Qual será a reação do
Presidente Jair Messias Bolsonaro quando se tornar corriqueira a verdade de que
ele não é o Super Covid-19 que acreditava ser, acima da realidade e das
fantasias populares?
Cercado
pelo seu gabinete, não do Dr. Calligari - eis que não é afeito a fantasias do
cinema - mas daquele ódio mofino que, de uma forma estranha, convive com
manifestações próprias desse submundo, não terá sido de todo surpreendente que
o ex-capitão tenha pensado em estar acima das humanas contingências desse árido
mundo do coronavírus.
Em toda a panóplia de suas
aparições públicas, no palco da extrema exposição presidencial, havia um
segredo guardado a sete chaves, vale dizer, o mito da sua incolumidade,
narrativa essa que ele pensaria transmutar em força especial.
Pois ele não chamara à toa de gripezinha este flagelo, que hoje
macabramente se aproxima dos setenta mil mortos - estamos na tabela do consórcio
de órgãos de imprensa - como se lograsse apequená-la e em a menosprezando,
mostraria ao mundo brasileiro que o Super-Bolsonaro crescia diante desse fantasma
para tanta gente, seja infectada, seja não, e assim melhor afirmasse a
respectiva dominação?
Pois a sua presença, ignorando
as mais das vezes a máscara protetora já não constituia a sua própria afirmação
diante de um contágio que, sabe-se lá por quê, ele acreditava impossível, e que
cuidava sempre no próprio gestual de contrariar e, mesmo, de afrontar, como se
fora o toureiro que dá as costas ao touro?
O gérmen do fracasso de uma
estratégia se acha na própria húbris, na falsa sensação de poder inconteste que
essa sensação transmite. Creio que foi a Folha que passou em revista as últimas
jornadas do Presidente antes de cair sob o contágio, que hoje já atinge a um
milhão e setecentos e dezesseis mil, e cento e noventa e seis brasileiros.
É um número decerto grande
e tem dentro dele muito de desrespeito às regras do necessário isolamento. A assertiva do presidente como o anti-Covid,
atitude essa que não trazia consigo uma postura de respeito à ciência e às
necessárias precauções de isolamento que
essa situação determinava. Bolsonaro
pensava poder diminuir o vírus, enquanto a sua atitude encarnava a postura
negativa de menosprezo ao novo coronavírus.
A sua imprudência em
tornar o "desafio" demasiado insistente e aberto cuidou de ser
instrumental no próprio desmonte dessa atitude, que ao ver-se negada por um
contágio inesperado, tratou de correr para o Hospital das Forças Armadas.
O ferrabrás estava
nu.
Seria de desejar
que essa peripécia humanize o personagem. Dada a sua condição, ele pode reagir
diante desse desafio de uma forma pró-ativa, cuidando de colaborar na campanha
contra o flagelo. Se o vestirem os panos de uma nova postura, em que se assume
a necessidade de liderar a campanha contra a pandemia, e através disso a
convicção de que não será um mero combatente a mais, porém alguém capaz de
reconhecer os próprios erros e a necessidade de, através da enfermidade, ganhar
um novo pró-ativismo, que não desdenha a
luta, e, por conseguinte a oportunidade de aglutinar forças para enfrentar, agora já marcado pela
adversidade, na melhor maneira de
assumir o bom combate, que é o de arrostar tal flagelo, de uma postura
presidencial de liderança e de consequente firmeza.
(
Fontes: O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário