quarta-feira, 10 de março de 2010

CIDADE NUA ( II )

Doris (17)

Habituado aos percalços em hospitais públicos, o atendimento dispensado a Doris de certa forma o surpreendeu. Posto que esperassem uns quarenta minutos, o encarregado demonstrou segurança.
“Ela está com intermação. Problema bastante comum nesta época, sobretudo porque as pessoas não adotam os cuidados indispensáveis.”
“ O que é necessário doutor ?”
“ Ela apanhou muito sol, está desidratada, as primeiras bolhas aparecem aqui e ali...”
“ Isso é grave ?”
“ Não, se fizermos o que é preciso.”
A aplicação do soro intravenoso tomou bastante tempo, a ponto de obrigá-lo a telefonar para Sonia.
Na volta, passam por farmácia, onde compra os produtos que lhe foram recomendados na UPA.
Ao descerem do taxi, o porteiro Eurico corre para abrir-lhes o portão.
“ Dona Sonia tava preocupada...”
“ Não é o caso. Já tinha falado com ela.”
“ Ah, bem...”
Como se não mais estivesse ali, a aguardar o elevador para a solícita abertura da porta, Almir se dirigiu à empregada, dando as costas para o porteiro:
“ Chegando em casa, lave a cabeça com água fria, tome bastante água, e passe o hidratante e o creme nas regiões mais ressecadas e doloridas... Como é que você tá se sentindo ? As tonturas e o enjoo passaram ?”
“ Tou bem, doutor.”
No elevador, subindo para o sexto andar, ele completou:
“ Quero você hoje descansando. Procure tomar líquidos, mas devagar com a comida...”
“ Seu Almir”, disse Doris, com o seu melhor sorriso, “muito, muito obrigado por tudo. O senhor foi um anjo pra mim.”

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