É difícil recorrer a
sistemas de caráter provisório para resolver problemas de natureza permanente.
O Governo Bolsonaro é um exemplo dessa alegada resposta que costuma correr para
o guarda-roupa, sempre que algum problema mais sério se configure no horizonte.
O presidente, fraco politicamente,
pensou encontrar solução para os
desafios que lhe surgissem nas curvas do caminho através do recurso sistemático
a instituição de índole perene, no caso
as Forças Armadas.
A história do Brasil mostra que não
temos uma tradição democrática de longo fôlego. Para dar um mero exemplo, no
século XIX, o nosso velho Imperador, ao cabo de longo reino, foi
contraditoriamente derrubado por um cuartelazo,
encabeçado por marechal que para tanto cavalgara sob a ordem perfilada e unida
de um batalhão, em evento programado para decretar a queda da monarquia, a
ponto de haver suscitado lúcidos juízos que bastara um pronunciamiento para derribar a solitária
república de Latino America.
A provocação de um Ministro do
Supremo Tribunal Federal foi bater à porta do recurso habitual de um presidente
politicamente fraco, que cuidara de vestir com militares o próprio governo.
Sabemos os brasileiros, por problemas passados, que é expediente de vida potencialmente
curta vestir os respectivos postos ministeriais com chamadas demasiado intensas
a integrantes das Forças Armadas. Tampouco é segredo de Polichinelo que esteja
atualmente no Alvorada um presidente politicamente fraco
Temos
agora o problema colocado pelo Ministério da Saúde. O presidente Jair Bolsonaro
pensa resolver a sua fraqueza política com saques repetidos do celeiro das
Forças Armadas. Com a saída do ministro Mandetta - que fora exonerado da Saúde
sob falsos pressupostos - foi chamado
como sucessor o Ministro Teich, de resto
tampouco foi exitoso, e a cuja saída se seguiu o procedimento de
recorrer às Forças Armadas, que é a saída preferida pelo presidente Bolsonaro.
A "solução" provisória - chamar um general como interino para Pasta importante, que tem pela frente a
solução de problema complexo, de
natureza médica - não pode ser, portanto, considerada como permanente.
Daí, a crítica feita pelo
Ministro Gilmar Mendes, que terá carregado nas tintas como se fora genocídio a
não-solução do problema de parte do presidente Bolsonaro. O caso de saúde é
típico daquele erro inicial - exonerar Mandetta por ter uma visão demasiado
pró-ativa da missão daquela Pasta. Para muitos, tal seria uma qualidade, mas
para o inseguro presidente, tal constitui um defeito, que implicaria em recurso
às Forças Armadas.
Não estamos em regime
militar, mas ao servir-se de modo intenso dos aportes do Exército, o presidente
Jair Bolsonaro atua como alguém que bata à porta das Forças Armadas quando
confrontado com os mais diversos desafios. Com isso, Sua Excelência traz para o
seio do governo uma mentalidade verde-oliva, com a tendência (um verdadeiro
auto-reflexo) de interpretar como injúrias à instituição-mor quaisquer intentos
que sejam passíveis debaixo desta lupa de serem configurados como tal às
próprias Forças Armadas, quando, na verdade, tais críticas são apenas dirigidas
a eventuais integrantes do gabinete de Bolsonaro, e não a reificações deste ou
daquele problema determinado.
Dessarte, trazer as Forças
Armadas como se fossem reificação de exposição a um problema, não passa de estratagema
de oficiais-militares, colocados em altos postos de governo civil, que vêem
ofensas e contumélias que atingem à instituição, e portanto implicam na solução
mágica de atalhar um suposto desafio, ao trazê-lo para o seio das Forças
Armadas, e dessarte, ao pôr abstrações em risco, os eventuais ameaçados estão,
na verdade, a valer-se de arma institucional que generaliza a ofensa em
apreço. Em outras palavras, seria uma
espécie de shazam, que reduz a cinzas aquelas intervenções havidas como
ataques, como no exemplo em tela.
( Fontes:
Folha de S. Paulo, O Globo )
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