terça-feira, 31 de julho de 2018

Política e nomeações judiciais


                                     
        Embora não devesse aí estar, o título do blog hodierno - que se inspira em editorial do Times - reflete o pensamento segundo a realidade americana. Nesse sentido, o Senado, ao examinar a qualidade dos candidatos partidários aos postos judiciais - seja na Corte Suprema, seja nas cortes inferiores - tem necessariamente presente a sua própria maioria, se democrática, se republicana, e os respectivos fins políticos.
          Dessarte, não é a qualidade do candidato ao posto judicial que interessa aos dois Partidos, embora tal característica esteja mais presente com as indicações de democratas. Sem embargo, o Presidente Obama, ao dispor dessa imprevista vaga na Corte Suprema, em função da súbita morte de um juiz - Antonin Scalia - não pôde ou não quis valer-se  dessa oportunidade que lhe seria acintosamente 'cerrada' pelo Líder republicano da então maioria no Senado, Mitch McConnell.
         Nessa altura, nos vem à lembrança a frase imortal de Georges Buffon no seu discurso de recepção perante a Academia Francesa - o estilo é o próprio homem.                          
         Estarrece ao observador  que  Obama tenha realizado apenas uma parte do dever que tinha pela frente. O então presidente terá ultimado a parte que para muitos seria a mais difícil: escolher alguém que estivesse à altura não de Scalia, expoente ultra-conservador, mas do pensamento liberal que caracteriza um mandatário democrata da linhagem universitária de Barack H. Obama. Reporto-me ao grande nome que indicou em vão,  o juiz Merrick Garland.
          Sem dar-se conta, ele inconscientemente jogou o jogo do medíocre republicano Mitch McConnell. A desfaçatez do líder da maioria republicana deveria ser enfrentada com energia e debate nacional sobre a arrogante postura dos republicanos de decidirem esperar por mais um ano, não porque a proposta de Obama não correspondesse à expectativa, mas pela simples razão de que o GOP queria avocar-se aquela vaga no Supremo, e tanto pior que devessem aguardar um ano para que os republicanos tivessem uma segunda chance de garantir alguém que fosse medíocre bastante para garantir-lhes mais aquele posto na cimeira da escala judicial.
           Obama, o professor em Harvard, que acredita em barretadas aos republicanos - e tenhamos presente a vazia, quase estulta, nomeação de republicano como James Comey, para Diretor do FBI, que, mais tarde, além de agir de forma grosseira com a candidata Hillary Clinton, ainda ao cabo faria a irresponsável comunicação ao Congresso sobre suposta prometida surpresa no computador do marido separado de Huma Abedin, que no seu entender poderia reservar novidades sobre a infeliz questão dos possíveis (mas inexistentes) escândalos que encerraria o tal canal privado de computador público da pobre Hillary !
         O silêncio, às vezes pode ser de ouro, mas em outras, em um Departamento de Justiça que se omitiu, enquanto republicanos se aproveitaram com falsas notícias sobre a candidata democrata, tal silêncio ou tal falta de ação, como no caso de uma estupenda indicação para a Corte Suprema, o Senhor a deixou mirrar na soleira do escritório do Senador pelo Tennessee, Mitch McConnell, mostrando um respeito exagerado a pessoas que descumpriam com arrogância mesmo a atender o dever, na verdade uma obrigação democrática, que nada tem a ver com a ciosa guarda de um poleiro para alguma mediocridade que reserve aos Estados Unidos um eventual presidente republicano.
          Os frutos, sejam verdes, maduros ou podres, dependem das árvores que lhes trazem à luz do sol.
           Aos medíocres, indecisos ou temerosos, o futuro e, por conseguinte, a História costuma ser impiedosa. Mas esse mal não parece haver incomodado a Barack Obama.
           A sorte, que por vezes exagera nas injustiças, nos propicia como dúbia dádiva,  pessoa que hoje paira pateticamente em quase policial planetário.   E logo ele que de tanto repisar - repetindo, no estilo das mil mentiras de Goebbells  a sórdida potoca  de crooked Hillary  -  hoje surge, nos jardins da Casa Branca a nos apresentar o seu pirandellico assim é se  lhe parece, e que tudo vá para o inferno, em mundo de Roberto Carlos que os americanos talvez ainda ignorem... mas, creio eu, não o será por muito.

( Fontes:  The New York Times, The New York Review, Georges Buffon,  Luigi Pirandello, Noah Feldman )

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