segunda-feira, 8 de março de 2010

CIDADE NUA ( II )

Doris (15)

“ Quer mais um chopinho, doutor ?”
Seu Juvêncio, dono do barzinho, não chamava a todos de doutor. Dentre esses, desde que por lá aparecera, estava Almir.
Antes de responder, olhou para o copo, em cima do balcão. Tinha ainda uns dois dedos de bebida.
“ Por enquanto, tá bem, Juvêncio.”
Ele e Diogo ouviam – ou melhor, fingiam escutar – interminável estória que Paulo, já um pouco tocado, lhes contava.
À maneira de quem busca pretexto para cortar um papo chatíssimo, os olhares de ambos pairavam pelo entorno.
Foi quando a atenção de Diogo se deteve em algo que acontecia a distância de uns vinte metros, do outro lado da Pirajá.
“ Olha lá! aquela mulher deve estar tendo algum treco... acaba de se sentar na calçada...”
Almir acompanha, a princípio indiferente, a sinalização do amigo. No meio do tráfego – o sinal abrira naquele instante – não logra distinguir bem do que se trata.
No entanto, ao clarear o espaço à frente, a sua atitude muda radicalmente.
“ Gente, vocês me dão licença ?... Juvêncio, volto depois pra acertar...”
De chofre, Paulo interrompeu o causo para, junto com Diogo, seguir a afobada travessia de Almir pela rua mais movimentada do bairro.
“ Que diabo deu nele para agir desse jeito !...”, exclamou Juvêncio, a observar a imprudência de um freguês sempre tão controlado.
*

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