terça-feira, 13 de setembro de 2016

Significado da queda de Cunha

                        

         Que significado dar à derrubada do Deputado Eduardo Cunha? Os totais são certamente, à primeira vista, impressionantes: 450, a favor da cassação; dez, contra;  9, abstenções; e 42 ausentes .
         Que Cunha fez amplamente por merecer a cassação, não há qualquer dúvida. O que confrange foram as características em que se realizou o julgamento. Não precisava ser nenhum auto-da-fé,  pois a responsabilidade de Cunha era inequívoca.
         O que turbou foi a atmosfera em que se procedeu. Depois de elegê-lo em primeiro turno sobre o candidato do PT, Arlindo Chinaglia, a 1º de fevereiro de 2015, Eduardo Cunha ficou na presidência da Câmara até a madrugada de hoje, 13 de setembro de 2016. Dentre os poucos sinais positivos que a sua presidência deu à República estão a exposição da garrafal incompetência política de Dilma Rousseff e a sua aprovação para a tramitação da petição para o impeachment da petista, firmada por grandes nomes: o ex-petista, que se afastou do PT corrupto quando explodiu o Mensalão, i.e. Hélio Bicudo, o professor Miguel Reale Júnior e a Dra. Janaína Paschoal.
          Não se deve atribuir a autorização para tramitar a constitucional petição do impeachment à simples vingança  política de E. Cunha, como tentou apresentá-lo o PT, em jogada diversionista. O procedimento foi constitucional e havia motivos bastantes para que o governo Dilma, um dos mais incompetentes e corruptos da República, fosse julgado pelo Congresso.
           De pouco valeram ao Governo o atendimento parcial de recurso do PCdoB, partido caudatário do PT, para que houvesse modificação nos procedimentos da Câmara. De nada tais manobras adiantaram, porque o Congresso, sempre atento à atitude do Povo Soberano, soube através de multitudinárias manifestações por todos esses Brasis o que pensava a gente brasileira do Governo e da corrupção petista, iniciada com o Petrolão já no primeiro mandato de Lula.
           Eduardo Cunha não é nenhum santo, e a dura punição que recebeu, fê-la por merecer. Mas nada disso tem a ver com o impeachment de Dilma, como intenta fazer crer o Partido dos Trabalhadores e seus escribas. O próprio antigo partido jacobino dos inícios desta República, que chegou a expulsar deputados por votarem em Tancredo Neves (o pretexto é que era por eleição indireta), hoje nem sequer ousa colocar a própria sigla nos seus anúncios da propaganda obrigatória para as eleições municipais. A tal ponto chega o antigo ferrenho defensor intransigente de várias posturas de negar-se a subscrever a Constituição Cidadã, de Ulysses Guimarães. Depois, em nossa república do tapinha-nas-costas, a subscreveu em silêncio, a ponto de hoje o leitor da Constituição pensar que o PT de Lula estava presente, já na primeira linha, com os demais constituintes, no dia 5 de outubro de 1988.
             Bem se fará no futuro que se abandone esse frouxo bom-mocismo, que permite tais jogadas de suposto efeito, para depois, na calada da noite, comparecerem para subscrever o que jacobina e hipócritamente deram a impressão de rejeitar.
              O cadáver político de Eduardo Cunha - tratado como pestilento no dia de sua queda e por um plenário que, na sua maioria, o apoiara, quando tal lhe servia   -  está ainda quente e já a tropa auxiliar do PT, em artigo de primeira página na Folha, declara sob o título "Podridão política que gerou Cunha continua viva", assinado por Mario Sergio Conti, em que assevera nos seus dois primeiros parágrafos que, com a devida vênia, julgo oportuno citar: 
               "Cunha foi paparicado por todos os partidos, liderou a maior bancada da Câmara e a presidiu. Sem ele, o impeachment não prosperaria.
                "Agora, para que a derrubada de Dilma aparente ter sido justa, o Brasil é instado a crer que a cassação de Cunha é histórica. Mas a podridão política que gerou Cunha está viva e voa alto" (fim de citação)
                 Agora, taludos que somos, vamos ser obrigados a acreditar em estórias da Carochinha?  Cunha era a passagem constitucional da petição do impeachment, e se ele houve por bem dar-lhe tramitação é que havia sobejos motivos para tanto. Se Dilma caíu, através da longa e complicada sistemática do impeachment no Brasil, é porque era culpada de má-gestão das finanças públicas. Isso não aparece apenas nas famosas pedaladas, mas na inflação, que ela irresponsavelmente trouxe de volta, na corrupção do governo do PT, e, last but not least, na lastimável situação de nossa economia, com o desemprego, a recessão e um vastíssimo escambau.
                  Ficções à parte, Dilma teve pré-anunciada a sua destituição pela gigantesca manifestação de maio último, a que se seguiram, quase que como formalidades, dada a situação da própria administração e a desmoralização ética e penal da gestão do PT, toda a sorte de maldades - como chegar a roubar através do consignado os magros proventos da gente miúda.
                 O PT, em meio às loas ao grande Lula, transmutado em paz e amor, surgiria com um escândalo já entremostrado, que foi o assassínio do pobre prefeito Celso Daniel.
                  Agora, para decretar-lhe a perda - e não só pelo Congresso, mas sobretudo pela voz do Povo brasileiro - o lento, complicado mas afinal devidamente preenchido em todos os seus burocráticos detalhes processo do impeachment se conclui.
                    O choro é livre, senhores e senhoras, mas há limite - e paciência - para tudo.
                     Vamos torcer pela melhora dos costumes democráticos - sem maracutaias e sem roubalheiras - e, por favor, se me permitem a imagem de alguém habituado a outros tempos, vamos  desse disco (ou fita)  ouvir outra música,  que nos estimule não a multiplicar desculpas, mas a conviver com melhor futuro, em que se respeite o Erário Público, e se busque governar não em proveito de partidos (e temos muitos, demasiados, mesmo!), mas sim de nós todos, o Povo brasileiro.


( Fonte subsidiária: artigo de Mario Sérgio Conti, na Folha de S. Paulo )


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