Os chamados apagões, em que, sem qualquer aviso ou programação, se deixam bairros inteiros bruscamente sem energia, são fenômeno típico do subdesenvolvimento econômico e social. Ocorrem em geral em países do terceiro e quarto mundo. Dada sua frequência, forçam a instalação de geradores, por particulares e empresas. Apesar de poluidores e barulhentos, tais geradores oferecem a quem possa adquiri-los (e instalá-los) a oportunidade de contornar (ou minorar) os consideráveis transtornos que causam os súbitos black-outs. E na hipótese de falta de energia por períodos mais longos, preservam os mantimentos perecíveis, livrando residências e estabelecimentos comerciais de pesados prejuízos.
A chamada privatização que na década dos oitenta Mrs. Thatcher e Ronald Reagan puseram em moda nos respectivos países, e pela irresistível imitação em países do terceiro mundo, a partir dos noventa, pode ter efeitos deletérios para os serviços de interesse público. Ao contrário das empresas públicas, que se supõem atenderem ao interesse da coletividade, as empresas privadas funcionam na base do lucro. Em consequência, tendem a comprimir as despesas de caráter de manutenção e reposição, com vistas a maximizarem os ganhos.
Se na telefonia celelular e mesmo fixa, a privatização aparenta ser inegável sucesso, em outros setores, tanto no transporte de massas, quanto no fornecimento de energia elétrica, a privatização dos serviços não tem correspondido aos panegíricos de seus incansáveis arautos.
Assim como no metrô carioca (v. meus blogs a respeito), igualmente a transmissão de energia elétrica vem apresentando comportamento sofrível, em moldes nada compatíveis com a retórica triunfalista dos governos petista (nunca antes nesse país...) e congêneres. A este propósito, a invenção das agências reguladoras (datam do governo de FHC) não têm produzido resultados satisfatórios para o grande público, eis que, por uma série de circunstâncias, a sua supervisão das concessionárias costuma ser demasiado leniente para que sejam instaurados os padrões de bom serviço para o usuário.
A pobre Light, que já foi canadense, francesa e atualmente passou a ser controlada pela Cemig (estatal mineira), tem nos últimos tempos folha corrida de desempenho da boa têmpera terceiro-mundista.
Conforme se assinala, desde o grande apagão de dez de novembro de 2009, em que dezoito estados ficaram às escuras, o Rio de Janeiro tem vivido com a intermitência da energia elétrica.
O último apagão ocorreu por volta da meia-noite de hoje, seis de março. A causa terá sido defeito na subestação do Posto Seis. Em cerca de uma hora, a energia foi restabelecida. Boa parte de Ipanema foi afetada, assim como a Lagoa, e o bairro de Copacabana até a Constante Ramos.
O Leblon tem sido muito afetado pelos cortes de energia, inclusive por um período superior a 24 horas, ao ensejo do apagão de dez de novembro. Houve outro, de doze horas, que atingiu o alto Leblon e as avenidas General San Martin e Ataulfo de Paiva.
Por tais interrupções, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) multou a Light em R$9,5 milhões.
Com a elevação das temperaturas médias – o que já implica em incômodos suplementares, eis que os verões no Rio não se caracterizam pela amenidade – as empresas fornecedoras de energia não podem atuar sob a constante ameaça de colapsos no atendimento provocados pela operação nos limites extremos dos respectivos equipamentos.
Se não houver planejamento e manutenção apropriados, eliminação de desperdícios, e prioridade ao serviço eficiente e não ao lucro selvagem, continuará a prevalecer a triste cultura do apagão, malgrado os loquazes discursos de nossas autoridades.
(Fonte: O Globo )
sábado, 6 de março de 2010
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