sexta-feira, 5 de março de 2010

CIDADE NUA ( II )

Doris (12)

Doris não contava com a fila de umas dez pessoas para o banheiro. Não obstante, a sua primeira reação foi a de tomar o respectivo lugar e esperar a vez.
Contudo, o sol batia a pino. A impressão era a de estar em uma fornalha. Com o vagaroso passar dos minutos se tornava sempre mais difícil ficar ali de pé, aguardando atrás de todo aquele povo pela oportunidade de entrar no sanitário.
À medida que o tempo se arrastava, e a fila não lhe parecia avançar, principiaram as dúvidas sobre o acerto de se deixar torrar, na esperança de um alívio que, no melhor dos casos, só poderia ser passageiro.
Sentia que a gente a olhava de esguelha, decerto por causa da vermelhidão que se espalhara pelo rosto e corpo. Até imaginou que cochichavam a respeito. Se achavam graça de sua inexperiência, não enxergou em suas caras qualquer resquício de pena. E por isso estava longe de todos eles que sequer lhes passasse pela cabeça a possibilidade de simples gesto de apoio, como o de deixá-la entrar primeiro no banheirinho.
Assim como os minutos, tampouco a fila anda. E a vexação que prova vai tomando jeito de um sacrifício besta e mesmo inútil. Não é apenas a soleira a maltratá-la. A companhia à sua volta tampouco a estimula a aguentar mais um pouquinho. O relógio na sua cabeça lhe diz que não vale o esforço de esperar. Pelo contrário, quanto mais cedo sair dali, melhor será.
E na sua raiva por tantos erros cometidos, ela se afasta do grupo com um safanão. Na verdade, não é mais do que um desafogo, que não visa a ninguém em especial.
Então, Doris se decide. Ela volta pra casa, pro seu quartinho. Mais depressa do que pensava, aprendeu uma lição.
Sem outra opção, retorna pro lugar de que escapara de manhãzinha. Conta ali se encafuar sem que a patroa a perceba. Bem sabe que o problema não é este. Precisa descobrir um jeito de suportar o incômodo das queimaduras que foi arranjar na praia.

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