terça-feira, 9 de março de 2010

CIDADE NUA ( II )

Doris (16 )

Só quando se debruçou sobre a mulher é que se deu conta de que não se enganara na sua intuição.
“ Doris ! o que houve contigo ?”
A moça estava sozinha, as pernas estendidas sobre as pedras. Parecendo atordoada, custou a levantar a face na sua direção.
Por momentos, olhos esgazeados o contemplam, sem dar-lhe a impressão de que o reconheciam.
“ Doris ! ‘cê tá me ouvindo ?”
E as suas mãos pousaram no queixo da moça, como se quisessem firmar-lhe a visão.
Neste instante, o véu de ausência que ela trazia na expressão se dissipa. No olhar, reponta tímido brilho.
“ Seu Almir !...”
Discreta lágrima lhe mareja os cílios.
Desde que a alcançara, confirmando o que de longe pressentira, se mantinha na mesma posição. De cócoras, procura ver se está machucada. Basta leve contato dos dedos no rosto para que sinta a sua pele acalorada.
“ Ô Doris, o que fizeram contigo...”
Ela semelha envergonhada, menos pelo seu estado físico, do que pela aparência. Os panos brancos do vestido, amarrados na cintura, no vão intento de proteger as peles expostas do maiô duas peças, beiram o grotesco.
“Ignorância minha, seu Almir...”
O aspecto da moça, a febre que lhe arde na testa, o deixam inquieto. Ainda não sabe o quê fazer. Mais a examina, mais se convence de que deve levá-la ao posto médico do bairro, para que receba o tratamento adequado.
*
Não se espantou ao ver Paulo e Diogo.
“ O que que houve, companheiro ?”
“ É a Doris, a minha empregada... pelo visto, pegou uma insolação...”
Os dois cruzaram olhares meio céticos.
“ Acho que a menina precisa de tratamento médico...”
“ De acordo !”, disse Diogo, que era do ramo. “ Leva na UPA mais próxima...”
O amigo lhe deu as coordenadas, e com a ajuda da dupla, Almir apanhou um táxi.
“ A empregadinha dele, hein, bem jeitosa, não ?”
“ Essa tua língua, ô Paulo...”
*

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