quarta-feira, 8 de julho de 2020

A Lei do Brucutu


                                             
       É deplorável a condição em que hoje se acha a antiga Colônia de Sua Majestade Britânica. O tratado internacional entre o Reino Unido e a República Popular da China, em que os dois países acordaram um novo tratamento para a colônia de Hong-Kong, em 1997, em que seria respeitada a sua relativa autonomia - o que foi prontamente instrumentalizado por Beijing, eis que interessa à RPC fruir das vantagens de liberdade cambial, sem excessiva burocracia, o que constitui de resto um bom colchão para viabilizar uma área cambial, a que ao grande comércio de Beijing não há decerto de incomodar, nem de criar óbices burocráticos.
  
         A volta à China Continental da pequena Hong Kong não lhe veio decerto em má hora. O que tem criado uma certa perplexidade é a aparente total liberdade da China Comunista em podar as liberdades da antiga colônia. Na verdade Xi Jinping age como se todos os prazos houvessem vencido, em termos da validade de o que fora então acordado. São tanto normas de Direito Internacional Público, quanto de Direito Internacional Privado.  Os prazos são afastados com o esforço muscular que exigiria um simples peteleco.
             A circunstância de que Xi tenha pressa não significa, ipso facto, que os demais partícipes do Acordo também sejam por tal fato condenados a aceitá-la.

              A RPC pode ser um poder ascendente no cenário mundial, mas tal não lhe tira a obrigação que deve à expressa pacta sunt servanda  (os acordo internacionais devem ser respeitados).  A autoridade britânica pode ter-se retirado de Hong Kong, mas tal não equivale a dizer que os preceitos jurídicos do Direito Internacional Público perderam a validade, só pela circunstância de que tal é a vontade do ditador  Xi Jin-ping. O caso de Hong Kong e de sua população exige respeito, além da obediência que é mandatória no Direito Internacional Público.

                 O que caracteriza a legalidade de um regime é a circunstância de que independe da vontade particular de um eventual Tirano. Há um prazo - que não está escrito na areia - que determina os respectivos poderes tanto do ditador Xi Jinping, quanto dos antigos súditos de Sua Majestade Britânica, em 1997, com o término do regime colonial, entraram em uma nova fase, com seus direitos respectivos assaz bem determinados.
                 A  governadora Carrie Lam tem, por isso, poderes assaz bem determinados, eis que, se o antigo poder colonial em algo colaborou, tal está certamente nos sopros  e alentos de Liberdade, que lhe foram legados por todos aqueles que negociaram  o Tratado de 1997, cuja validade é de cinquenta anos (termina em 2047).

                   Ao contrário de o que ocorre na RPC, o uso das redes sociais é livre em Hong Kong, cuja autonomia político-administrativa e judicial está garantida pelos termos de sua devolução a Beijing pelos britânicos, naquele ano de 1997. Diversos governos ocidentais e organizações defensoras dos direitos humanos, no entanto, entendem que a nova Lei erode este modelo, conhecido como "um país, dois sistemas".

                       Os impactos da legislação acentuaram ainda mais as tensões entre Estados Unidos e China, que travam disputa econômica e geopolítica, que tem a tecnologia como ponto central. Para as gigantes tecnológicas americanas, o mercado chinês é valioso e garante, sozinho, lucros bilionários com a publicidade.  Cumprir a Lei de Segurança, no entanto, arriscaria despertar, não só a ira de Washington, mas também  de organizações inter-nacionais de direitos humanos, que já têm pressionado as Redes a banirem de sua programação o chamado discurso do ódio.
                            Na segunda-feira, o Secretário de Estado, Mike Pompeo,  disse em entrevista ao canal conservador (de extrema direita) Fox News, que está considerando banir aplicativos chineses, inclusive o TikTok, por considerá-los ameaça à segurança.
                              "Não quero sair na frente do presidente Trump, mas é algo que estamos estudando - afirmou o Secretário do Exterior, pedindo aos usuários do TikTok que não deixem sua informação pessoal "nas mãos do Partido Comunista Chinês".
                                  Em resposta, o TikTok declarou à Agência Reuters que nunca forneceu dados ao governo chinês. Recentemente, em meio à disputa fronteiriça na região do Himalaia, ele foi banido na Índia.

( Fonte: O Globo )

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