Semelha difícil entender a posição do Governo Lula da Silva quanto à intervenção diplomática em matéria de direitos humanos, em geral, e de greve de fome, em particular.
A dificuldade cresce se tivermos presente a falta de coerência na tomada de uma posição, se se analisa a questão em diversas situações através de espaço mais largo de tempo.
Atualmente Lula declara ser contra a greve de fome, acrescentando já haver recorrido a tal instrumento no passado. Mudar de opinião é um direito que decerto lhe assiste. Cabe, no entanto, examinar um pouco mais detidamente a ‘greve de fome’ de Lula. A prisão do sindicalista em 1980 durou 31 dias. Nesse espaço de tempo, recusou alimentar-se por quatro dias. A par disso, acerca da sinceridade do intento pairam algumas guloseimas que foram descobertas em seu bolso.
Na sua posição hodierna de condenação genérica da greve de fome, afora os aspectos ético e humano envolvidos, o que mais repugna é a sua insensibilidade.
De acordo com esta atitude extrema, ele não se peja de pôr no mesmo cesto greves de fome despojadas de qualquer laivo de interesse personalista (como, v.g., as do Bispo D. Luiz Cappio e a de Orlando Zapata) e aquelas realizadas por “bandidos”, com o escopo de obter a liberdade de prisão decorrente da prática de crimes comuns.
Esta aparente incoerência não é original. O que confrange no capítulo é que professando opinião desse gênero, Lula – sem dúvida por desconhecimento – repete política de que são useiros e vezeiros os regimes ditatoriais. Porventura estará esquecido que os gerontocratas do Kremlin, antecessores de Gorbachev, mandavam internar em asilos psiquiátricos os dissidentes ? Talvez sob a dúbia premissa de que não havia distinção entre um alienado mental e um opositor do comunismo soviético, se atingia a meta de controlar duas diversas ‘loucuras’, com as ‘vantagens’ agregadas da descaracterização política e do nivelamento por baixo.
Ao defender hoje a oportunidade de respeitar as legislações de outros países,Lula há de contar com o comovente reconhecimento de todos os ditadores – do Líder Supremo Ali Khamenei e seu ‘presidente’Ahmadinejad à diarquia dos Castro – na eventualidade transformados em vaquinhas de presépio, na sua gostosa aprovação de tão política compreensão. Porque o direito que se arroga o poder soberano de desrespeitar e reprimir valores universais como os princípios constantes da declaração universal dos direitos humanos é apenas um pária, uma excrescência de um passado cuja sobrevivência será sempre periclitante, similar a dos foragidos que temem a própria sombra.
Em outros temas, reportei-me a um traço da personalidade política de Luiz Inácio Lula da Silva. Como Zelig, o anti-herói de Woody Allen, por oportunismo ou deficiência de personalidade, Lula evidencia o pendor artístico de adotar opiniões e posturas segundo as conveniências dos respectivos cenários. Para dar um exemplo: em Copenhague Lula é o defensor enérgico do ambientalismo ecológico; no Palácio do Planalto, assina a MP da grilagem e perdoa, repetidamente, multas devidas por desmatadores.
Sob o pano de fundo de que não é possível servir a dois Senhores, não é crível que alguém julgue teoricamente factível a prática de política fundada em uma contradição não-acessória mas essencial. A eventual sobrevida antes da inelutável tomada de contas pode ser empurrada e precariamente estendida por declarações e cincunlóquios de devotados auxiliares diretos, como se pode observar em matérias jornalísticas.
Mas os malabarismos do Assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e do Ministro Paulo Vanucchi, dos Direitos Humanos, são sombras que pairam sobre uma verdade, verdade esta que continuará a crescer, aqui e alhures, e a incomodar com sua importuna presença a imagem in fieri do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
domingo, 14 de março de 2010
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