quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Pinga Fogo

                                         

Previsão sobre votação


           Seguindo o exemplo dos quadros de prognósticos quanto às votações em Câmara e Senado no que concerne ao impeachment, o Globo agora se dedica aos totais previstos na votação pela Câmara de Deputados do impeachment do  ex-Presidente Eduardo Cunha.
           De acordo com esses dados informais (257 é o total exigido para concretizar o impeachment), existe a previsão de 269 SIM, 3 NÃO, e 206 não respondem.
            Agora resta verificar como será a votação concreta dos Senhores Deputados, tendo presente o dito do político mineiro José de Magalhães Pinto[1].



René Clair, PT e Saudosismo
 

              É típico do brasileiro que, depois de tomar a atitude que a situação requer, ele de certa forma recue, e esqueça as rugas e  verrugas do eventual personagem, chegando a festejá-lo como se fosse um modelo de beleza.
             Dessarte, tal reação, em que a culpa vem à tona e de forma sorrateira ocupa a cena, adota  postura que pouco se diferencia da apologia do personagem.
           Então, de bom grado, a peninha vai tomando conta do capítulo, a ponto de torná-lo irreconhecível para o comum dos mortais.
        E as perguntas acabam repontando: será que não erramos? será que não cometemos uma injustiça?
               Na verdade, nem passando pelo rio do Letes, a desmemória seria tão pronta e tão seletiva.
               Se têm alguma dúvida, visitem as páginas desse jornalão que é a Folha, que pelo andor da carruagem corre o risco de virar Tribuna da Restauração...
               Muito a propósito, parece oportuno mencionar filme de René Clair, em que, volta e meia, na ciranda dos tempos aparece personagem, sempre vestido com trajes há muito fora de moda, na pessoa de Michel Simon. Ele há de surgir sempre para suspirar pelos velhos tempos do passado: assim nos dias de Napoleão III, chora pelos bons anos  de Luís Filipe, e, mais tarde, na infinita fuga para trás, eis que ressurge Simon, relembrando os tempos radiosos do grande imperador  Napoleão I, enquanto tem de suportar a banalidade dos Bourbon com Luís XVIII ...
         
                Essa remembrança do antigo como se fora em princípio superior ao presente, que é aqui satirizada pelo grande cineasta francês, servindo-se da expressão inconfundível  do ator francês com o seu perfil inimitável, será forte candidata à debochada divinização do passado enquanto passado, que René Clair instrumentaliza na frenética ciranda do filme.
 
           Talvez em alguma cinemateca esteja disponível essa quase-obra prima do diretor francês. Vê-la seria oportunidade não desprezível para que aprendamos uma lição hodierna: nem  o velho, nem o novo são excelentes por princípio.
               Tampouco o fato de alguém ser derrubado, quer dizer necessariamente que sofreu uma injustiça...



( Fonte: Folha de S. Paulo )
                  






[1] Mineração e votação, só depois da apuração.

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