sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Continuam matando negros

             

        As mortes de afro-americanos continuam acontecendo nos Estados Unidos. Há três características que nelas se repetem: (a) o tratamento inamistoso pela polícia americana (em geral, os políciais envolvidos são brancos, e as vítimas, negros ) pode caracterizar-se seja pelos disparos dos policiais (como em Charlotte), seja por forçar o suspeito a ficar em posição perigosa para a sua incolumidade física, como no caso do 'suspeito' negro transportado por caminhonete policial (como em Baltimore), a tal ponto que lhe afetou a espinha dorsal; (b) a ultra-suspeição dirigida sempre contra o cidadão negro por policiais brancos, ao ser detido no veículo por ele dirigido, em geral de noite. Essa ultra-suspeição leva o(s) policial(ais) a ordenar que saia do carro, e o 'suspeito' será abatido, alegadamente por estar armado, como no episódio de Charlotte, na Carolina do Norte; (c) não há registro de violência letal similar dirigida por policiais brancos contra suspeitos brancos.
         É a repetição desses assassínios policiais, e a sua preocupante incidência na noite do verão boreal, que constitui a principal causa da revolta da comunidade negra estadunidense.
         Essas mortes suspeitas de negros atingidos por tiros de policiais brancos, que parecem ter um reflexo condicionado, como se fora dentro do padrão atire primeiro e faça as perguntas depois, é que tem chocado, com justíssima razão, a comunidade negra americana, que vê nesses tiros claro sinal claro de comportamento inaceitável.
          A presunção contra a vítima negra é sempre de uma periculosidade que os fatos posteriores não confirmam. Essa característica trigger-happy (tendência a atirar contra o suposto suspeito, que costuma ser afro-americano) ela acontece por toda a parte dos Estados Unidos, mas sobretudo no Sul, colocando de um lado o branco agente da lei, e de outro, o negro suspeito. Outro exemplo mortal foi o do jovem negro abatido na Flórida por  segurança de bairro branco, que suspeitou estivesse ele armado (o presidente Obama disse que a vítima teria a idade de um filho seu, se acaso ele tivesse nascido).
            Neste caso em Charlotte, a vítima Keith Scott, de 43 anos, intimado a sair do carro, o filme, visto pela família e advogado, não mostra agressividade da parte de Scott ao sair do carro.  Segundo o Dr. Bamberg, advogado, ele parece tranquilo ao obedecer à ordem policial, e não empunha nenhuma arma. Isto no entanto não o fez escapar do tiro dos policiais, que viria a matá-lo, como sói acontecer. Também de forma quase ritual aparece depois a pistola, que supostamente é o  álibi da comunidade policial quanto a alegada periculosidade da vítima abatida.
            A repetição desse cenário, em que o policial mata o negro ( suspeito por princípio) tem provocado crescente revolta na comunidade afro-americana, que compreensivelmente não aceita essa letal presunção dos policiais (em geral brancos) contra os negros, especialmente à noite.


( Fontes: The New York Times;The New York Review of Books) 

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