Tem-se
a impressão de que se está vivendo em outra realidade, mas rapidamente se
assistimos ao programa televisivo dedicado ao que está sucedendo no mundo lá
fora, nos damos conta da superposição de dois mundos.
Enquanto o mundo hospitalar se vê a braços com os leitos de UTI esgotados - e tornando-se quase comuns
as histórias sobre pacientes que esperaram em vão pela vaga desses leitos ditos
milagrosos, que ao contrário das UPAs, têm a promessa da vida para os doentes
graves - a cobertura pela tv nos mostra também uma outra realidade que esquizofrênicamente
teima em forçar barreiras.
Com efeito, por toda a parte, seja no Nordeste (Natal e outros locais),
seja no Rio de Janeiro e São Paulo, de um lado aumentam os episódios das vãs
esperas por leitos de UTI a que, em
muitos, demasiados casos, intervém a interrupção brutal ditada pela morte, eis
que a cama salvadora deixa de aparecer, e por outro lado, a insana flexibilização joga mais gente
nas ruas, como se todos pensassem que se as Prefeituras abrem as cancelas para
a normalização da vida, onde encontrá-la, se, por todo lugar, excluída a redentora
autorização judicial para um leito de UTI
in extremis, o destino dos pacientes parece votado à vã espera de
alguma UTI salvadora, que pode ou não
- seja por decisão judicial, ou eventual ato misericordioso de algum hospital -
repontar no horizonte, com a sua promessa de salvação na vigésima quinta hora.
Pelo geral e aparente desarvoramento das
instâncias hospitalares, e da saúde pública, em geral, nos é dado visualizar um espetáculo
surrealista. O poder público, diante da
total omissão do poder executivo presidencial, que soberano paira, mas não
exerce governança no que tange à brutal realidade da Covid-19, os cidadãos
brasileiros se acham em um estranho, mas bem real desfiladeiro. Enquanto
prefeitos e governa-dores flexibilizam
as atividades comerciais de todo gênero, e como se estivessem na alvorada de
uma nova realidade, jogam mais gente nas ruas, como se o mundo do comércio, do
transporte e da alimentação se estivesse abrindo sob as feéricas luzes de
risonha e benfazeja normalidade.
O Poder Público age como se tal normalidade estivesse logo ali, acenando
sorridente para o Povo sedento da vida de todos os dias. Irresponsavelmente,
não se dá atenção às precauções necessárias, e se atrai, aos montões, a gente para
as ruas. Como a epidemia prossegue por seus caminhos próprios, assistimos a uma
dupla renúncia: a dos governantes que, a despeito da gravidade das ameaças,
participam alacremente da chamada flexibilização, enquanto o povão, na sua
maior parte ignaro da realidade circundante e dos perigos trazidos pela
escondida Covid em termos dos horrores do contágio epidêmico, acorre tanto para
o comércio, shoppings, restaurantes e tudo o mais que possa acenar-lhe com a
suposta reconquista da normalidade, sedento que está de tudo que rescenda ou
aparente a antiga normalidade. com que ora lhe acena aquela ânsia incontida de
volta à vidinha normal de todos os dias..
Esquecem muitos e outros optam por não dizê-lo, que o espaço público,
nessa fase da epidemia é uma terrível ameaça, que ao invés da distração e da
suposta volta à vida afinal normalizada, pode constituir a tragédia de uma nova
Lombardia, dentro da cruel rotina da Covid 19, a que se levianamente ou,mesmo,
tolamente, pela própria ignorância, seja induzida, seja não, se caminha para
outro pico epidêmico.
Os nossos governantes, seja Presidente, seja Governadores e Prefeitos
têm de se capacitar dos perigos que o Brasil ora atravessa. Se não lhes falta o
conhecimento da realidade e dos horrendos desafios que pode significar
desrespeitar as barreiras ditadas pelas forças inerciais de uma epidemia que
longe está de encontrar-se controlada, e que ao invés pode preparar mais um sinistro
bote contra o ignaro povão, se não forem tomadas as necessárias medidas
que a comezinha prudência recomenda. Não se pode dar alento ao canto das
sereias, para quem tudo parece fácil, ainda que estejamos à beira de um
desfiladeiro, e se desrespeitarmos tudo que tem a ver com a elementar
prudência, estaremos preparando, seja qual for o motivo, se a imprudência ou a
insensatez, a outra calamidade, que o futuro chamará, com a sua indiferença, de
tragédia disto ou daquilo, como se um
sopro de mínima prudência gritaria Basta!, e provemos seja por uma vez que
somos um Povo - eis que nos agarramos ao bom senso e aos bons conselhos - a
encenar grandes calamidades, ao acordarmos na vigésima-quinta hora para o bom
senso. Pois, minha gente, ao invés de tempo de festa, estamos na hora do Lock
Down !
( Fontes: Jornais, TV Globo e realidade ambiente !)
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