Por
que a impunidade é tão comum na Justiça brasileira? Nos megacídios como o da
vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, mais do que espanta,
na verdade estarrece que a necessidade de que se faça justiça não se sinta nas
investigações e no processo.
Como não é o primeiro exemplo, desperta consternação e, particularmente vergonha que num crime como o que ceifou
Marielle e o motorista Anderson, as investigações se arrastem com uma lerdeza
que vai chegando ao deboche e, mesmo ao desplante da desmoralização.
Por isso, os pais da vítima dizem
temer que o crime do Estácio, cometido a catorze de março p.p. se encaminhe
para a impunidade.
Marinete e Antonio Francisco da
Silva Neto assinalam recear que o crime de catorze de março fique impune:
"A gente está chegando a quatro meses com essa incerteza, com essa
indefinição. É um projeto que foi ceifado de uma maneira brutal. É bem difícil
ainda continuar sem resposta. Me parece estar chegando a um ponto de impunidade
- disse Marinete, lembrado que a filha faria trinta e nove anos no próximo dia
27."
Por sua vez, a companheira de
Marielle, Moníca Benício, usou ontem as redes sociais para cobrar o resultado
das investigações da polícia, assim como para fazer um desabafo: "120
dias chorando ao dormir e ao acordar,
quando sinto o lado direito da cama vazio".
A Anístia Internacional defendeu mais uma vez a necessidade de
instalar um mecanismo independente e externo de acompanhamento das
investigações.
Grita aos céus que aconteça no
Brasil e, em especial no Rio de Janeiro, que uma representante como Marielle
Franco seja submetida a esse processo de aparente imersão no rio do Lethes (esquecimento), em que após as
usuais tonitruantes promessas de Justiça (a com jota maiúsculo) cessem nas
declarações das autoridades competentes, enquanto se orquestra, em salas
discretas, o processo de um criminoso olvido, em que se vai implantando, como
se nada fora, a tenebrosa conspirata do silêncio.
Serão a cultura carioca , quiçá a brasileira
tão cínicas, capazes de montar esse circo da hipocrisia e da
desfaçatez, que acha mais oportuno encobrir do que escavar na terra ainda solta
que recobre esse ato vergonhoso ?
Toda vítima que - como
Marielle e Anderson - caíram por uma vil conspirata a que não ousam desvelar a
horrenda carantonha, pode sentir-se duplamente abatida: não só pelos torpes assassinos, senão pela
malta que hoje os protege, inviabilizando a ânsia de Justiça.
Que país é este, e que
terra é esta, onde se debocha da Justiça, primeiro ao encená-la, e mais tarde ao
enterrá-la, como se fora um monturo a que se tem pressa de ocultar?
Terra que não condena os
próprios criminosos, e ao encenar as investigações e interrogatórios, a que
Poder pensa estar homenageando?
Em que nível estamos e
aonde vamos, ó gente do Rio de Janeiro?
(
Fonte: O Globo )
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