Meu bem, não se preocupe... prometo retornar antes do por do sol...”
“ Engraçadinho...”
*
Lá pelas oito passadas, Doris resolveu desvencilhar-se do vestido. O moço do posto a ajuda e ela pode trocar de traje. Embora fosse ainda cedo, sentiu que ia esquentar. Se sentiria melhor com o duas peças...
Quando saíu do WC, notou que o guarda a olhava diferente.
“ Tá meio fora de moda, né ?”
“ Era o único que eu tinha...”
“ Esquenta, não... daqui a pouco a praia fica cheia, e ninguém mais presta atenção...”
Não seria o elogio que gostaria de ouvir, mas não lhe escapou a boa intenção do rapaz.
*
Antes de saltar na areia, ainda no calçadão Almir tratou de besuntar-se com o protetor solar. Trouxera do mais forte, porque lera no jornal que naquela época aumentavam os perigos da irradiação. Ao atravessar a avenida, vira no relógio digital que já passava das dez. Estava, portanto, mais do que na hora de precaver-se.
Em seguida, avançando depressa pela areia fina e quente, meteu-se entre as barracas, pisando em chão batido e menos desconfortável para os pés. Enveredando pelo dédalo de parasóis, que se torna mais denso à medida que se acerca da arrebentação, afinal alcançou o espaço aberto de úmidas, enegrecidas areias, sob a constante visita do fluxo e refluxo das águas. Entre a esquerda do rochedo do Arpoador e a direita da extensão coalhada dos banhistas dominicais, optou por andar para as velhas e suarentas rochas.
*

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