A Húbris é fenômeno já assinalado pelos antigos gregos, que se manifestava em determinados personagens, sobretudo aqueles elevados a posições de mando. Acreditando-se superiores ao comum dos mortais, incorriam em atitudes arrogantes e insultuosas, a ponto de que tal comportamento fosse julgado ofensivo aos deuses e, por isso, passível de severa punição.
Trata-se, portanto, de forma de alienação, em que, incensados pelo poder e seus obsequiosos servos, as personalidades são tomadas por peculiar embriaguez. Ao se julgarem em outro nível, tanto de percepção, quanto de entendimento, em relação aos demais, cometem um erro básico, do qual muitos outros se derivam.
A despeito da respectiva condição humana – e do seu caráter necessariamente falível – confundem a situação temporária em que se acham como se fora atributo inalienável e permanente. Os vapores do fasto e o fácil elogio dos áulicos são fatores determinantes dessa crescente perda da capacidade de apreender a realidade. Nesse contexto, a consciência das próprias limitações constitui auxílio prestimoso para aqueles ungidos às altas curuis do mando.
Não é estranhável que estejam mais afeitos à visão deformada de suas intrínsecas capacidades. A soberba não é característica única dos menos preparados que, por sua condição, se acham mais expostos a serem iludidos pelas melífluas promessas dos cortesãos. Por menos saberem dos percalços de seus maiores estarão mais propensos a aceitarem os untuosos encômios e os interesseiros conselhos das criaturas que vivem à sua sombra.
Em tempos recentes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quiçá envaidecido por elogios dispensados também por seus iguais, tem evidenciado sintomas que não deixam de inquietar a muitos.
Ora, o chefe do governo tem diversos instrumentos para realizar o abrangente desempenho de suas atribuições. Dentre esses, deparamos o que o presidente americano Theodore Roosevelt chamou de bully pulpit (rostro do orador). Esta seria a função precípua do docente, que, pela persuasão, procura motivar os cidadãos em múltiplos aspectos de sua existência.
A respeito de declarações infelizes ou inoportunas de Sua Excelência, nesses últimos dias há de convir-se que abusa de sua humana quota de eventuais lapsos.
Na sua censura a quem oferecera a própria vida como protesto contra as ignomínias sofridas da ditadura castrista, faltaram muitas coisas a Lula. Basta, no entanto, assinalar duas: coerência e caridade. A impressão causada foi tão desconcertante, que levou antigo e distinguido companheiro de lutas a expressar-lhe palavras de espanto e revolta.
E na sua obstinada tentativa de qualificar de ‘marolinha’ o efeito da crise financeira internacional sobre o Brasil, como se há de interpretar a sua frase hodierna de que “o povo não vivenciou a crise” ? A história, esta nossa mestra de que não devemos descurar, pulula em frases, em declarações infelizes ou desastradas.
Para não aumentar demasiado o peso do juízo acerca dessa última pílula, será bom apenas lembrar que, além da queda do PIB – que o governo se esmerara em tentar mascarar como se fora progressão -, entre novembro de 2008 e janeiro de 2009, cerca de 797 mil empregos foram perdidos.
Talvez a alguns gestores pareça mais fácil personalizar a crise internacional. Depois da responsabilidade lançada aos olhos azuis do Norte, o bode expiatório da vez passa a ser os empresários nacionais.
Na verdade, graças ao dever de casa cumprido pelas administrações de Fernando Henrique e Lula da Silva, as consequências do descalabro americano e europeu foram aqui muito menores.
Mesmo às vésperas do processo eleitoral, não convém distorcer os fatos. Cumpre enfrentá-los como são e não esconder-se atrás de risíveis acusações. O compromisso com a verdade não é válvula a ser utilizada somente quando tal aproveita ao declarante.
sábado, 13 de março de 2010
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